29.7.05

Entre o Visível e o Invisível

As realidades visíveis causam dor e sofrimento; no entanto, são realidades invisíveis como a ressurreição e a vida eterna que fortalecem nossos passos
Diariamente os jornais, telejornais, revistas e conversas com amigos nos inundam de informações sobre as realidades do mundo. Estas leituras e conversas geralmente giram em torno das crises pessoais e familiares, econômicas e políticas. Fazem parte da pauta de nossos assuntos preferidos as guerras, a violência urbana, a corrupção política, as injustiças sociais, as crises familiares e o medo do desemprego. São temas bem reais, visíveis - estão aí, diante de nós, todos os dias. Não podemos fugir deles.
Estas realidades visíveis determinam não apenas a agenda das conversas, mas também a agenda emocional. Elas criam o medo, a ansiedade, tornam-nos mais apreensivos, confusos e assustados. Nunca a humanidade sentiu tanto medo como hoje. É o medo da enfermidade incurável, da guerra bacteriológica, do colapso econômico, do desemprego. Este medo é proporcional ao volume de informações que recebemos. Para muitos, o mundo deixou de ser um lugar tranquilo para se viver. A plataforma que nos ajuda a enxergar e compreender o mundo são as notícias e as conversas derivadas delas. As notícias mostram o cenário visível, real, onde todos nós vivemos. Um cenário assustador e sombrio.
O apóstolo Paulo, distante de nós quase vinte séculos, também viveu num cenário semelhante. Certamente não haviam tantas informações como temos hoje, mas a sensação de vulnerabilidade e fragilidade pessoal diante das grandes ameaças era tão intenso quanto hoje. Ele mesmo descreve que sentia-se pressionado, perplexo, perseguido e abatido. Não havia segurança nem certezas. Encontrava-se física e emocionalmente no limite da sua resistência. No entanto, embora as realidades visíveis provocassem nele toda sorte de perplexidade e abatimento, ele reage não se deixando contaminar pelo desânimo, pelo desespero ou pela sensação do abandono.
A reação de Paulo às realidades visíveis, resistindo às suas pressões e seu poder, foi construída por outras realidades menos visíveis, algumas completamente invisíveis. A leitura do mundo para Paulo não era determinada apenas pelas notícias dos jornais do dia, mas, sobretudo, pelas ações não noticiadas do soberano Deus.
Paulo diz que "mesmo que o homem exterior se corrompa, o homem interior se renova de dia em dia". O homem exterior, o corpo, o esgotamento físico, as marcas do sofrimento e da dor, é visível. Pode-se perceber sem muito esforço o desgaste externo. Este desgaste é o resultado das perplexidades, perseguições e abatimentos causados pelas crises relacionais, pelas injustiças sociais, pelas corrupções da política e pela desordem econômica. As realidades visíveis causam dor e sofrimento, abatem o corpo e minam nossas resistências.
Mas há uma realidade interior, não visível, que nos renova de dia em dia. Uma realidade que resiste às pressões, que não se deixa desanimar diante das perplexidades, que nos faz sentir amparados e acolhidos diante das perseguições e tribulações. São realidades não noticiadas, nunca aparecem nas manchetes, não aumentam a audiência da TV nem a tiragem dos jornais. São realidades que tornam, na linguagem quase irônica de Paulo, "nossa leve e momentânea tribulação" em "eterno peso de glória, acima de toda a comparação".
É por causa destas realidades invisíveis que Paulo afirma que não desanima. São realidades que nos permitem caminhar e sonhar a despeito daquilo que acontece a nossa volta e que corrompe nosso físico e consome nossas energias. O profeta Isaías, alguns séculos antes de Paulo, diante da perplexidade do seu povo ao achar que Deus os havia abandonado e que não se importava mais pelo que acontecia com eles e nem pelas injustiças que estavam sofrendo, responde dizendo: "Será que vocês não sabem? Nunca ouviram falar? O Senhor é o Deus eterno, o Criador de toda a terra. Ele não se cansa nem fica exausto; sua sabedoria é insondável. Ele fortalece o cansado e dá grande vigor ao que está sem forças. Até os jovens se cansam e ficam exaustos, e os moços tropeçam e caem; mas aqueles que esperam no Senhor renovam suas forças. Voam alto como águias; correm e não ficam exaustos, andam e não se cansam".
Havia uma outra realidade maior e mais definidora do que aquela que estavam acostumados a ver, uma realidade invisível, determinada por um Deus eterno, que dava a todos os que criam nela um ânimo e uma disposição que ninguém conseguia compreender.
Para Paulo, havia também uma realidade invisível que dominava sua vida. Ele afirma que "fixava seus olhos, não naquilo que se via, mas naquilo que não se via, pois tudo o que se via era transitório, mas o que se não via, era eterno". Seus olhos estavam postos na ressurreição, na realidade invisível da vida eterna. A plataforma sob a qual Paulo contemplava o mundo era a plataforma das realidades eternas e invisíveis, daquilo que só podia ser visto e percebido com os olhos da fé.
Os jornais ou a TV não vão colocar em suas manchetes nenhuma nota sobre o poder da ressurreição ou a maquete da nossa casa eterna nos céus. Eles não se preocupam com o tribunal de Cristo diante do qual todos nós um dia estaremos, nem noticiam as boas obras praticadas em nome e por amor a Cristo. No entanto, são estas realidades invisíveis que renovam o homem interior, que fortalecem nossos passos, que nos dão asas para voar como as águias e que nos preservam animados e dispostos num mundo dominado pelas notícias e conversas que deprimem e corrompem.
Rev. Ricardo Barbosa

Deus é Fiel a Si mesmo

A causa de Deus nunca corre perigo; o que ele começou na alma ou no mundo, levará até o fim"(Warfield)

28.7.05

Ser Mãe na perspectiva de um pai

Se há algo que nós homens nunca iremos saber e experimentar é o que significa carregar e gerar um ser humano. Sentir no corpo e na alma, esse milagre da gestação e parto. Naquelas 40 semanas, muitas coisas acontecem, desde a primeira reação, que nós homens não sentimos, mas ansiamos perscrutar. À medida que o tempo corre, a barriga da futura mãe, vai crescendo e com ela as nossas expectativas, se é menino ou menina, se é mais parecido com pai ou com a mãe - como será?. Sempre dizemos que queremos que seja igual à mãe, isto é, se for menina, claro, no entanto gostaríamos que fosse mais parecido connosco, naquela parte de que gostamos em nós. Já aqueles aspectos, que ainda não aceitamos em nós, pedimos aos céus, que o nosso bebê não herde. Mas na maioria das vezes, o que acontece é que são esses sinais que detestamos, que iremos ver em nosso brotinho. Aceitamo-los, pois é o nosso bebê. Acabamos por aprender aceitá-los em nós também, na verdade isso faz parte do milagre do nascimento. A vida muda, os ideais já não são os mesmos, deixamos de ser o centro, o alvo das atenções e passamos a perceber os outros melhores. A mãe é diferente, dedica-se o dia todo no preparo das roupinhas e enxoval, imaginando, o rostinho e corpinho envolto naquelas "coisas pequenas" e delicadas, que tomam conta do guarda roupa, que era do pai e da mãe. As contrações e má disposição muitas vezes são omitidas, para não nos preocupar, afinal, nós somos homens - essa missão não é nossa. Infelizmente nunca saberemos avaliar correctamente essa relação de mãe e feto, de partilhar o mesmo ar, da mesma comida, das mesmas tristezas e alegrias.Viva a Mãe...

27.7.05

A Oração e a Soberania de Deus


Jesus, explicando a importância da oração, afirmou o seguinte: "Não vos assemelheis, pois, a eles [referindo-se aos gentios que presumiam que, pelo muito falar, seriam ouvidos]; porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade antes que lho peçais" (Mateus 6.8). Essa afirmação de Jesus sempre me intrigou muito. Se Deus sabe o que preciso, se conhece todas as minhas necessidades, por que então devo orar? Qual a finalidade da oração se Deus, antes mesmo que eu lhe apresente qualquer pedido, já sabe o que de fato necessito?
Acredito que, para entender melhor o que Jesus está dizendo, devemos mudar primeiro nosso conceito e percepção da oração. Para muitos, a oração é um instrumento que Deus coloca à nossa disposição para fazermos as coisas acontecerem. Estas coisas podem ser desde grandes milagres até uma forcinha para passar na prova (o que, em alguns casos, não deixa de ser milagre). A imagem que temos é a de que Deus fica dando sopa por aí com seu poder, e a oração é o recurso de que dispomos para ativar essa inesgotável fonte de bênçãos. Precisamos aprender a tirar o máximo de Deus e usufruir daquilo que Ele pode nos dar. Para isso, oramos, insistimos, suplicamos, jejuamos para fazer com que Deus saiba o que queremos e seja, de certa forma, convencido a fazer o que julgamos correto.
Diante dessa imagem, ouvimos Jesus afirmar: "Eu conheço as necessidades de vocês antes mesmo que supliquem por elas." Se Ele sabe, por que então devo suplicar? Por que Ele não resolve de vez me dar aquilo de que necessito sem que eu tenha que pedir? Será que Deus e um desses pais sádicos que não soltam a grana enquanto não vêem seus filhos humilhados e convencidos do seu grande poder?
Relacionamento Pessoal
O que um pai mais gostaria de ouvir de seus filhos? Eu tenho dois. Para mim – embora eu seja bastante limitado em minhas percepções -, não é muito difícil saber o que eles necessitam. Principalmente, quando se trata de coisas materiais. Como pai, não lhes nego tudo aquilo que é possível e que julgo necessário para o seu desenvolvimento físico, mental, social, e espiritual. No entanto, o que eu mais gostaria de ver neles – e estou certo de que é também o que eles mais procuram em mim, embora nem sempre demonstremos isto – é uma relação pessoal de amizade, amor, respeito e aceitação. Se nós, que somos pais, sabemos do que nossos filhos necessitam e temos o maior prazer em atender, nosso Pai celeste com toda a certeza também sabe o que precisamos, o que é melhor para nós, e tem muito mais prazer em responder aos anseios dos seus filhos.
Mas o que o Pai do céu busca são filhos que o procuram, não pelo que Ele pode e tem para oferecer, mas por quem Ele é e pelo prazer de estarem com Ele em comunhão e amizade. Deus sabe o que necessitamos. Se nós o conhecemos como um Pai que nos ama e que se preocupa com cada detalhe da nossa vida, sabemos que podemos descansar em seu amor e providência, e, conseqüentemente, aquilo que necessitamos deixa de ocupar o primeiro lugar na agenda dos nossos encontros e conversas com Deus. Como pai, o que mais gostaria de ouvir dos meus filhos não é a lista de itens que precisam – muitos deles legítimos, outros nem tanto, e, quem sabe, a maioria absolutamente supérflua – mas de estar com eles, poder amá-los e ser amado, gozar de uma amizade intensa, íntima e pessoal.
Quando Jesus afirma que o nosso Pai sabe o que necessitamos, Ele muda radicalmente todo o conceito utilitário que temos da oração. Ele demonstra, com tais palavras, que nossas necessidades fazem parte da agenda e cuidado de Deus antes mesmo que tenhamos consciência delas. Jesus aponta para um novo modelo de relação a partir da oração. A pauta das nossas orações não somos mais nós e nossas necessidades, mas Deus e nossa comunhão com Ele. Oramos, não para reivindicar nossas necessidades, mas para demonstrar amor e afeto por nosso Pai.
Vãs Repetições
Censurando a forma como os gentios e hipócritas oravam, Jesus disse: "Orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que, pelo seu muito falar, serão ouvidos." O problema das repetições não está na nossa necessidade de suplicar e até mesmo insistir por nossas necessidades diante de Deus, mas no conceito falso de que é a nossa insistência que abre os ouvidos de Deus. Quando agimos assim, colocamos na oração um poder que não lhe pertence. Achamos que é a repetição que torna a súplica favorável diante de Deus, e não a mediação soberana de Jesus Cristo.
O povo insistiu para ter um rei e Deus lhes deu Saul. No entanto, esta insistência os levou a trocar o governo justo de Deus por um governo humano limitado, frágil e injusto. A insistência fez com que rompessem as relações pessoais que haviam sido construídas pela aliança que Deus havia estabelecido por uma relação institucional e impessoal com o imperador. Quando substituímos Deus, com seu imenso amor e cuidado paterno, pela insistência vã e repetitiva, transformamos a oração num fim e Deus apenas no meio para alcançarmos o que a nossa vaidade busca. Deus, e somente Deus, é o motivo e a razão da nossa oração.
Talvez o que nós mais necessitemos seja redescobrir Deus como nosso Pai. Não na perspectiva das lembranças e memórias que temos dos nossos pais, mas a partir da relação que o próprio Filho Jesus teve com o Pai. É ele quem nos revela o Pai com seu cuidado amoroso e terno. Jesus mesmo nunca precisou usar o recurso das vãs repetições para conseguir qualquer vantagem, mas sempre se ofereceu em completa obediência e temor ao Pai, na certeza de guia-los pelos caminhos que determinou.
Orar é entrar nesta relação única que Jesus, o Filho, nutriu com o Pai. Buscar a vontade do Pai, oferecendo-nos em submissão e obediência para que Ele seja o princípio e o fim de toda a nossa existência. Deus sabe o que necessitamos. Basta reconhece-lo como Pai para termos certeza disso. A oração não existe para informar a Deus o que Ele já sabe a respeito de nossas necessidades, mas para gozar da alegria de experimentar sua vontade justa e soberana; e, no mais, as outras coisas nos serão acrescentadas.
Fonte: VINDE, a revista gospel do BrasilAno 1 – No. 12 – Outubro/1996Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília.

