26.1.13



MOURINHO 50 anos


José é de Setúbal, da "terra do carrapau", o meu distrito. Tem mais dois anos do que eu e se calhar já nos encontramos em alguns jogos da Associação de Futebol de Setúbal, nos tempos de iniciados, juvenis ou mesmo juniores.

Sempre achei que este distrito era rico em termos desportivos, não somente em jogadores mas treinadores também. Conheci alguns que enxergando muito de futebol nunca saíram do anonimato. O que tinha este José que tantos José,s dessa vida futebolística nunca tiveram?

Poderíamos responder que talento, boa aparência, estabilidade psicológica, saber ouvir, saber observar, foram itens que ajudaram este José a chegar ao topo. Pode até não ganhar a Copa do Rei e a Décima Champions para o Real, liga dos campeões, mas o respeito que conquistou pelo seu carisma e resultados, fazem que nós portugueses nos orgulhemos, além de que, serve a sua determinação e profissionalismo para dizer que afinal nós não somos tão burros assim, no que diz respeito ao futebol e outras maneiras de estar na vida atual.

O importante é estarmos no lugar certo. Gostar do que se faz. Se não nos sentimos realizados naquilo que fazemos, quem perde, além de nós, são todos aqueles que nos rodeiam.Trabalhadores frustados viram pais mal humorados, maridos ausentes, nações pobres. O segredo e truque da vida é termos a coragem de seguirmos a nossa direção sem atrapalhar os outros, ao contrário, aprender com eles. Assim chegará um dia em que teremos nosso próprio estilo e método. Seremos imitados, alguém pretenderá ser igual a nós, mesmo que não sejamos lá grande coisa. O José ensina-nos que é possível atingir o nosso sonho mesmo que esse sonho nada mais seja o de ser um treinador de futebol. A questão não é ser bem remunerado, mas chegar lá

Mourinho é por assim dizer o espelho de nossos sonhos. Ali vemos reflectido o que imaginamos ser ou o que poderíamos ser: polêmicos; egocêntricos; frontais; honestos; inteligentes; leais; firmes e determinados. Mou é mais qualidades do que defeitos, estes se intrometem e logo são abafados pela sua boa índole. O sentido profissional, rigor e ambição que incute a si mesmo, é repassado para seus jogadores, a verdade é que todos quando chamados a falar dele, apontam-lhe em primeiro lugar coisas boas.

Elogios e críticas fazem parte do cardápio de qualquer um. O que nos diferencia uns dos outros é o reconhecimento do valor de outras pessoas - o quanto somos gratos àqueles que nos ajudaram a conquistar e a realizar nossos sonhos. Os títulos são apenas o prémio do que somos e fazemos e ainda assim, isso pode não nos trazer nenhuma realização e satisfação. Para Mou tem que haver motivação ao mais alto nível, pois só assim consegue estimular seus atletas. Ele diz que lê a Bíblia, que vê filmes que apelam à coragem e conquista como forma de superar as dificuldades e obstáculos inerentes ao jogo, fora e dentro das quatro linhas.

Depois os media, inimigos invejosos, alguns, tradicionais, como Cruyff, Allegri, Menotti e Valdano (este afastado), entre outros que o criticam de forma ácida e venenosa e, toda aficcion catalã, inclusive a imprensa (jornal Sport e El mundo deportivo) e agora até a imprensa madrilena ( Marca e AS), fazem uma guerra psicológica impressionante.

É preciso ser forte e ter um poder de encaixe extraordinário. Além disso, o que se destaca em Mou é o seu carácter humano e responsabilidade social. Enquanto estiver rodeado de pessoas que lhe querem bem e mal, Mou sobreviverá às críticas e armadilhas do futebol, pois "a mentira tem perna curta" e a verdade é sempre um bom investimento a médio e longo prazo. Obrigado Mourinho por reduzires minhas frustrações e parabéns pelos os teus 50 anos.

17.1.13

A FRAGILIDADE DA AMIZADE

Aelred de Rievaulx parafraseou 1.Jo 4.16 - " Deus é amizade e todo aquele que permanece na amizade, permanece em Deus". Nossa sociedade utilitarista dificulta as amizades. Ela nos convida a nos tornarmos (no dizer de Ricardo Barbosa) " prostitutos relacionais", fazemos amigos afim de... Usamos a amizade como fonte relacional - evangelismo por amizade. O problema é o que dizer se o "amigo" não se converte.

Na verdade não fazemos uma amizade em troca de nada. O psiquiatra R. D. Laing expressou: " Estamos nos destruindo a nós mesmos de forma eficaz por meio de uma violência que se mascara de amor..., não admira que o homem moderno seja viciado em pessoas; e quanto mais viciado fica, menos satisfeito fica, e mais solitário fica". A conclusão mais importante desta patologia é que os relacionamentos humanos existem somente para servir-nos. Quando vem os conflitos, a decepção, a desconfiança, não reparamos nem tratamos, ao invés, descartamos nossos semelhantes, como fazemos com uma ventoinha ou maquina de barbear de fabrico chinês.

A amizade perdida, que deveríamos resgatar por que somos crentes, tem que se basear na aceitação e isso envolve dor e misericórdia, aquilo que Jesus reivindicou como base do amor “Misericórdia quero e não sacrifícios”. Aquilo que devemos buscar segundo o Senhor Jesus, como substâncias para a construção de relacionamentos perfeitos, são o perdão e aceitação. O nosso Senhor deu-nos um exemplo disso quando galgou de uma relação de obrigações e interesse para uma relação pura de amizade. “Já não vos chamo servos, mas amigos”. O Senhor não esperava fidelidade no jardim ou no pátio, a sua confiança não estava nos seus amigos, mas, no Pai. Por isso Jesus nunca se decepciona!

Uma das razões da vulnerabilidade e fragilidade de nossas amizades é que no contexto da igreja passamos pouco tempo juntos - já pouco nos encontramos na semana e quando nos encontramos, ficamos sem saber o que dizer, fazer e pensar - parecemos pequenos robôs, cronometrados, tecnológicos e superficiais - perdemos o sentido da beleza do outro...

"Uma das grandes perdas que temos sofrido com a alta tecnologia da sociedade pós-moderna e a obsessão pelo sucesso é a da percepção da beleza. Valorizamos cada vez mais a eficiência e cada vez menos a arte. Preferimos o fast food, e não mais saborear uma boa refeição. Substituímos o real e o natural pelo virtual e pelo plástico. Vivemos como um turista que leva nas viagens suas câmeras e filmadoras digitais para não perder tempo contemplando a beleza da arte ou da criação. A aparência nos impressiona mais do que a realidade. Dentro de nossas igrejas, o efeito da mentalidade tecnológica é sutil e devastador. Imaginamos que se temos uma boa liturgia, boa música e coreografia, teremos um bom louvor e uma boa adoração. Se temos um programa eficiente, teremos um bom e fiel ministério. Se temos um bom sistema de integração de visitantes, teremos uma boa comunhão. A tecnologia nos afasta do belo e o reduz a um programa que nos ilude e nos leva a pensar que a beleza está na eficiência do produto e não mais no olhar, no gesto de fé e coragem, na criatividade ou num simples sorriso".

Não admira que sejamos mais tarde ou mais cedo surpreendidos pela desilusão, pela percepção doentia que temos de outras pessoas - não restando mais nada a não ser que nos afastarmos. Perdemos a beleza da amizade sacrificial.

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