29.9.07

Reflexos do eu imperial

Falar de nós não é nada fácil. Sempre que falamos acerca de nós mesmos, corremos o risco de dizer coisas demais ou de menos. Mas reconheço que é necessário fazermos esse exame de avaliação, introspecção em silêncio, que nos permite corrigir erros e percepções equivocadas a respeito de jeitos e maneiras de estar e de ser.
Quando abrimos o coração para os outros e num momento inédito conseguimos ser honestos e sinceros, corremos o risco de passar por inconstantes, emocionalmente pertubados. O dilema é que nos dias de hoje poucos querem ouvir falar de crises e problemas graves dos outros. Antes, preferimos pessoas positivas, que sempre aparentam estar bem com tudo e com todos. Às vezes disfarçam muito mal. Mas como não queremos nos envolver, pois problemas bastam os nossos, perdemos a oportunidade de ser alguma coisa- menos superficial, menos inútil, menos bajulador.
Não entendo a maioria das pessoas que se dizem "actualizadas", falam de tudo, menos de suas fraquezas, de suas mentiras, de suas ilusões, de suas tristezas e desilusões, de suas conquistas e alegrias. O mundo os moldou. São pessoas blindadas, cercadas de muros eletrificados, com sistemas de segurança que não permitem a entrada nem de amigos, nem desconhecidos. Afinal, dizem: ninguém tem nada a ver com a minha vida - cada um na sua.
Em baixo um comentário do Paulo Miranda a este texto.

Independentemente de te dar razão,o melhor mesmo é concentrarmo-nos naqueles que têm a ver com a nossa vida. Quem tem a ver com a nossa vida não tem necessariamente de estar próximo ou sequer de ser nosso conhecido! Tem apenas a ver com a nossa vida. Por isso afirmar o bem é, para mim, melhor do que sublinhar o mal.


16.9.07

Domingo Sabático

Redescobrir o Sábado em nossa cultura e estilo de vida é uma tarefa complicada. Antigamente, tinhamos tempo para estarmos juntos a mesa, para comer aquele frango assado no forno (ainda não havia as churrasqueiras Falcoeiras), que muitas vezes ainda estava meio branco. Havia tempo para ir a igreja, pela manhã e a noite e ainda sobrava tempo para visitar ou passear em algum lugar ao ar livre (ainda não havia os centros comerciais). Hoje, apesar de não fazermos mais o almoço e não sairmos de casa, vivemos cansados, estressados, irritados e mau humorados. Precisamos recuperar o Sábado como um dia de lazer e compromisso com Deus, família e os irmãos da igreja. Como sou saudosista, relembro aqueles encontros nas traseiras da igreja lá no Alto do Brejo em Paio Pires, depois da ED, comíamos juntos e fazíamos rodas e passávamos algumas horas juntos antes do culto das 17 horas. Uma verdadeira comunhão entre famílias e amigos. Hoje o círculo de amizades e eventos deste gênero é menor e cada vez mais restrito aos da própria casa. Entendo que isso não é saudável, nem cristão. Os crentes da Igreja Primitiva nos ensinaram que estar junto, é fundamental, para que sejamos vitoriosos em nossas batalhas contra as forças do mal e tentações deste mundo. Por isso, desafio cada um dos leitores a resgatar o sentido do Sábado como o dia da descoberta de Abba Pai e de nós mesmos em comunhão e amizade.

8.9.07

Crise de Vocações

Nunca houve tanta carência de lideres como nos dias de hoje. Os seminários e faculdades de teologia são frequentados por alunos que buscam apenas conhecimento ou um diploma. Poucos são aqueles que escolhem, se é que podemos dizer isso, seguir a vida servindo a Deus e aos outros, apenas tendo como única garantia de que não estarão sozinhos e que nunca serão desamparados. Vivemos tempos de seca espiritual. Reunimo-nos uns com os outros, mas será que temos nos encontrado com Deus? Cantamos bem, oramos bonito e falamos ainda melhor. Bem, sabemos muita coisa, mas será que temos experiências, testemunhos para contar? Onde está a ousadia para falar do evangelho aos desconhecidos e conhecidos, aos amados e não amados? Nós somos loucos essa é a verdade, nós somos fracos, outra verdade, ao contrário vocês são fortes e nobres, e nós desprezíveis, vocês são ricos e fartos, nós ao contrário, pobres e sem morada certa. Também nos cansamos de ser perseguidos e caluniados, mas sempre procuramos nos reconciliar, sabendo que isso não vai mudar muito a opinião geral, assim continuamos a ser considerados lixo do mundo. Por tudo isto e muito mais não desanimamos, porque sabemos, apesar de nunca termos ouvido e visto, que há algo incomparável esperando por nós.