25.7.05

Se liga meu irmão

Temos de compartilhar liberalmente e agradavelmente todos e cada um dos favores do Senhor com os demais, pois isto é a única coisa que os legitima.(João Calvino)

Culto solene de Posse

As fotos abaixo referem-se à cerimónia da minha posse do pastorado da IEC de Passa Três. O Rev. Elhiabe trouxe-nos a mensagem. O coral de Angra cantou. O acto de posse foi realizado pelo Rev. Gerson (presidente da 39º Região administrativa da UIECB). O vice-presidente da UIECB representou a Junta Geral, deixando-nos palavras de incentivo e apoio. O Rev. Hélio Martins dirigiu o culto solene até ao acto de posse. A igreja estava completamente cheia. No final houve convívio no salão social e comida com fartura ( e que bolo!) - teve que ser transportado de caminhão. Logo que a nossa filha nascer, mudaremos para a casa pastoral da igreja. A Deus toda a Honra, Glória e Majestade.

Coral da IEC Angra dos Reis

Igreja Cheia

Mocidade da IEC de Passa Três

Início do Culto Solene de Posse

Palavras de Estímulo

Imposição de Mãos e Oração

Encorajamento do Vice-Presidente da UIECB

O bolo da festa

Nós e o pregador da noite Rev.Elhiabe

Os pastores convidados e oficiais da igreja

O pastor e os oficiais da IEC de Passa Três

21.7.05

Calvinofobia

Há milhares de evangélicos que preferem ouvir o nome do diabo, mas fogem do nome de Calvino. Não estão fugindo por medo do “fantasma” de João Calvino, o grande reformador de Genebra do século XVI, mas por fobia do calvinismo (como sistema doutrinário). A palavra “calvininismo” arrepia e dá um gelo na espinha de muitos pastores. O que podemos dizer a esses calvinofóbicos? J. I. Packer foi bem enfático nesse aspecto, e não poderia ser mais verdadeiro em suas palavras:
Pouco importa se nos chamamos calvinistas ou não; o que importa é que compreendamos biblicamente o evangelho. Mas, isso, conforme pensamos, na realidade significa compreendê-lo conforme o tem feito o calvinismo histórico”.
Muita gente tem medo do calvinismo (e até síndrome do pânico) porque este sistema não prega o sentimentalismo barato e apelos sentimentais aos não-convertidos. “O Salvador digno de dó e o Deus patético dos púlpitos modernos eram desconhecidos no antigo evangelho” (Packer). O calvinismo prega que as pessoas precisam de Deus, e não que Deus precisa delas!
A pregação calvinista (ou reformada) não exorta as ouvintes a terem compaixão de Cristo. Antes, pelo contrário, Cristo é quem exerce misericórdia – embora a misericórdia seja a última coisa que os pecadores mereçam. - O calvinismo prega a majestade de Deus e Seu poder soberano, e quando faz isso, os não-convertidos fogem com medo e repúdio.
O calvinismo prega o evangelho da graça soberana de Deus, em Cristo, como o autor e consumador da fé e da salvação. E muitos sentem aversão ou medo doentio dessa pregação bíblica. Os calvinofóbicos são como aqueles que foram citados em João 8.43-47:
Qual a razão por que não compreendeis a minha linguagem? É porque sois incapazes de ouvir a minha palavra. Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira. Mas, porque eu digo a verdade, não me credes. Quem dentre vós me convence de pecado? Se vos digo a verdade, por que razão não me credes? Quem é de Deus ouve as palavras de Deus; por isso, não me dais ouvidos, porque não sois de Deus.

Raniere Menezes

Te liga meu irmão

Qualquer habilidade que um fiel cristão tenha, deve dedicá-la ao serviço de seus companheiros crentes.(João Calvino)

Tentativas

O sentimento geral é de uma comunidade superficial que não aprendeu amar porque tem medo. Os caminhos da vida cristã e de espiritualidade são carreiros ( trilhos) de aceitação de auto-negação de amizade profundamente sentida. Quando o Senhor chamou o apóstolo Pedro para o ministério não lhe perguntou o quanto conhecia sobre Deus, nem mesmo sobre as experiências espirituais que tinha tido, mas se ele o amava (Cf Jo21.15-17). Era o afecto de Pedro que interessava a Jesus. Isto não significa que o conhecimento ou a experiência são irrelevantes; mas se estes não são traduzidos em afectos, se não atingem o coração, transformamo-nos em presas fáceis para as apostas do diabo ( ler Jó cap. 1 e 2). "Amar a Deus de todo o coração, alma, e forças, e ao próximo como a si mesmo", constitui nas palavras de Jesus, o cumprimento da lei e dos profetas. É este amor que nasce do coração, que determina os segredos do nosso relacionamento com Deus. A partir do momento que o homem for capaz de adorar e servir a Deus por nada, simplesmente porque Deus é Deus e não porque o cobre de benefícios - ele encontra o sentido maior da sua devoção, o centro de sua espiritualidade, o coração como fonte dos afectos mais puros e genuínos da alma humana

20.7.05

Te liga meu irmão

Quando a Palavra de Deus converte um homem, tira dele o desespero, mas não a capacidade de arrepender-se"(Charles H. Spurgeon)

O que é o Projeto Nilson Braga?

Projeto "Nilson Braga" nasceu no Coração do Pr. Nilson Ferreira Braga e que, em 1999, nos corredores da 45ª Assembléia Geral da UIECB, conclamava o nosso povo para um projeto, na época chamado de "Férias para Jesus" que aconteceria em Terra Nova do Norte - MT. Lamentamos que o Pr. Nilson Braga, tendo tido a visão, o sonho, não viu a sua realização, pois aprove a Deus chamá-lo para a Glória, logo depois daquela Assembléia Geral em um terrível desastre automobilístico. O projeto foi realizado e marcou a vida de muita gente, marcou a nossa Denominação.
De lá para cá, a cada ano, vamos conhecendo um pouco mais do nosso Brasil: Em 2000 fomos para a cidade de Capitão Poço - PA; em 2001 fomos para a fronteira com a Bolívia e trabalhamos em três cidades: Ladário, Corumbá e Puerto Suarez; Em 2002, nós fomos para Jequié na Bahia; em 2003 nosso destino foi o Sul até Viamão - RS. Neste ano de 2004 queremos voltar ao nordeste e glorificar o nome de Jesus na cidade de Santa Cruz de Cabrália - BA
Este Projeto é dedicação em amor ao próximo de todas as pessoas que dele participam. É organizado pelo DEM (Departamento de Evangelização e Missões) da União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil – UIECB, nas férias de julho de cada ano. Reunimos gente de coração dadivoso de todos os lugares do Brasil e até do exterior: Profissionais liberais, autônomos e técnicos, membros das igrejas, entre eles, médicos, assistentes sociais, psicólogos, dentistas, protéticos, enfermeiros, fisioterapeutas, odontólogos, cabeleireiros, cozinheiros, professores, engenheiros, mestre de obras, encanadores, eletricistas, marceneiros, carpinteiros, vidraceiros, pedreiros, serventes, pastores, evangelistas, etc. que doam 10 dias de seu trabalho para atender às populações carentes.
Este trabalho consiste em atendimento médico ambulatorial, farmacêutico, laboratorial, odontológico, aplicação de flúor, palestras médicas, cortes de cabelo, doação de próteses dentárias, distribuição de roupas e calçados; na área espiritual: evangelização de casa em casa, com distribuição de folhetos evangelístico, Bíblias e Novos Testamentos, apresentação de teatro, escola bíblica de férias para crianças e adolescentes, cultos para adoração, louvor a Deus, e exibição do Filme Jesus. Nesta ocasião também construímos um templo na referida cidade.
O Projeto tem como objetivo levar a mensagem do evangelho de Jesus e mostrar o Seu amor de maneira integral, Uma mensagem que atinja o homem no seu social, emocional e espiritual.
(in DEM)

Te liga meu irmão!

Admitir a providência universal e negar a providência especial é incoerência. Seria o mesmo que falar de uma corrente sem elos"(A. A. Hodge)

19.7.05

Alimentando as Ovelhas ou Divertindo os Bodes?


Existe um mal entre os que professam pertencer aos arraiais de Cristo, um mal tão grosseiro em sua imprudência, que a maioria dos que possuem pouca visão espiritual dificilmente deixará de perceber. Durante as últimas décadas, esse mal tem se desenvolvido em proporções anormais. Tem agido como o fermento, até que toda a massa fique levedada. O diabo raramente criou algo mais perspicaz do que sugerir à igreja que sua missão consiste em prover entretenimento para as pessoas, tendo em vista ganhá-las para Cristo. A igreja abandonou a pregação ousada, como a dos puritanos; em seguida, ela gradualmente amenizou seu testemunho; depois, passou a aceitar e justificar as frivolidades que estavam em voga no mundo, e no passo seguinte, começou a tolerá-las em suas fronteiras; agora, a igreja as adotou sob o pretexto de ganhar as multidões.
Minha primeira contenção é esta: as Escrituras não afirmam, em nenhuma de suas passagens, que prover entretenimento para as pessoas é uma função da igreja. Se esta é uma obra cristã, por que o Senhor Jesus não falou sobre ela? “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15) — isso é bastante claro. Se Ele tivesse acrescentado: “E oferecei entretenimento para aqueles que não gostam do evangelho”, assim teria acontecido. No entanto, tais palavras não se encontram na Bíblia. Sequer ocorreram à mente do Senhor Jesus. E mais: “Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres” (Ef 4.11). Onde aparecem nesse versículo os que providenciariam entretenimento? O Espírito Santo silenciou a respeito deles. Os profetas foram perseguidos porque divertiam as pessoas ou porque recusavam-se a fazê-lo? Os concertos de música não têm um rol de mártires.
Novamente, prover entretenimento está em direto antagonismo ao ensino e à vida de Cristo e de seus apóstolos. Qual era a atitude da igreja em relação ao mundo? “Vós sois o sal”, não o “docinho”, algo que o mundo desprezará. Pungente e curta foi a afirmação de nosso Senhor: “Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos” (Lc 9.60). Ele estava falando com terrível seriedade!
Se Cristo houvesse introduzido mais elementos brilhantes e agradáveis em seu ministério, teria sido mais popular em seus resultados, porque seus ensinos eram perscrutadores. Não O vejo dizendo: “Pedro, vá atrás do povo e diga-lhe que teremos um culto diferente amanhã, algo atraente e breve, com pouca pregação. Teremos uma noite agradável para as pessoas. Diga-lhes que com certeza realizaremos esse tipo de culto. Vá logo, Pedro, temos de ganhar as pessoas de alguma maneira!” Jesus teve compaixão dos pecadores, lamentou e chorou por eles, mas nunca procurou diverti-los. Em vão, pesquisaremos as cartas do Novo Testamento a fim de encontrar qualquer indício de um evangelho de entretenimento. A mensagem das cartas é: “Retirai-vos, separai-vos e purificai-vos!” Qualquer coisa que tinha a aparência de brincadeira evidentemente foi deixado fora das cartas. Os apóstolos tinham confiança irrestrita no evangelho e não utilizavam outros instrumentos. Depois que Pedro e João foram encarcerados por pregarem o evangelho, a igreja se reuniu para orar, mas não suplicaram: “Senhor, concede aos teus servos que, por meio do prudente e discriminado uso da recreação legítima, mostremos a essas pessoas quão felizes nós somos”. Eles não pararam de pregar a Cristo, por isso não tinham tempo para arranjar entretenimento para seus ouvintes. Espalhados por causa da perseguição, foram a muitos lugares pregando o evangelho. Eles “transtornaram o mundo”. Essa é a única diferença! Senhor, limpe a igreja de todo o lixo e baboseira que o diabo impôs sobre ela e traga-nos de volta aos métodos dos apóstolos.
Por último, a missão de prover entretenimento falha em conseguir os resultados desejados. Causa danos entre os novos convertidos. Permitam que falem os negligentes e zombadores, que foram alcançados por um evangelho parcial; que falem os cansados e oprimidos que buscaram paz através de um concerto musical. Levante-se e fale o alcoólatra para quem o entretenimento na forma de drama foi um elo no processo de sua conversão! A resposta é óbvia: a missão de prover entretenimento não produz convertidos verdadeiros. A necessidade atual para o ministro do evangelho é uma instrução bíblica fiel, bem como ardente espiritualidade; uma resulta da outra, assim como o fruto procede da raiz. A necessidade de nossa época é a doutrina bíblica, entendida e experimentada de tal modo, que produz devoção verdadeira no íntimo dos convertidos.
Charles H. Spurgeon

18.7.05

Posse do Pastorado

Próximo sábado será realizado o culto solene de posse do pastorado da Igreja Evangélica Congregacional de Passa Três (3º igreja congregacional mais antiga do Brasil). É significativo este momento em que a nossa denominação comemora 150 anos. Estou grato a Deus por esta oportunidade. Certamente Ele me capacitará na condução deste povo. Nada acontece por acaso. O tempo de Deus é o tempo perfeito.
A Deus toda a Glória Honra e Majestade.

