19.5.07

Restos de Memórias

Lembro-me das tardes de inverno no 2º andar do prédio onde nasci e vivi uma década. Na varanda larga dava para ver uma eira, uma casa em ruínas, umas oliveiras à beira da morte e uma figueira despenada. Sempre tinha uns putos jogando berlinde ou dando chutes com uma bola de borracha contra as paredes do prédio do Pernas. A minha esperança naqueles dias cinzentos resumia-se à chance do céu se abrir e assim poder convencer a minha mãe a me deixar sair. Às vezes o milagre acontecia. Descia as escadas sem tocar no chão, cantando e assobiando, fazendo os vizinhos lançar alguns palavrões - eles tinham razão, trabalhavam por turnos. Lá fora as opções eram muitas, bola, peão, berlinde, ferro, brincar aos cowboys ou simplesmente ficar à toa andando pela quinta imaginando um monte de possibilidades heróicas. O tempo demorava a passar ao contrário do tempo de agora. Dias cinzentos de grandes expectativas, quase iguais aos de hoje – muitos sonhos e a mesma esperança, isto é, que o céu em algum momento iria se descobrir.

2 comentários:

Anônimo disse...

Quando sonho, muitas vezes vivo naqulee 2º andar e revejo essa paisagem, a partir da varanda.

Fernanda

Anônimo disse...

é verdade. tb nasci nesse 2º andar. e tb tenho as melhores recordações desses tempos. todos os dias passo por ali no meu caminho para o trabalho... os locais das brincadeiras só têm prédios... a paisagem da varanda dá para a sala de estar do vizinho da frente... é o progresso! mas a memória é selectiva e as recordações escorraçam as coisas ruins. só fica mesmo a magia da infância feliz.

filipe samuel

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