6.9.07

Ainda o ABS

Quando o verão se aproxima, não tem como não pensar no ABS. É uma relação de mais de 30 anos. Sou saudosista e apaixonado por aquele lugar seco e agora quase nu. Os alacraus, outrora, atração principal, deram de frosques. Assim hoje já ninguém é picado, já ninguém chora, as experiências hoje são mais de nível tecnológico ou virtual. Já ninguém dá de seu tempo para limpar o mato ou plantar uma árvore, já ninguém se esforça para beber água do poço ou tomar banho no tanque. Já ninguém lava pratos, pois isso é perder tempo, afinal pagar para que outros lavem é mais fácil.Também pode impedir de assistir ao culto da noite - tretas. Até a barragem tornou-se imprópria para banhos. Hoje é muito difícil alguém aprender a nadar ou atravessar a barragem como antigamente, uma forma de exibirmos a coragem e competir uns com os outros. Outros ABS com pessoas menos sofisticadas e mais problemáticas marcaram várias gerações. A mística ruiu, o romantismo que era marca dos campistas e sua irreverência desapareceu com os mais velhos. Afinal, tudo isto é fruto da fragmentação e interesses particulares das igrejas , promovendo as "elites", desvalorizando aqueles que realmente amam o ABS e que sempre deram de si sem interesses ocultos desde o seu nascimento. Só espero é que o ABS não se torne unicamente um clube de fraternidade de irmãos, ou pior, de grupinhos que só pensam em namorar ou se divertir. Isso seria um desrespeito com tantos que alimentaram a visão de um lugar de pregação e transformação, um lugar de amizade e testemunho. Bons turnos.

5.9.07

A descoberta do Sentido e Vocação

Em nossa sociedade, muitas pessoas sofrem de falta de entusiasmo e de qualquer sentido dinâmico ou propósito em suas vidas. Durante alguns anos, lutei contra esse "mal", que nos prosta e nos leva por carreiros perigosos em busca de significado, alívio e distração. Não foram poucos os momentos em que senti a sensação de desvalor pelas coisas e a incapacidade de despertar para um expectante e excitante novo dia. Essa depressão existencial crônica provêm daquilo que Viktor Frankl descreve como um "vácuo de valores", uma frustação da "vontade de sentido" básica. A tese básica de Frankl é de que "a vida é transformada quando se descobre uma missão que vale a pena cumprir".
É neste contexto de descoberta que podemos enxergar finalmente a nossa vocação. Martinho Lutero dizia que:"Todo o crente tem uma vocação na vida porque tem uma posição e, nesta posição, ele encontra sempre oportunidade de servir". Isto serve para todas as empreitadas e caminhos que tomemos em nossas vidas. A realização completa em uma dimensão vocacional é descrita pelas palavras do apóstolo Paulo:"Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, recto juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda"(2Tm4;7-8). Paulo neste mundo moderno seria considerado um fanático, um doente; pois declara que todos tinham se afastado dele, inclusive alguns de seus colaboradores "Na minha primeira defesa ninguém foi a meu favor...". Terminou a sua missão sem nada, isto é vazio daquelas coisas que o homem corre atrás e, sem a companhia daqueles que nos prendem com sua amizade, interesse e amor. "Mas o senhor me assistiu e me revestiu de forças...O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino celestial. A ele, glória pelos séculos dos séculos. Amém."(v.16-18)
A falência e acúmulo de sentido juntam-se nesta vida e não mais se separam. A vitória só Jesus Cristo pode dar. Somente nele encontramos significado em nossas missões e corridas. Somente conscientes de uma missão, que precisa ser levada a cabo por nós, nos torna capazes de viver neste mundo desumano, ainda assim o nosso mundo, que serve de passagem para nossa Pátria Celestial Eterna, livre da aridez e das poeiras dos desertos, pois o rio que corre em nossa Cidade nos saciará para sempre.

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