Está quase!

Ela chama-se Sofia Maria Marques da Silva. É uma homenagem à minha avó paterna.

Quebrando o Sexto Mandamento

Frequentemente, vemos em nossa igrejas pessoas que ofenderam outras pessoas. Pessoas que "mataram" o irmão com palavras ou com atitudes. Assim, é comum vermos pessoas ofendidas se estranhando, ressentidas, guardando mágoa do irmão ou irmã. O Senhor Jesus ensina a cada um de nós como proceder em caso de nós ofendermos alguém.
Em (Mateus 5:21-26), o Senhor ensina a seus discípulos a proceder em caso de alguém se irar contra o seu irmão, abrigando raiva em seu coração. No caso de alguém insultar seu irmão e chamá-lo de Tolo (Raca em aramaico).
A lei era conhecida pelos discípulos. No entanto aqui o Senhor tem a necessidade de ir mais além, reinterpretando,ou melhor, interpretando correctamente a lei. Aquele que[sem motivo ] se irar contra seu irmão; aquele que insultar seu irmão; aquele que chamar seu irmão de Raca, está sujeito a julgamento de Deus, estará sujeito ao inferno de fogo. Ele está dizendo que: quando eu ofendo o meu irmão eu estou cometendo assassinato, por isso eu estou quebrando o sexto mandamento que diz:"Não matarás". Mas então o que devemos fazer?
O Senhor Jesus diz aos seus discípulos que, quando eles forem sacrificar indo ao altar, levando os seus pecados, eles certamente vão lembrar de que são devedores, e que carecem de perdão de Deus. Ali diante do altar, em primeiro lugar, antes de pedir perdão pelos seus pecados, devem lembrar que ofenderam seu irmão com ira, palavras, gestos. O que é que Jesus diz para fazer? Que essa pessoa ao lembrar que ofendeu outra pessoa, deve ir reconciliar-se com seu irmão e depois voltar, fazendo sua oferta. É mais importante a reconciliação com o irmão do que o culto a Deus.É mais importante a reconciliação do que actos externos de adoração. Porque não faz sentido eu adorar a Deus quando eu estou com raiva de meu irmão. Não faz sentido eu praticar um culto organizado, reverente, inteligente, quando em meu coração eu abrigo sentimentos homicidas. Pois se eu tivesse a certeza que ninguém fosse descobrir, eu mataria, eu derramaria o sangue de meu irmão.
A ênfase aqui dada pelo Senhor é a urgência em reconciliar-se com o irmão,"Entra em acordo sem demora". Então, o que eu devo fazer quando eu ofendo o meu irmão?Devo ir reconciliar-me com ele o mais rápido possível, negociar com ele, isto é, reconhecer o meu erro e dispor-me a compensá-lo de alguma forma a humilhação e vergonha que passou. Devemos agir assim, não somente, porque devemos temer o juízo de Deus, mas, porque é o certo. Que Deus nos incomode ao ponto de procurarmos o irmão ou irmã que ofendemos com palavras, e pedirmos perdão, nos reconciliando com ele e com Deus. Agora sim, estamos prontos para prestar culto a Deus e receber perdão pelas nossas dívidas, pois no altar de Deus há perdão e reconciliação.

Breve Histórico das Origens do Arminianismo


Jacob van Harmazoon (1560-1609), ou como é conhecido por seu nome latinizado Jacobus Arminius, nasceu em Oudewater na Holanda. Primeiro estudou teologia na Universidade Marburg em Leyden (1575-1581), também estudou em Basiléia (1582-1583), e posteriormente na Academia de Genebra na Suíça (1584-1586), onde recebeu aulas do próprio reformador Theodoro Beza, sucessor de João Calvino.
A Igreja Estatal Holandesa havia adotado a doutrina Reformada. Em 1618, endossou como seus Símbolos de Fé: a Confissão Belga e o Catecismo de Heidelberg. Inicialmente foram usados apenas como livros de instrução. Mas ao serem adotados como documentos representantes da fé do Estado Holandês, trouxe muito desconforto para aqueles que advogavam manter a antiga fé Católica, ou, uma postura mais tolerante.
A Holanda por causa do seu desenvolvimento humanista advogava a liberdade de pensamento. Um dos maiores humanistas holandeses no início da Reforma era Desidérius Erasmus (1466-1536), mais conhecido como Erasmo de Rotterdam, que mesmo fazendo duras críticas a Igreja Católica Romana, morreu como seu submisso filho.
Os Países Baixos ainda estavam sendo minados pelo Semipelagianismo. Mas, Arminius foi escolhido pelo Sínodo holandês em 1589, para defender a doutrina oficial da Igreja Reformada Holandesa. Dirk Coornhert que naquele período era o secretário geral dos Estados Gerais, não havia aderido às doutrinas da Reforma. Arminius que era um filho da Igreja Reformada Holandesa foi indicado para se opor aos ataques teológicos semipelagianos de Coornhert. Entretanto, Arminius não foi feliz em sua defesa. A partir desse debate Arminius começou a questionar e nutrir dúvidas acerca do seu Calvinismo.
Durante o pastorado da Igreja Reformada de Amsterdã (1588-1603), Arminius realizou uma exposição na epístola de Romanos analisando os capítulos 7-9. Nestas palestras ele questionou a interpretação calvinista desta passagem, preferindo uma forma de Semipelagianismo modificada, o que veio a chamar-se Arminianismo .
Em 1603, Arminius foi nomeado professor de divindade (teologia sistemática) na Universidade de Leyden. Esta era a mais antiga universidade da Holanda. Sua nomeação ocorreu por basicamente três motivos; primeiro, por causa de sua família, que ocupava uma posição proeminente entre a aristocracia holandesa; segundo, possuía muitos amigos, inclusive membros da igreja de Amsterdã que lhe apoiavam; terceiro, o seu currículo acadêmico era inquestionável. Lecionou ali até a sua morte. Durante esse período letivo, Arminius sistematizou seu pensamento fazendo muitos discípulos e simpatizantes políticos.
Franciscus Gomarus que, primeiramente, foi professor de Arminius, tornou-se seu principal inimigo. Todos os que defendiam a posição calvinista, ficaram conhecidos, naquele período na Holanda, como gomaristas. Gomarus foi uma figura decisiva no Sínodo de Dort, em defesa da opinião calvinista.
A Igreja Oficial Holandesa era confessionalmente calvinista. Os teólogos e partidários de Arminius não admitiam a limitação confessional, e procuravam obter a revisão dos credos oficiais. Isso causou um transtorno de difícil resolução, pois ambos teólogos, tanto Gomarus como Arminius, possuíam influentes simpatizantes na política estatal holandesa.
A República dos Estados Gerais se encontrava perto de uma cisão. Quando a discussão saiu de dentro das salas da Universidade de Leyden, indo para os púlpitos e em seguida para o parlamento, o caso agravou-se. Ricardo Cerni comenta que
no sombrio marco desta questão ressuscitou um antigo problema sócio-político polarizado na rivalidade existente entre Maurício de Nassau (filho de William de Orange, e o protetor do proletariado), e Jan Barnevelt, um dos fundadores da república e líder da alta burguesia. Em geral, esta classe social era partidária da postura arminiana, e usando de sua evidente influência política conseguiram, através de Hugo Groot (Grotius, 1583-1645) a publicação de um Edito para que se proibisse nas igrejas a pregação de temas “controvertidos”, incluindo, obviamente, a questão da predestinação. Os calvinistas ortodoxos protestaram imediatamente estimando aquele que era um ato de verdadeira perseguição.
Era um risco muito delicado para a Holanda, principalmente naquele momento, pois a guerra com a Espanha não havia terminado. Maurício de Orange, que era o Conde de Nassau, percebeu claramente o perigo da República Holandesa perder a sua unidade, e resolveu usar a sua influência como governador-geral, quebrando o poder das autoridades partidárias de Arminius. De forma decisiva em 1617, Maurício de Orange desarmou as tropas dos magistrados arminianos, e no mesmo ano decidiu convocar um sínodo.
O problema teológico de Arminius tinha as suas raízes em sua teontologia. As suas conclusões acerca da salvação, não eram resultados apenas de um conceito errado de livre arbítrio, ou do modus operandi da livre graça de Deus, e sim, do seu conceito acerca da Trindade. Arminius falando do seu conceito da divindade de Cristo e do Espírito, afirma que “esta maneira de falar é nova, herética e sabeliana, e em si, é blasfemo dizer que o Filho de Deus é homoousios (da mesma essência) porque somente o Pai é verdadeiro Deus, o Filho e o Espírito não o são.” Além de demonstrar certa deficiência na área de teologia histórica, a sua teontologia resulta conseqüentemente num Unitarismo.
A conseqüência dessa teologia em tom unitarista, unida a um conceito errôneo de livre arbítrio é que a sua Soteriologia e todas as demais divisões da dogmática, coerentemente, sofreram modificações bastante significativas. Não é de se estranhar que os discípulos de Arminius distanciaram-se do seu tom protestante original. Os nomes de teólogos arminianos como “Episcopius, Grocius, Curcellaeus, Limborch, e sua elaboração de imponentes volumes, do material dogmático, não conseguem esconder o achatamento de todas as grandes doutrinas, e suas tendências crescentes em direção a Ário, a Pelágio e a Socínio”.
O próprio Arminius era inconsistente em sua teologia. Embora negava os quatro primeiros pontos do Calvinismo, ele incoerentemente aceitava o quinto. Numa obra chamada Declaração dos Sentimentos (1608) ele defende que Deus possui quatro tipos de decretos, sendo que o quarto “Deus decretou a salvação de certos indivíduos específicos – porque Ele anteviu que eles creriam e perseverariam até o fim”.
Com o propósito de tornar sua teologia mais coerente os remonstrantes também negaram em seu quinto ponto a doutrina da Perseverança Final, conforme exposta pelo Calvinismo. Em sua avaliação sobre o assunto, Wright afirma que
ele [Arminius] continuou até a crer na segurança eterna dos santos, embora este último aspecto do calvinismo tenha sido abandonado pelos seus seguidores entre os Remonstrantes, poucos anos após a sua morte, enquanto procuravam desenvolver uma teologia mais consistente sobre a graça universal.
Após a morte de Arminius (1609) os seus seguidores, aproximadamente 46 teólogos, se reuniram na cidade de Gouda. Apresentaram um documento chamado Articuli Arminiani sive Remonstrantia (1610). Neste documento demonstravam que tipo de teologia esposavam em protesto à religião oficial do Estado.
Após este incidente a Igreja foi obrigada a se declarar com maior clareza acerca destes novos pontos doutrinários através dos Cânones de Dort em reação aos arminianos. O sínodo reuniu-se na cidade de Dordrecht, em 13 de novembro 1618, até 9 de Maio de 1619. Era formado de teólogos não somente holandeses, mas também procedentes de outras partes da Europa. Haviam trinta e cinco teólogos, um grupo de presbíteros das igrejas holandesas e participantes provindos da Grã Bretanha, Eleitorado do Palatinado, Helvétia, República de Genebra, Bremen, Bélgica, Zutânia, Austrália, Nova Zelândia, Frísia, Transilvânia, Groningen, Drentia, Gálica-Belga, Hesse, Suíça, Bradenburg, Utrecht e Balcanquall.
Os remonstrantes também foram convocados para estarem no Sínodo. Estavam presentes Simon Episcopius professor de teologia em Leyden, o sucessor de Arminius, e mais doze teólogos arminianos. Contudo para eles o sínodo
não passava de uma conferência e eles negavam competência para agir como um tribunal em questões de doutrina. Eles não queriam ser tratados como réus. A tática do grupo arminiano era a de obstruir as reuniões do sínodo com debates formais. O Sínodo queria discutir os artigos da “Remonstrância”, mas o grupo arminiano se recusava a expor claramente sua posição doutrinária. Após quatro semanas de debates inúteis, o presidente do sínodo dispensou o grupo de arminianos. Com isto o sínodo passou a julgar a doutrina arminiana com base em seus escritos. Os cinco artigos dos arminianos foram discutidos e uma comissão preparou o texto dos “cânones” ou regras de doutrina em que se condenava a doutrina arminiana e se expunha a doutrina reformada.
O Sínodo holandês ratificou a sua fé Reformada (calvinista). Os remonstrantes insatisfeitos reagiram com um manifesto contra a decisão do Sínodo. O resultado desse manifesto foi a expulsão dos ministros arminianos das igrejas Reformadas e a morte de muitos deles.

