Vivemos um tempo de supermercado e de zoológico. O supermercado é a metáfora para pluralidade, em que crescem as opções sociais para tudo o que o cidadão possa imaginar. Já o zoológico é a imagem da privatização, onde me refugio dos outros para poder ser eu mesmo e gozar minhas opções. É o espaço das indiferenças. (Rubem Amorese)
Rubem está falando daquilo que perdemos. Naquele ambiente cheio de significado, de convívio, de estabilidade e outros valores antigos. Como consumidores desta época vamo-nos tornando em "borboletas relacionais". Pousando numa flor já pensando em outra. E o tempo no solo, como dizem as companhias aéreas, será o menor possível. É o reflexo de pousar numa prateleira já pensando na próxima. É o efeito zapping, pelo qual, com um controle remoto na mão, nós trocamos de canais mais rápido que a vista. Num mundo de prateleiras, diz Rubem, impera a volubilidade, o charme, as cores, o novo. Há uma grande ansiedade por experimentar tudo - agora. Nos nossos relacionamentos não somos diferentes. O descompromisso, a indiferença, a ausência de valores públicos, a falta de solidariedade e tantos outros subprodutos desse supermercado que se manifesta em toda a actividade humana, esfacelando as instituições mais sólidas, entre elas a família. As pessoas, passo a passo, vão desaprendendo a conviver. Vão cuidando das próprias vidas e guardando distância das outras, vivendo em tocas. Paradoxalmente, essas pessoas que se sentem sós, procuram o casamento. E levam essas deformações, como uma espécie de bagagem maldita, para dentro do sonho de viver em família, com estabilidade, filhos, ideais, projectos de vida e conforto emocional. Resultado: pobreza, num sentido profundo. Lares desestruturados provêm de lares desestruturados e geram, embora nem sempre, lares desestruturados. E tudo o que a pessoa haverá de ser na sua vida trará as marcas desse ambiente original, ou da falta dele.
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