Rev.Ewerton Barcelos T.

Frases Randômicas

"Uma boa consciência é o palácio de Cristo, templo do Espírito Santo, paraíso do deleite, descanso permanente dos santos"(Agostinho)

"Nada é mais perigoso do que nos juntarmos aos ímpios"(João Calvino)

16.7.05

Frases Randômicas

Quando a segurança carnal se haja assenhorado de alguém, tal pessoa não pode entregar-se alegremente à oração até que seja feita maleável pela cruz e completamente subjugada.(João Calvino)

Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo.(Apóstolo Paulo)

Salvo ou Salvável?


Um ponto de discórdia entre Calvinistas e Arminianos é que os primeiros reivindicam que Cristo realmente salva Seu povo (porque Ele morreu particularmente por eles e pagou a sua penalidade), enquanto que os últimos dizem que Cristo morreu por Judas da mesma forma como morreu por Pedro (embora Judas tenha no final perecido). Os Arminianos dizem que Cristo meramente conquistou a possibilidade de salvação; é questão do nosso livre-arbítrio (eles dizem) se seremos salvos ou não.Como uma prova, aqui estão cinco passagens das Escrituras que ensinam que Cristo salva de uma forma real e verdadeira o Seu povo, ao invés de dar a todos os homens a mera possibilidade de serem salvos.
Mateus 1:21, “E dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados”.
1 Tessalonicenses 1:10,“E esperar dos céus a seu Filho, a quem ressuscitou dentre os mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira futura”.
Romanos 5:9, “Logo muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira”.
2 Timóteo 1:9, “Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos”.
Efésios 5:25-27, “Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela,Para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra,Para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível”.
(veja também Apocalipse 1:5; João 10:27-28; Hebreus 10:10; 1 Coríntios 1:30, etc.)

Paul Mizzi

15.7.05

Frases Randômicas

"Por ocasião da queda, os dons naturais do homem foram corrompidos pelo pecado, enquanto seus dons sobrenaturais perderam-se completamente"(Agostinho)

"Em quarenta anos nunca passei quinze minutos acordado sem pensar em Jesus"(Charles H. Spurgeon)

O Cristo do Arminianismo (A doutrina do livre-arbítrio)

Rev. Steven Houck

A Bíblia nos adverte de que nos últimos dias, nos quais já vivemos, haverá muitos falsos Cristos – aqueles que se chamando de Cristo são impostores. Jesus disse: “Vede que ninguém vos engane. Porque virão muitos em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos.” Mt 24:5
Nós que professamos ser cristãos devemos prestar atenção. Devemos ser muito cuidadosos para não sermos enganados. Fomos chamados para confiar, amar e seguir ao VERDADEIRO Cristo, e somente a Ele!
Nós conhecemos o Cristo das outras religiões. Ele é um homem bom, um profeta, a primeira criação de Deus, um grande espírito, o filho de Deus. Mas esse não é o Deus eterno e verdadeiro. Ele recebe a sua existência de outro que é maior que ele. Este não é o Cristo da Bíblia. Nós somos enganados por este Cristo. Ele é um falso Cristo.
Nós conhecemos o Cristo do Catolicismo romano. Eles professam que ele é o verdadeiro Deus. Ele sofreu e morreu para perdoar os pecadores. Ele ressuscitou, e ascendeu aos céus e virá outra vez. Mas ele não é um Salvador completo. O Cristo do Catolicismo romano não pode salvar os pecadores sem as boas obras e sem a intercessão dos sacerdotes. Este não é o Cristo da Bíblia. Somos enganados por este Cristo. Ele é um falso Cristo.
Sem mais delongas, existe outro falso Cristo que é muito mais perigoso que o Cristo de outras religiões e o Cristo do Catolicismo romano. Ele tem enganado as pessoas por muitos anos e continua a enganar a milhares! Este Cristo é tão perigoso que, se fosse possível, enganaria até os escolhidos (Mt 24:24).
Ele é o Cristo do Arminianismo
Este falso Cristo é extremamente perigoso porque aparenta ser o verdadeiro Cristo de muitas maneiras. Afirmam que ele é o verdadeiro Deus, igual ao Pai e ao Espírito Santo. Dizem que ele morreu na cruz para salvar aos pecadores. Que salva somente pela graça, sem as obras dos homens! Este Cristo nada tem a ver com o Cristo do Catolicismo romano.
Mas muito cuidado! Estejam alertas! Este Cristo do Arminianismo não é o Cristo da Bíblia. Não sejam enganados!
1. O Cristo do Arminianismo: Ama individualmente a todas as pessoas no mundo inteiro e sinceramente deseja sua salvação
O Cristo da Bíblia: decididamente ama e deseja somente a salvação daqueles a quem Deus escolheu incondicionalmente para salvação. (Sl 5:5; 7:11; 11:5; Mt 11:27; Jo 17: 9-10; Hc 2:47; 13:48; Rm 9:10-13, 21-24; Ef 1: 3-4)
2. O Cristo do Arminianismo: oferece salvação a todos os pecadores e faz tudo o que está ao seu alcance para salva-los. Mas sua oferta e poder às vezes são frustrados, porque muitos se negam a vir a ele.
O Cristo da Bíblia: eficazmente chama os eleitos e soberanamente os salva, e nenhum deles se perderá. ( Is 55:11; Jo 5:21; 6:37-40; 10:25-30: 17:2; Fl 2:13)
3. O Cristo do Arminianismo: não pode regenerar nem salvar um pecador, sem que primeiro este se entregue a Cristo com o seu “livre arbítrio” com o qual podem decidir aceitar ou rejeitar a Cristo. Esse “livre arbítrio” não pode ser violado por Cristo.
O Cristo da Bíblia: soberanamente regenera o pecador eleito à margem do seu “livre arbítrio”. Porque sem a regeneração, o pecador morto espiritualmente, não pode escolher a Cristo. A Fé não é uma contribuição do homem para sua salvação, mas sim uma dádiva de Deus que parte em seu resgate. (Jo 3:3; 6:44,65; 15:16; Rm 9:16; Ef 2:1,8-10; Fl 1:29; He 12:2)
4. O Cristo do Arminianismo: morreu na cruz por todo o mundo, e assim tornou possível a salvação para cada pessoa. Sua morte, a não ser pela escolha por parte do homem, não foi suficiente para salvar realmente, porque muitos homens por quem ele já morreu estão perdidos.
O Cristo da Bíblia: morreu somente pelos eleitos de Deus, conquistando assim eficazmente a salvação para todos aqueles por quem ele morreu. Sua morte foi uma satisfação vicária, que eficazmente quitou a culpa de seu povo eleito. ( Lc 19:10; Jo 10:14-15, 26; Rm 5:10; Ef 5:25; He 9:12; 1Pe 3:18)
5. O Cristo do Arminianismo: perde a muitos dos que “salvou” porque não continuam na Fé. Assim quando ele lhes dá “certeza de salvação” como dizem, essa segurança não está baseada em Sua Vontade e Poder, mas na escolha do homem quando aceita a Cristo.
O Cristo da Bíblia: preserva o seu povo escolhido de tal maneira que eles não podem perder sua salvação, sendo que ele mesmo a preserva até o fim. Ele nos preserva pela soberana eleição, pela vontade de DEUS, pelo poder da sua morte e pelo grandioso trabalho do seu Espírito. (Jo 5:24; 10:26-29; Rm 8:29-30, 35-39; 1Pe 1:2-5; Jd 24-25)
Como podem ver, há um Cristo do Arminianismo e um Cristo da Bíblia. Podem parecer iguais a primeira vista, mas eles são muito diferentes. Um é falso, e o outro é verdadeiro. Um é débil e sem esperança. Inclina-se ante o soberano “livre arbítrio” do homem. Mas o outro é Senhor que reina, que decide o que lhe compraz e soberanamente cumpre a sua vontade.
Se você crê e serve ao Cristo do Arminianismo, você deve reconhecer que não está servindo ao Cristo da Bíblia. Você está enganado! Estude as Escrituras e conheça ao Cristo verdadeiro. Ore por graça para arrepender-se e confiar no Cristo soberano e salvador que a Bíblia nos apresenta.
Publicado por: Primeira Igreja Reformada Protestante
3641 104th Street
Holland, Michigan 49424

13.7.05

Igreja Arminiana: Apóstata e Prostituída

Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? (Tiago 4:4 – RC)

Toda e qualquer infidelidade doutrinária é aos olhos de Deus, prostituição ou adultério. Qualquer desvio ou afastamento da verdade é apostasia. Sendo assim, quem mais se apresenta como apóstata e prostituída, como igreja, senão a igreja arminiana?
Antes de Armínio vamos entender um pouco sobre o seu “pai”. Pelágio foi um opositor do Evangelho da graça no final do século IV, ele enfatizava que o homem é capaz de dar os primeiros passos em direção à salvação mediante os seus próprios méritos ou esforços, exercendo assim o seu suposto livre-arbítrio. Essa mesma linha doutrinária sinergista foi seguida pelo ensino arminiano, que atualmente é lugar-comum.
Os arminianos hoje estão desfrutando de grande popularidade eclesiástica, e a verdade está cada vez mais obscurecida pela imensa cortina de fumaça arminiana. O livre-arbítrio foi entronizado, a liberdade de escolha “não” pertence mais a Deus. O Senhor “está” condicionado a escolha soberana de suas criaturas! Hoje, mais do que nunca, nos é dado o “poder” de nos auto-selecionar. Ao homem, antes de Deus, “pertence” a salvação. Não resta dúvida que a cosmovisão atual, da igreja, é antropocêntrica ou humanista. E o entendimento reformado do Evangelho é considerado heresia!
O arminianismo do século 21 está mais amalgamado, e de certa forma mais forte (em sua infidelidade), pois a confissão positiva aliou-se, o pragmatismo finneyano adentrou também, e o mundanismo foi assimilado em todos os seus tentáculos pós-modernistas.
O cavalo de batalha ainda continua sendo os arminianos. Na análise de Montgomery Boice: “infelizmente, eles são a grande maioria daqueles que se chamam evangélicos em nossos dias, que é a maior causa dos problemas que perturbam a igreja evangélica”.(...) “Na verdade, eles podem e dizem ‘a Deus seja a glória’, mas eles não podem dizer ‘somente a Deus seja a glória’, porque insistem em misturar o poder ou habilidade da vontade humana com a resposta humana ao evangelho da graça”.
Conhecendo Deus pela ótica calvinista podemos dizer que as placas tectônicas das doutrinas da graça, que abalaram o mundo no século XVI, estão em semi-repouso, aguardando uma voz de comando do Criador. A mesma voz que libertou Paulo e Silas para que eles continuassem a pregar.- De repente, sobreveio tamanho terremoto, que sacudiu os alicerces da prisão; abriram-se todas as portas, e soltaram-se as cadeias de todos. (Atos 16:26) -. E Habacuque 3:6, diz: Ele pára e faz tremer a terra; olha e sacode as nações. Esmigalham-se os montes primitivos; os outeiros eternos se abatem. Os caminhos de Deus são eternos. – O Deus das Escrituras é o Deus Eterno Todo-poderoso, de uma forma ou de outra, Ele colocará o homem em seu devido lugar. Somente a Deus seja a glória!

(Raniere Menezes)

Frases Randômicas

Parece que alguns acham que a principal evidência da presença do Espírito Santo é o barulho.(John Stott)

"Na igreja de Cristo não há ninguém tão pobre que não possa compartilhar conosco algo de valor"(João Calvino)

Estou indignado!

As sete malas cheias de dinheiro apreendidas em Brasília provocam minha indignação. Não, não estou zangado só com a Igreja Universal do Reino de Deus e seu presidente, o deputado João Batista Ramos. Também estou com raiva de mim mesmo.

Eu precisava ter afirmado, com todas as letras, que essa igreja é uma empulhação medonha; seus bispos, picaretas e seu fundador, um maquiavélico estrategista.

Por que tive receios de denunciar suas intermináveis campanhas de libertação? Eu não notava que eram meros artifícios para extorquir o povo? Lamento não haver nomeado essa falsa igreja em artigos. Há muito, percebia que o dinheiro dos crentes era insuficiente para bancar suas mega catedrais, redes de televisão, inúmeras estações de rádio, aviões, helicópteros e financiamento de eleições. A maioria do povo brasileiro ganha salário mínimo e por mais que comparecesse a seus vários cultos e fosse espoliado, não havia como financiar tanta megalomania.

Não entendo porque não alardeei que esse clero da Universal é composto de lobos, que já nem se preocupam de fantasiar-se de cordeiros. Eles representam a escória nacional. Por que me embaracei com a pecha que a imprensa lhes dava de charlatões vigaristas e estelionatários? Eu sabia que pastores obcecados pelo poder, terminam como Lúcifer.

Eu devia ter apontado que o sucesso da Universal é resultado da sua falta de escrúpulos. Essa empresa religiosa explora o povo que mendiga esperança. Eu precisava ter expressado, há tempo, minha convicção de que seu bom êxito advinha de uma poderosa máquina publicitária, azeitada com dinheiro sujo. Há indícios de que a organização do Edir Macedo esteja envolvida com tráfico internacional de drogas, evasão fiscal com empresas de fachada, lavagem de dinheiro e, recentemente, com suborno de políticos.

Chegou a hora de outras igrejas se unirem e afirmarem, como fizeram os portugueses há vários anos, que a Universal não é evangélica. Ela precisa ser apontada como um movimento apóstata, que não prega os valores do Evangelho. Lá, ensina-se a amar o que Jesus proibiu: dinheiro, ganância e glória humana. Seus cultos não buscam gerar uma espiritualidade livre. As pessoas são induzidas ao medo. Eles incutem sentimentos de culpa e geram neuróticos religiosos, que precisam aplacar seus traumas com dinheiro.

O Brasil vem sendo devastado por um furacão ético. De repente, soprou em nossa pátria um vendaval que espalha detritos para todo lado. A sociedade civil e a imprensa cumprem seu papel investigativo e de denúncia. Os podres que envergonham a nação brasileira estão exibidos nos telhados.

Sinto que não é hora de calar e que não se deve retroceder diante de tanta ignomínia. Deus ainda tem um remanescente de sete mil profetas e eles precisam se pronunciar, caso contrário, as pedras continuarão clamando!

Soli Deo Gloria.
(Ricardo Gondim)

Frases Randômicas

Não há nada debaixo do céu que seja mais bem-aventurado do que conhecer algo do poder do Espírito Santo.(Lloyd-Jones)

"Certamente você realizará o propósito de Deus, não importa como esteja agindo, mas faz diferença se você serve com Judas ou como João".(C. S. Lewis)

Solidão Pós-Moderna



O Século XXI é mutante. Isso não chega a ser novidade, se pensarmos que o homem sempre esteve, digamos, evoluindo. A ciência e a tecnologia estão aí, dando saltos imensos, em frentes que vão da microbiologia e seus transgênicos à busca do deslindamento da história do universo, através das lentes de poderosos telescópios.
Somos mutantes, no entanto, no sentido de que nossa humanidade se perde nessas mudanças. Elas são em número e velocidade acima de nossa capacidade de absorção. Alienação passa a ser um antiácido a ser ingerido juntamente com a salada de frutas de informação que temos que deglutir todo dia.
Nossa desumanização começa, por exemplo, quando abrimos mão da casa paterna para tentar a vida em uma outra cidade ou país — e nunca mais voltamos. Nossos pais ficam sem netos e nossos filhos sem avós e tios. E nossa história, nossos valores, ideais, referenciais e heróis; nosso patrimônio simbólico, enfim, se perde na distância.
Longe da família e da igreja de origem, buscamos formar uma nova família. Uma família plasmada na correria da vida, na superficialidade, na sensualidade e na urgência oriunda de uma crescente carência afetiva. Tentamos reter na memória a nossa velha humanidade, mas já não nos sentimos à vontade abrindo o coração, falando do mundo interior, de sonhos, de ideais, de projetos de vida que, eventualmente, possam ser vividos a dois. "Ficamos" até onde for possível.
No ambiente de trabalho, as relações são cordiais o suficiente para esconder a luta encarniçada estabelecida pela competição: somente os mais adaptados sobrevivem. Os encontros, festas, almoços e jantares de negócio são o que resta dos laços cálidos e duradouros dos companheiros da infância.
Para sobreviver nesse ambiente hostil e exigente, pai e mãe precisam trabalhar. Para serem alguém, algo mais que simples "mão-de-obra", precisam de toda a energia disponível para tocar uma carreira de sucesso. Precisam vencer na vida. E essa vitória não comporta filhos. Pelo menos não do jeito antigo: filhos para serem amados em um convívio extenso e intenso. Agora eles são "curtidos" nos finais de semana em que não estejamos viajando a serviço. Durante a semana, terão uma boa educação numa creche ou numa escola de tempo integral. Desmamados cedo, eles aprendem a ser independentes.
Quando o divórcio vem (a carreira pode exigir), eles passam a viver ora com o pai, ora com a mãe — e com seus meio-irmãos, oriundos do novo casamento do pai e da mãe.
Não tenhamos pena desses nossos filhos. Eles se adaptarão. Sobreviverão e serão parecidos conosco. Não, serão melhores. Serão mais fortes e resistentes às distâncias, indiferenças e separações. Serão adaptados a um mundo onde não se olha para dentro, para a alma; aprenderão a ligar a televisão para não ouvir o silêncio; aprenderão a se ligar às pessoas sem chegar perto; aprenderão a confiar desconfiando e a não esperar misericórdia; aprenderão a fazer amor sem amar; aprenderão a viver no Século XXI. São mutantes.
Alguns deles, um dia, numa praça, numa esquina, ouvirão dizer que "Cristo salva". E pensarão: "não estou morrendo". Outros, no entanto, compreenderão que nEle lhes é possível uma nova e antiga humanidade — a humanidade original, na qual o colo do pai, da mãe, de tios e avós lhes é restaurado no mistério da igreja; no milagre da regeneração de seu próprio interior. Salvação. Nossos filhos mutantes, perdidos e órfãos ouvirão: "assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus" (Ef 2, 19)— e crerão.

(Rubem Amorese)

12.7.05

Renúncia

Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me.(Mt16:24)

Se existem palavras fora de moda, "Renúncia" é uma delas. Talvez por isso sejam as mais importantes a serem ditas nos dias de hoje. Esta época em que vivemos cheia de ofertas, de produtos para todos e gostos, de tentações e apelos à carne, de futilidades que se gastam e se perdem com o tempo - coloca-nos na retaguarda. Não estamos vivendo uma "vida em abundância", paralela à mente de Cristo", mas convivendo ao lado deste mundo, absorvendo muito de suas idéias, suas expectativas, correndo atrás da satisfação imediata, dos prazeres e conforto deste século.
Renunciar a tantas coisas que nos atrai e nos alegra mesmo que por um instante, é extremamente difícil nos dias de hoje. Contudo, experimentar "a perfeita e agradável vontade de Deus" em nossas vidas passa por rejeitar uma porção dessas coisas. Compete a nós, na travessia deste deserto, onde somos moldados e forjados por Deus, baixarmos os braços, nos rendendo a Ele e assim deixarmo-nos refazer do jeito que Ele quer. Pode levar quarenta anos, porém, Ele completará essa obra que Ele mesmo prometeu em sua Palavra.(Fl1:6)

11.7.05

Super-dízimo

BRASÍLIA - A Polícia Federal apreendeu na manhã desta segunda-feira sete malas com dinheiro, num avião Cessna que aterrissou em Brasília. Na aeronave, que vinha de São Paulo, estava o deputado federal João Batista Ramos da Silva (PFL-SP), bispo da Igreja Universal do Reino de Deus e presidente licenciado da Rede Mulher e Rede Família de Televisão, e mais seis pessoas. Eles foram levados para a Superintendência da Polícia Federal. Em cada mala, a PF encontrou um papel impresso informando o valor transportado, mas a PF ainda não conferiu se o valor está correto. Nas duas primeiras malas, foram contados R$ 10 milhões. Segundo a PF, o deputado disse que o dinheiro transportado é proveniente de dízimos arrecadados pela Igreja Universal, que seria a proprietária dos recursos. A PF esclarece que ninguém está preso e que os dois tripulantes e cinco passageiros do avião estão apenas detidos para prestar esclarecimentos. O avião Citation, fabricado pela Cessna, apreendido no Aeroporto Juscelino Kubistschek, em Brasília, estava indo para Goiânia. De acordo com PF, uma das sete malas estava tão pesada que foram necessários dois policiais para carregá-la.
(in globo)

9.7.05

Nova Criatura

Temos perdido o conceito central da conversão. O Cristo a que servimos não é mais aquele revelado a nós, mas um que criamos a partir do que nos interessa

Li recentemente um comentário sobre o novo livro de Ronald Sider: The Scandal of the Evangelical Conscience (“O escândalo da consciência evangélica”), no qual, a partir de dados estatísticos colhidos em pequisas encomendadas aos institutos Gallup e Barna, além de levantamentos feitos por universidades, o autor traça um retrato da Igreja Evangélica nos Estados Unidos. E a conclusão é trágica.
As pesquisas indicaram que o padrão de comportamento dos cristãos – não os nominais, mas aqueles que afirmam ter nascido de novo e que participam regularmente de suas igrejas – não é em nada diferente daqueles que se declaram não-cristãos.O índice de casos de divórcio e adultério e o uso de pornografia entre os adultos cristãos e os não-cristãos é o mesmo. O percentual de doações que os cristãos fazem em suas igrejas caiu ao mesmo tempo em que a renda per capita aumentou muitissimo, o que mostra que o materialismo e o estilo de vida individualista entre eles não diferem muito do daqueles que se declaram sem religião. No grupo dos cristãos, a atividade sexual de adolescentes e jovens antes do casamento e o índice de doenças sexualmente transmitidas ficam apenas um pouco atrás do que a média nacional. Episódios de racismo, abusos e a violência doméstica também apresentam índices alarmantes entre o segmento que diz conhecer Jesus.
Diante destes dados, Ron Sider traz à luz a profunda hipocrisia do cristianismo e a completa irrelevância do testemunho da Igreja na América do Norte. Infelizmente, não temos pesquisas desta natureza aqui no Brasil, mas eu arriscaria, mesmo que empiricamente, dizer que nossa situação, se não é igual, talvez seja até pior. No entanto, o problema maior, a meu ver, é um dado estatístico que aparece nessas pesquisas e diz que apenas 9% dos cristãos adultos e 2% dos cristãos adolescentes e jovens têm uma cosmovisão bíblica. Ou seja, mais de 90% do chamado povo de Deus não interpretam a realidade, a cultura, o mundo, o trabalho, as relações, a sexualidade e outros aspectos da vida a partir de um fundamento bíblico – daí, não fica tão difícil entender porque os cristãos em nada diferem dos não-cristãos em seu testemunho ético e moral.Minha preocupação, olhando para o cenário brasileiro, não é em relação a algum aspecto particular da conduta moral ou ética dos crentes, mas com a ausência de um fundamento bíblico, teológico e doutrinário para a vida e missão cristã.
O marco inicial da vida cristã é nossa conversão a Cristo. Este é o evento que estabelece o ponto de partida da nova vida em Jesus. O apóstolo Paulo descreve tal evento com as seguintes palavras: “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gálatas 2:20). É assim que ele resumidamente descreve o que aconteceu desde o dia em que o Salvador se revelou a ele no caminho de Damasco. Agora, Paulo reconhece que o “velho Saulo” já não vive mais, mas é Cristo que vive pelo poder do Espírito Santo nele. Trata-se de uma nova vida vivida agora pela fé e naquilo que Jesus fez por ele. Isto é o que chamamos de conversão.Naquele momento em que o Senhor se revelou a ele, Paulo reconheceu que tudo que ele pensava ser certo, toda a sua religiosidade que fez dele um homem tão íntegro e responsável, na verdade estava levando-o para um caminho completamente oposto ao de Deus. Ele, que se julgava um grande amigo de Deus, fazendo o melhor que podia para preservar a pureza daquilo que cria ser a sua vontade, viu-se como um inimigo do Senhor ao ouvir de Cristo: “Sou Jesus, a quem você está perseguindo”. Aquele encontro transformou radicalmente, e para sempre, a vida de Paulo. Ainda caído no chão, ouviu Jesus dizer a ele: “Agora, levante-se, fique em pé. Eu lhe apareci para constituí-lo servo e testemunha do que você viu a meu respeito e do que lhe mostrarei”. Paulo ergueu-se para iniciar uma nova jornada, uma nova vida, uma nova missão. Depois de passar três anos na Arábia, ele volta para Jerusalém e inicia seu longo ministério, proclamando as boas novas do Evangelho de Cristo ao mundo.Paulo tinha uma vida comum a muitas pessoas. Era um homem íntegro, zeloso e coerente com suas convicções, como alguns de nós. No entanto, quando Cristo se revelou como Filho de Deus e Salvador, ele se entregou completamente. As coisas velhas ficaram para trás; suas antigas ambições foram abandonadas, seus velhos princípios, valores e conceitos, também foram deixados para trás. Não era mais o mundo quem determinava o certo ou o errado, nem mesmo sua consciência tinha a última palavra – o que lhe importava era Cristo, sua palavra, sua cruz, sua ressurreição, sua vontade. Foi uma experiência que mudou a compreensão que Paulo tinha do mundo e dos seus valores, alterando radicalmente sua cosmovisão e estabelecendo novos paradigmas que iriam conduzir sua vida, seus valores, princípios e trabalho.
Temos perdido este conceito tão central e fundamental da conversão. O Cristo que queremos servir não é mais aquele que se revela a nós, mas um que criamos a partir daquilo que nos interessa. A vida cristã não significa mais o “ser nova criatura”, mas permanecer sendo a mesma criatura, com um leve toque de verniz religioso. Não é mais a voz de fora que fala conosco, mas uma voz de dentro, um apelo nascido da vaidade, do medo, do egoísmo e dos desejos confusos e desordenados que povoam nossa natureza caída.Precisamos recuperar o significado de dizer: “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”. Precisamos voltar a viver pela fé no Filho de Deus, e não pelos impulsos da nossa natureza caída ou atraídos pelo fascínio de uma cultura que nega a cruz de Cristo.
Ricardo Barbosa de Souza é conferencista e pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasilia( in Eclésia)

8.7.05

O Dono Da Estrada e o Porco



Certa vez um homem andava correndo num carro novo que havia comprado. O carro era possante e rápido. Ele gostava de carros assim e se enchia de orgulho olhando a nuvem de poeira que subia por trás de seu carro enquanto corria nas estradas de barro do interior.
Um belo dia ele estava correndo numa estrada assim todo satisfeito com a nuvem de poeira e o vento batendo no seu rosto. De repente, ele avistou um carro se aproximando da outra direção. Ele percebeu que o carro estava correndo igual ao carro dele. Ao se aproximar mais ainda ele viu que este carro também era novo e da mesma marca que o carro dele.
Cheio de inveja ele pisou no acelerador e resolveu dar uma lição no outro motorista de como correr de carro em estrada de barro. Os dois carros estavam se aproximando uma curva perigosa na estrada. O motorista orgulhoso nem tirou o pé do acelerador, mas resolveu entrar na curva na velocidade máxima.
Assim que ele começou a entrar na curva ele percebeu que o outro carro, ao se aproximar dele estava deslizando no barro. Parecia que o motorista estava perdendo controle. E, o pior, ele viu que o motorista era uma mulher.
Rapidamente ele girou o volante e evitou uma batida enquanto o outro carro passou, quase batendo. A mulher, do volante do outro carro gritou "Porco"! O motorista orgulhoso, enraivecido revidou "E você é uma vaca"!
Mas, logo na frente, ao completar a curva o motorista orgulhoso espatifou o grande porco que havia se deitado no meio da estrada e pelo qual aquela senhora havia desviado e tentado avisá-lo.
(Anônimo)

Igreja Triste e Alegre

Havia em uma cidade duas congregações da mesma religião. No entanto, uma igreja era conhecida pela sua alegria e descontração nos cultos, enquanto a outra era admirada pela seriedade e reverência com que os membros se portavam nas reuniões. Por isso, uma igreja era chamada “triste”, enquanto a outra, “alegre”. Um dia, um jovem da “igreja triste” convidou outro da “igreja alegre” para assistir a um culto. No final da reunião, o jovem anfitrião perguntou ao visitante: “Então, o que você achou da minha igreja?” Ele respondeu muito sério: “Eu descobri hoje que sua igreja vai para o céu primeiro que a minha”. A declaração deixou o jovem tão alegre a ponto de chamar alguns membros da igreja que estavam à porta, para ouvir as declarações do visitante. “Venham cá, ouçam o que ele diz”. O visitante não se fez de rogado e repetiu: “Descobri hoje que a igreja de vocês vai para o céu primeiro que a minha”. “Por quê?”, perguntou um dos jovens. O visitante respondeu: “A Bíblia é bem clara em afirmar que ‘os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro’”.
(Anônimo)

Sem Lentes

Falar de nós não é nada fácil. Sempre que falamos acerca de nós mesmos, corremos o risco de dizer coisas demais ou de menos. Mas reconheço que é necessário fazermos esse exame de avaliação, introspecção em silêncio, que nos permite corrigir erros e percepções equivocadas a respeito de jeitos e maneiras de estar e de ser. Quando abrimos o coração para os outros e num momento inédito conseguimos ser honestos e sinceros, corremos o risco de passar por inconstantes, emocionalmente pertubados. O dilema é que nos dias de hoje poucos querem ouvir falar de crises e problemas graves dos outros. Antes, preferimos pessoas positivas, que sempre aparentam estar bem com tudo e com todos. Às vezes disfarçam muito mal. Mas como não queremos nos envolver, pois problemas bastam os nossos, perdemos a oportunidade de ser alguma coisa menos superficial, menos inútil, menos bajulador. Não entendo a maioria das pessoas que se dizem "actualizadas", falam de tudo, menos de suas fraquezas, de suas mentiras, de suas ilusões, de suas tristezas e desilusões, de suas conquistas e alegrias. O mundo os moldou. São pessoas blindadas, cercadas de muros eletrificados, com sistemas de segurança que não permitem a entrada nem de amigos, nem desconhecidos. Afinal, dizem: ninguém tem nada a ver com a minha vida.

6.7.05

Seca

Seca é a aridez intelectual que se instalou na superfície e nos ares da sociedade.Nenhuma seca se compara à crise de reflexão das mentes informadas e vaidosas deste século. Mentes vulgares, moldadas pelo liberalismo, conformadas com seu interior que não se renova. Para estas cabeças "pensantes" não há temor, nem reverência, nem tremor, apenas o seu "eu imperial". Na verdade respiramos muito desse pó que se amontoa naquilo que lemos e ouvimos . Já nem falo das imagens, pois essas, têm poluído, até a inocência e simplicidade das crianças. Seca é mais que ausência de humidade e frescura é por assim dizer uma espécie de vazio,de casca, de ilusão demoníaca.

5.7.05

A graça, esta incompreendida

O pecado criou uma enorme dificuldade para nossa compreensão do amor divino e para a forma como respondemos a este amor em todas as nossas relações.Um tema que sempre me vem à mente quando penso na Reforma Protestante, que completou 487 anos em outubro, é o da graça de Deus. Embora seja um tema central para a fé e a espiritual idade cristã, e que os reformadores insistiram em recuperar, ela continua sendo um dos elementos mais mal compreendidos e experimentados pelo povo cristão. Penso que uma das razões para a incompreensão da graça de Deus na história do cristianismo é a incapacidade do ser humano de compreender e aceitar o amor incondicional de Deus.
A forma como amamos e temos sido amados nunca foi totalmente isenta de culpa, medo, insegurança, condição, manipulação ou chantagem. Mesmo havendo um certo grau de pureza em grande parte dos nossos sentimentos e intenções afetivas, sejam os que experimentamos dos . . . nossos pais e amigos, sejam os que expressamos em relação ao próximo, a presença destes outros sentimentos negativos nos acompanham em quase todos os nossos relacionamentos. Algumas vezes, em virtude da história pessoal, nos vemos indignos de ser amados; outras, banalizamos o amor. Assim tem sido também em nossa experiência espiritual.
Uma das grandes preocupações dos reformadores foi com o comércio das indulgências e de todas as outras formas que, ao longo da história, têm sido usadas para barganhar o amor de Deus. Os reformadores insistiam em afirmar que o perdão de Deus nos foi ofertado por Cristo na cruz doCalvário, e que não havia nada a ser feito por nós, pois todo o preço já havia sido pago. Para eles, toda a experiência cristã é fruto da graça de Deus, que experimentamos por meio da fé naquilo que Cristo fez por nós.Contudo, sempre foi muito difícil aceitar uma oferta, um presente, que não nos custe nada, sem que tenhamos de fazer algo para merecê-lo - principalmente se esse presente for muito caro. Durante muito tempo, este era o pensamento da humanidade: era preciso fazer alguma coisa, realizar uma caridade, qualquer bem que nos fizesse merecedores de tal amor. Os reformadores reagiram a isso dizendo que não há nada a ser feito: Deus, por meio do seu Filho, fez tudo por nós. O apóstolo Paulo havia também reagido a tal pensamento, afirmando que somos salvos, não pelas obras, mas pela graça de Deus. Esta verdade tirou um enorme fardo opressivo que a religião sempre impôs ao ser humano.Porém, se no passado sempre houve essa necessidade de se fazer alguma coisa para merecer o amor de Deus, hoje temos um outro cenário mais sutil e tão perigoso quanto aquele, que é a necessidade de Deus fazer algo para merecer o nosso amor.
A cultura pós moderna gerou uma inversão nesse processo. No passado, o sentimento de culpa e a consciência do pecado eram grandes e faziam do ser humano alguém que não merecia o amor divino. Hoje, com o crescimento do individualismo, da cultura do consumo e dos direitos do consumidor, da busca pela auto realização e pela auto-suficiência, a sociedade vem produzindo uma geração de narcisistas indulgentes consigo mesmos, que precisam ser bajulados, mimados e adulados, sem que isso sequer produza algum sentimento de gratidão.Muitas igrejas e pregadores estão oferecendo os "mimos" de Deus na forma de entretenimento religioso, promessas de vantagens econômicas, barateamento da santidade ou garantias de sucesso e saúde para uma geração entediada e frustrada, na esperança de que correspondam com um mínimo de generosidade no ofertório. O resultado é que, mais uma vez, o amor e a graça de Deus são incompreendidos.Seja para aqueles que se sentem indignos e procuram fazer alguma coisa que os tomem merecedores do amor de Deus, seja para aqueles que se julgam lindos e maravilhosos, para os quais o Senhor tem de se desdobrar para conquistar seu amor, o que vemos é a enorme dificuldade que o pecado criou para a compreensão do amor divino e para a forma como precisamos responder a esse amor em todos os nossos relacionamentos.
Sabemos que a graça de Deus é a manifestação do seu amor por nós, pecadores. O Pai celeste nos ama incondicionalmente, isto. é, não impõe ou exige qualquer condição pàra nos amar. João, o apóstolo do amor, afirma que "Deus nos amou primeiro", revelando que o amor tem sempre sua origem no Senhor. Não fomos nós que fizemos alguma coisa que nos tomasse merecedores do seu amor, mas ele livremente nos amou "quando nós éramos ainda pecadores". João ainda nos afirma que "Deus nos amou de tal maneira que deu seu único Filho" e nos provou a natureza desse amor na cruz do Calvário, assumindo nossa culpa e oferecendo-nos seu perdão. Seja como pecadores dominados pela culpa, seja como narcisistas auto-indulgentes, todos nós permanecemos indignos do amor de Deus por uma razão simples: não podemos compreender, experimentar, nem mesmo responder à pureza, santidade e perfeição do amor divino, se não for por meio de Cristo. O pecado não nos permite isso.No entanto, Deus permanece nos amando em Cristo Jesus.Isso significa que, por causa da humanidade de Cristo e por ter ele assumido sobre si nossas culpas e pecados, e ter se oferecido a Deus em sacrifício por nós, o amor de Deus nos é doado gratuitamente por meio dele. Isto é graça.Não fizemos nada por merecer, continuamos indignos, mas Deus, em Cristo, revelou-nos seu amor e, por meio da fé, experimentamos a graça redentora.É o amor de Deus que nos redime das incompreensões do amor, seja da culpa ou de qualquer forma de narcisismo.É esse amor que nos abre tanto para receber gratuitamente o perdão e a bondade quanto para reparti-los. É o amor de Deus em Cristo que nos liberta do pecado ou da auto-indulgência e nos conduz num caminho de comunhão e liberdade. É esse amor que nos liberta do egoísmo e nos transforma em pessoas altruístas.Que a graça de Deus, mais uma vez, seja generosa sobre todos nós, libertando-nos das incompreensões do amor.

Ricardo Barbosa de Sousa é conferencista e pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília Revista Eclésia, nº 106

De Graça

Vivemos numa sociedade que não dá nada sem ter a certeza de retorno. Uma sociedade que tem dificuldade em aceitar presentes de graça. Uma sociedade desconfiada com as boas intenções. Assim, entender o amor incondicional de Deus e receber a salvação de graça, passa a ser uma tarefa impossível, a não ser que cheguemos à conclusão que não temos nada a oferecer em troca. E ainda assim, isso é um milagre de Deus. Porque a verdade é que a salvação não é nenhum tipo de transação entre Deus e nós, onde ele contribui com a graça e nós contribuimos com a fé. Estávamos mortos, e teríamos que ser vivificados para podermos crer. Os apóstolos ensinam em (At18.27) que a fé salvadora é dom gracioso de Deus. A salvação é dom de Deus para que ninguém se glorie. Nada podemos levar a Deus a não ser um coração vazio. Como disse Stott:" Não podemos empertigar-nos no céu como pavões. O céu estará cheio das façanhas de Cristo e dos louvores de Deus. Realmente haverá uma demonstração no céu. Não uma demonstração de nós mesmos, mas, sim, uma demonstração da incomparável riqueza da graça, da misericórdia e da bondade de Deus por meio de Jesus Cristo". A salvação é uma ressurreição dentre os mortos, uma libertação da escravidão e um salvamento da condenação. E cada uma dessas descrições é obra de Deus, porque os mortos não podem ressuscitar a si mesmos, nem as pessoas presas e condenadas podem libertar a si mesmas. A salvação é a criação, a nova criação. E a linguagem da criação é um contrasenso a não ser que haja um criador; a autocriação é uma contradição..." Vedes, pois", escreve Calvino, " que esta palavra'criar' é suficiente para calar a boca e remover o cacarejar de todos os que se vangloriam de possuir qualquer mérito. Pois quando assim falam, pressumem que foram seus próprios criadores". Calvino analisa o texto de Efésios 2.1-10 e particularmente a palavra que se encontra no verso 10 "criados em Cristo Jesus..."
Não é que permanecemos passivos e inertes. Alguns menos esclarecidos supõem que a doutrina de Paulo da salvação pela graça somente nos encoraja a viver no pecado. Estão inteiramente enganados. As boas obras, como diz Stott, são indispensáveis para a salvação - não como base ou meio, mas, sim, como sua consequência e evidência. Não somos salvos por causa de obras, mas, sim, somos criados em Cristo Jesus para boas obras. É isso que diz Paulo aos efésios cap.2.8-10.

4.7.05

Leitura da Bíblia e a pós-modernidade


Um estudo de como alguns elementos filosóficos e religiosos da pós-modernidade afetam a interpretação bíblica dos evangélicos

Meu alvo nesse pequeno artigo é mostrar como alguns elementos filosóficos e religiosos da pós-modernidade afetam a interpretação bíblica dos evangélicos, e em especial, dos reformados. Os reformados calvinistas têm tradicionalmente interpretado as Escrituras partindo de alguns pressupostos. Primeiro, que as Escrituras são divinas, em sua origem, infalíveis e inerrantes no que ensinam, seguras e certas no seu ensino. A Bíblia é a revelação da verdade. Só existe uma religião certa, a que se encontra revelada na Bíblia. Tudo o que é necessário à salvação e à vida cristã estão claramente reveladas na Escritura. Não há salvação fora do Cristianismo. Esta salvação é claramente exposta na Bíblia. Existem alguns aspectos da pós-modernidade que ameaçam a interpretação reformada das Escrituras.
Primeiro, o conceito de tolerância. Eu me refiro à idéia contemporânea de total complacência para com o pensamento de outros quanto à política, sexo, religião, raça, gênero, valores morais e atitudes pessoais, ao ponto de nunca se externar seu próprio ponto de vista de forma a contradizer o ponto de vista dos outros. Esse tipo de tolerância não deve ser confundida com a tolerância cristã, pois resulta da falta de convicções em questões filosóficas, morais e religiosas: "A tolerância é a virtude do homem sem convicções" (G. K. Chesterton). É fortalecida pela queda na confiança na verdade, causada pelo avanço da pós-modernidade. É aqui que entra o conceito de "politicamente correto". Significa aquilo que é aceitável como correto na sociedade onde se vive. É o que se faz em um grupo sem que ninguém seja ofendido. Por exemplo, não é "politicamente correto" tomar atitudes ou afirmar coisas que venham a desagradar pessoas, como por exemplo, emitir valores morais sobre o comportamento sexual das pessoas. É "politicamente correto" ouvir o que os outros dizem sem qualquer crítica, reparo ou discordância explícita. Aqui devemos também notar em especial a preocupação em não ofender as minorias ou grupos oprimidos: negros, mulheres, pobres, pessoas do 3º mundo. É preciso observar que existe uma tolerância exigida do cristão. Devemos tolerar as pessoas, mas não suas crenças, quando estas contrariam a verdade de Deus revelada nas Escrituras. Temos o dever de ouvir o que elas tem a dizer, e aprender delas naquilo em que se conformam com a verdade bíblica. Porém, tolerância ao erro, quando a verdade bíblica está em jogo, é omissão pecaminosa. A tolerância tão característica da pós-modernidade pode afetar a interpretação da Bíblia levando as pessoas a interpretá-la a partir do conceito de "politicamente correto." Evita-se qualquer leitura, interpretação ou posicionamento que venha a ser ofensivo à sociedade ou comunidade a que se ministra. Textos bíblicos que denunciam claramente determinados comportamentos morais, como o homossexualismo, são domesticados com uma leitura crítica que os reduz a expressões retrógradas típicas dos machistas do século I. Textos que anunciam a Cristo como o único caminho para Deus são interpretados de tal forma a não excluir a salvação em outras religiões.
Um outro aspecto da pós-modernidade que afeta a leitura da Bíblia é o inclusivismo. Num certo sentido, é o resultado do multiculturalismo do mundo pós-moderno. Não há mais no mundo ocidental um país com uma cultura única e uma raça homogênea. Países ocidentais são multiculturais e tem uma mescla de diversas raças. Para que não se seja ofensivo, e para que se possa conviver harmoniosamente, é necessário ser inclusivista. Isso significa dar vez e voz a todas as culturas e raças representadas. Na sociedade pós-moderna, o conceito ser estende para incluir os grupos moralmente orientados. Significa especialmente repartir o poder com as minorias anteriormente oprimidas pelas estruturas de poder, como negros, "gays", mulheres, e raças minoritárias. Existem coisas boas do inclusivismo multiculturalista, como por exemplo, estudos nos meios acadêmicos sobre a cultura de raças minoritárias e oprimidas no ocidente, como africanos, hispânicos e orientais. Também a criação de bolsas de estudos e empregos para membros destas minorias raciais, bem como de grupos oprimidos, como as mulheres. Ainda digno de nota é a luta contra discriminação baseada tão somente em raça, religião, postura política e gênero. Mas existem coisas que nos preocupam no inclusivismo. A maior de todas é que o inclusivismo exclui qualquer juízo de valor em termos morais, religiosos, e de justiça. Tem que ser assim para que o relacionamento multicultural e multi-moral funcione. O inclusivismo acaba também influenciando na interpretação bíblica. Sua mensagem é abordada do ponto de vista do programa das minorias. Por exemplo, a chamada "teologia negra," a teologia da libertação, teologias feministas. Outra coisa é a tendência cada vez mais forte de se publicarem traduções da Bíblia sem linguagem genérica ofensiva, isto é, tirando todas as referências a Deus como sendo homem, etc.
Um terceiro aspecto da pós-modernidade que influencia a leitura da Bíblia hoje é o relativismo. O relativismo, no que tange ao campo dos valores e dos conceitos morais e religiosos, é a idéia de que todos os valores morais e as crenças religiosas são igualmente válidos e que não se pode julgar entre eles. A verdade depende das lentes que alguém usa para ler a vida. O importante é que as pessoas tenham crenças, e não provar que uma delas é certa e a outra errada. Não há meio de se arbitrar sobre a verdade porque não há parâmetros absolutos. Desta forma, alguém pode crer em coisas mutuamente excludentes sem qualquer inconsistência. Ninguém pode tentar mudar a opinião de outrem em questões morais e religiosas. Existem alguns perigos no relativismo quanto à leitura da Bíblia. Primeiro, o relativismo acaba por minar a credibilidade em qualquer forma de interpretação que se proponha como a correta. Segundo, acaba por individualizar a verdade. Cada pessoa tem sua verdade e ninguém pode alegar que a sua é superior à dos outros. Portanto, ninguém pode ter a pretensão de converter outros à sua fé. Muitos evangelistas tentam suavizar a sua interpretação da mensagem do Evangelho, excluindo os elementos que não são "politicamente corretos" como: pecado, culpa, condenação, ira de Deus, arrependimento, mudança de vida. Acaba sendo uma tentação de escapar pela forma mais fácil do dilema entre falar todo o conselho de Deus ou ofender as pessoas.
Esses são alguns dos perigos que a pós-modernidade traz à leitura e interpretação das Escrituras. Reconhecemos a contribuição da pós-modernidade em destacar a participação do contexto e do leitor na produção de significado, quando se lê um texto. Porém, discordamos que isso invalide a possibilidade de uma leitura das Escrituras que nos permita alcançar a mensagem de Deus para nós e de ouvir a voz de Cristo, como Ele gostaria que ouvíssemos.
Rev. Augustus Nicodemus Lopes.

3.7.05

Em Trânsito

A foto abaixo refere-se à Igreja Evangélica Congregacional em Passa Três, no sul do estado do Rio de Janeiro. Fundada em 6 de novembro de 1897. Terceira igreja evangélica congregacional mais antiga do Brasil, depois da I.E.C. Fluminense e Pernambucana. A eleição do novo pastor decorreu neste domingo, sendo que a igreja escolheu o autor deste blog. O pastor desta igreja, reverendo Maurillo Neves Moreira, tem pastoreado esta igreja durante 24 anos. Muita dedicação, muitas lutas e muitas vitórias. O nosso desejo é seguir seus passos e seu exemplo. A Deus toda a honra, Glória e Majestade.

Minha Nova Igreja

2.7.05

Uma Avaliação do Culto

O valor que Deus dá a seu culto deveria levar os evangélicos a uma avaliação muito mais cautelosa de suas práticas de culto. Em primeiro lugar, os evangélicos precisam reconsiderar os novos elementos introduzidos no culto. Será que elementos visuais tais como dança, drama e filme são aceitáveis a Deus? Não parecem ser coerentes com a aplicação reflectida do Segundo Mandamento. Ao contrário, tem mais semelhança com o fogo estranho oferecido ao senhor (Lv10.1). Deus na Escritura nunca aprovou a criatividade ou inovação no culto. Como é que os evangélicos tão impensadamente presumem que Deus aprova suas novidades?
Esses elementos têm de ser rigorosamente submetidos às Escrituras. A falha evangélica de não fazer isso, mostra que a Bíblia não funciona de maneira central na vida e modo de pensar de muitos. Os evangélicos precisam ver que o culto deve ser orientado pela Palavra nos detalhes específicos, não de maneira geral e vaga.
Para muitos evangélicos, a justificativa de sua nova maneira de prestar culto tem raiz na sua sinceridade. Mas a sinceridade por si só não torna o culto aceitável a Deus. Os adoradores de Baal nos dias de Elias eram sinceros. Muitos adoradores de Yahweh em Samaria eram sinceros. Mas Deus rejeitou tal adoração como violação do Primeiro ou Segundo Mandamento. a sinceridade não justifica a falsa adoração, como também não justifica a falsa doutrina ou a vida desobediente (neste aspecto todos nós temos muito ainda que aprender).
O culto que é simples e espiritual irá incentivar a vida cristã disciplinada e coerente. Conduzirá os evangélicos de volta à Bíblia. Esse culto realmente edificará o corpo de Cristo na doutrina e na vida.
Em segundo lugar, os evangélicos devem reexaminar quais as formas em que eles mudaram os elementos do culto. Os sermões devem voltar a ser rigorosamente expositivos para que a igreja ouça realmente a Palavra de Deus, e não opiniões humanas. A Bíblia precisa ser lida como acto central do culto: não apenas para informar mas como acto de reverência e agradecimento a Deus que se revelou a si mesmo. A oração deve ser restaurada como privilégio da igreja de falar ao Deus que se aproxima deles. Os sacramentos devem ser vistos como sendo a bondade do Senhor em dar expressão visível ao evangelho.
Os elementos históricos do culto reflectiam um sentimento da grandeza e presença de Deus. Os evangélicos podem retomar o culto profundamente centrado em Deus, e se afastar do seu culto cada vez mais centrado no homem. Como Calvino escreveu: "Não é uma teologia muito acertada a que limita tanto os pensamentos da pessoa a si mesma, e não coloca diante dele, como motivação primária de sua existência, o zelo por ilustrar a glória de Deus. Pois somos nascidos antes de tudo para Deus, e não para nós mesmos".
Em terceiro lugar, os evangélicos devem olhar com cuidado a sua música. A música é a maneira-chave de expressar a emoção no culto. Mas o culto contemporâneo por vezes demais preocupa-se apenas com a emoção de alegria - e esta de modo bem superficial. A Bíblia dá ênfase à alegria, certamente, mas dá ênfase igual à reverência. Diz o Salmo 2.11: Servi ao Senhor com temor e alegrai-vos nele com tremor. A reverência e a alegria, ambas, devem ser expressas no culto.
Em quarto lugar, muitos evangélicos diminuíram o papel do pastor na liderança do culto e multiplicaram o número de líderes do culto. São actos alinhados com a cultura democrática, e frequentemente justificados apelando-se à doutrina do sacerdócio de todos os santos. Mas isso muitas vezes torna líderes pessoas sem instrução ou experiência devida para a posição. E mais importante, tais pessoas não receberam um chamado (nem sequer um assobio) nem foram separadas para essa obra pelo corpo da igreja.
Em quinto lugar, os evangélicos vêm mudando o horário do culto para tornar mais fácil e mais acessível o culto ao Senhor. Mas será que os evangélicos compreenderam o chamado do Senhor para que se santifique o Dia do Senhor? Existe um Dia do Senhor na nova aliança - o de Apocalipse 1.10 - e é santificando-o que o povo de Deus aprende a obedecer e a negar-se a si mesmo. O verdadeiro Cristianismo não é fácil, mas aceita de bom grado a disciplina e bênção do descanso e culto no Dia do Senhor. A fé verdadeira fica feliz de passar tempo com Deus. Aprecia muitíssimo a hora para devoão, aprendizagem e serviço cristão. Não busca terminar logo o culto, mas procura seguir o modelo revelado de um dia com Deus.
Os evangélicos, com relação ao culto, doutrina e vida vêm se tornando minimalistas. São pessoas demais peguntando: Qual é o mínimo que posso fazer e qual a maneira mais fácil de fazê-lo para que eu seja um discípulo de Cristo? Os evangélicos precisam se lembrar - em primeiro lugar - da Grande Comissão (Mt28.18-20). Aí Jesus declara o que é o verdadeiro discipulado. Tem uma dimensão doutrinária: Os discípulos devem reconher Jesus como possuidor de toda a autoridade no céu e na terra. Tem uma dimensão de culto: Os discípulos devem ser batizados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Tem uma dimensão de vida: Os discípulos devem obedecer a tudo que Deus mandou. Os evangélicos precisam captar de novo a plenitude da religião bíblica.
(Este trabalho de pesquisa e reflexão sobre a necessidade de reforma tem como textos base os encontrados no livro elaborado por uma comissão que participou naquela reunião histórica de 120 pastores, docentes e líderes evangélicos de organizações paraeclesiásticas realizada em Cambridge, Massachusettes, de 17 a 20 de abril de 1996.)

1.7.05

Teologia Relacional: um Novo Deus no Mercado

Rev. Augustus Nicodemus Lopes, professor do Centro Presbiteriano de Pós-graduação Andrew Jumper e chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie
27.04.2005 11:37

Os reflexos da onda gigante que provocou a tremenda catástrofe na Ásia no final de dezembro de 2004 alcançaram também os arraiais evangélicos, levantando, entre outras coisas, perguntas acerca de Deus, seu caráter, seu poder, seu conhecimento, seus sentimentos e seu relacionamento com o mundo e as pessoas diante de tragédias como aquela. Dentre as diferentes respostas, uma chama a atenção pela ousadia de suas afirmações: Deus sofreu muito com a tragédia e certamente não a havia determinado ou previsto. Ele simplesmente não pôde evitá-la, pois Deus não conhece o futuro, não controla ou guia a história, e não tem poder para fazer aquilo que gostaria. Esta é a concepção de Deus defendida por um movimento teológico conhecido como teologia relacional, ou ainda, teísmo aberto ou teologia da abertura de Deus.
A teologia relacional, como movimento, teve início em décadas recentes, embora seus conceitos sejam bem antigos. Ela ganhou popularidade através de escritores norte-americanos como Greg Boyd, John Sanders e Clark Pinnock. No Brasil, estas idéias têm sido assimiladas e difundidas por alguns líderes evangélicos, às vezes de forma aberta e explicita. A teologia relacional considera a concepção tradicional de Deus como inadequada, ultrapassada e insuficiente para explicar a realidade, especialmente catástrofes como o tsunami de dezembro de 2004, e se apresenta como uma nova visão sobre Deus e sua maneira de se relacionar com a criação. Seus pontos principais podem ser resumidos desta forma:
1. O atributo mais importante de Deus é o amor. Todos os demais estão subordinados a este. Isto significa que Deus é sensível e se comove com os dramas de suas criaturas.
2. Deus não é soberano. Só pode haver real relacionamento entre Deus e suas criaturas se estas tiverem, de fato, capacidade e liberdade para cooperarem ou contrariarem os desígnios últimos de Deus. Deus abriu mão de sua soberania para que isto ocorresse. Neste sentido, ele é incapaz de realizar tudo o que deseja, como impedir tragédias e erradicar o mal. Contudo, ele acaba se adequando às decisões humanas e ao final, vai obter seus objetivos eternos, pois redesenha a história de acordo com estas decisões.
3. Deus ignora o futuro, pois ele vive no tempo, e não fora dele. Ele aprende com o passar do tempo. O futuro é determinado pela combinação do que Deus e suas criaturas decidem fazer. Neste sentido, o futuro inexiste, pois os seres humanos são absolutamente livres para decidir o que quiserem e Deus não sabe antecipadamente que decisão uma determinada pessoa haverá de tomar num determinado momento.
4. Deus se arrisca. Ao criar seres racionais livres, Deus estava se arriscando, pois não sabia qual seria a decisão dos anjos e de Adão e Eva. E continua a se arriscar diariamente. Deus corre riscos porque ama suas criaturas, respeita a liberdade delas e deseja relacionar-se com elas de forma significativa.
5. Deus é vulnerável. Ele é passível de sofrimento e de erros em seus conselhos e orientações. Em seu relacionamento com o homem, seus planos podem ser frustrados. Ele se frustra e expressa esta frustração quando os seres humanos não fazem o que ele gostaria.
6. Deus muda. Ele é imutável apenas em sua essência, mas muda de planos e até mesmo se arrepende de decisões tomadas. Ele muda de acordo com as decisões de suas criaturas, ao reagir a elas. Os textos bíblicos que falam do arrependimento de Deus não devem ser interpretados de forma figurada. Eles expressam o que realmente acontece com Deus.
Estes conceitos sobre Deus decorrem da lógica adotada pela teologia relacional quanto ao conceito da liberdade plena do homem, que é o ponto doutrinário central da sua estrutura, a sua “menina dos olhos”. De acordo com a teologia relacional, para que o homem tenha realmente pleno livre arbítrio suas decisões não podem sofrer qualquer tipo de influência externa ou interna. Portanto, Deus não pode ter decretado estas decisões e nem mesmo tê-las conhecido antecipadamente. Desta forma, a teologia relacional rejeita não somente o conceito de que Deus preordenou todas as coisas (calvinismo) como também o conceito de que Deus sabe todas as coisas antecipadamente (arminianismo tradicional). Neste sentido, o assunto deve ser entendido, não como uma discussão entre calvinistas e arminianos, mas destes dois contra a teologia relacional.
Não poucos lideres calvinistas e arminianos no âmbito mundial têm considerado esta visão da teologia relacional como alheia ao Cristianismo. A teologia relacional traz um forte apelo a alguns evangélicos, pois diz que Deus está mais próximo de nós e se relaciona mais significativamente connosco do que tem sido apresentado pela teologia tradicional. Segundo os teólogos relacionais, o Cristianismo histórico tem apresentado um Deus impassível, que não se sensibiliza com os dramas de suas criaturas. A teologia relacional, por sua vez, pretende apresentar um Deus mais humano, que constrói o futuro mediante relacionamento com suas criaturas. Os seres humanos são, dessa forma, co-participantes com Deus na construção do futuro, podendo, na verdade, determiná-lo por suas atitudes.
Contudo, a teologia relacional não é novidade. Ela tem raízes em conceitos antigos de filósofos gregos, no socinianismo (que negava exatamente que Deus conhecia o futuro, pois atos livres não podem ser preditos) e especialmente em ideologias modernas, como a teologia do processo. O que ela tem de novo é que virou um movimento teológico composto de escritores e teólogos que se uniram em torno dos pontos comuns e estão dispostos a persuadir a Igreja Cristã a abandonar seu conceito tradicional de Deus e a convencê-la que esta “nova” visão de Deus é evangélica e bíblica. Mesmo tendo surgido como uma reação a uma possível ênfase exagerada na impassividade e transcendência de Deus, a teologia relacional acaba sendo um problema para a igreja evangélica, especialmente em seu conceito sobre Deus. Muito embora os evangélicos tenham divergências profundas em algumas questões, reformados, arminianos, wesleyanos, pentecostais, tradicionais, neopentecostais e outros, todos concordam, no mínimo, que Deus conhece todas as coisas, que é onipotente e soberano.
Entretanto, o Deus da teologia relacional é totalmente diferente daquele da teologia cristã. Não se pode afirmar que os aderentes da teologia relacional não são cristãos, mas sim que o conceito que eles têm de Deus é, no mínimo, estranho ao cristianismo histórico. Ao declarar que o atributo mais importante de Deus é o amor, a teologia relacional perde o equilíbrio entre as qualidades de Deus apresentadas na Bíblia, dentre as quais o amor é apenas uma delas. Ao dizer que Deus ignora o futuro, é vulnerável e mutável, deixa sem explicação adequada dezenas de passagens bíblicas que falam da soberania, do senhorio, da onipotência e da onisciência de Deus (Is 46.10a; Jó 28; Jó 42.2; Sl 90; Sl 139; Rm 8.29; Ef 1; Tg 1.17; Ml 3.6; Gn 17.1; etc). Ao dizer que Deus não sabia qual a decisão de Adão e Eva no Éden, e que mesmo assim arriscou-se em criá-los com livre arbítrio, a teologia relacional o transforma num ser irresponsável. Ao falar do homem como co-construtor de Deus de um futuro que inexiste, a teologia relacional esquece tudo o que a Bíblia ensina sobre a Queda e a corrupção do homem. Ao fim, parece-nos que na tentativa extrema de resguardar a plena liberdade do arbítrio humano, a teologia relacional está disposta a sacrificar a divindade de Deus. Ao limitar sua soberania e seu pleno conhecimento, entroniza o homem livre, todo-poderoso, no trono do universo, e desta forma, deixa-nos o desespero como única alternativa diante das tragédias e catástrofes deste mundo e o ceticismo como única atitude diante da realidade do mal no universo, roubando-nos o final feliz prometido na Bíblia. Pois, afinal, poderá este Deus ignorante, fraco, mutável, vulnerável e limitado cumprir tudo o que prometeu?
Com certeza a visão tradicional de Deus adotada pelo Cristianismo histórico por séculos não é capaz de responder exaustivamente a todos os questionamentos sobre o ser e os planos de Deus. Ela própria é a primeira a admitir este ponto. Contudo, é preferível permanecer com perguntas não respondidas a aceitar respostas que contrariam conceitos claros das Escrituras. Como já havia declarado Jó há milênios (42.2,3): “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado. Quem é aquele, como disseste, que sem conhecimento encobre o conselho? Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia.”


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