30.10.06

Comunicado

Fomos hoje saber o sexo do nosso próximo filho. Sem sombras de dúvidas, de acordo com a ecografia é menino. Nos alegramos e partihamos com nossos familiares e amigos esta grande bênção de nosso Senhor.

28.10.06

Não vos conformeis

Vivemos um tempo de supermercado e de zoológico. O supermercado é a metáfora para pluralidade, em que crescem as opções sociais para tudo o que o cidadão possa imaginar. Já o zoológico é a imagem da privatização, onde me refugio dos outros para poder ser eu mesmo e gozar minhas opções. É o espaço das indiferenças. (Rubem Amorese)
Rubem está falando daquilo que perdemos. Naquele ambiente cheio de significado, de convívio, de estabilidade e outros valores antigos. Como consumidores desta época vamo-nos tornando em "borboletas relacionais". Pousando numa flor já pensando em outra. E o tempo no solo, como dizem as companhias aéreas, será o menor possível. É o reflexo de pousar numa prateleira já pensando na próxima. É o efeito zapping, pelo qual, com um controle remoto na mão, nós trocamos de canais mais rápido que a vista. Num mundo de prateleiras, diz Rubem, impera a volubilidade, o charme, as cores, o novo. Há uma grande ansiedade por experimentar tudo - agora. Nos nossos relacionamentos não somos diferentes. O descompromisso, a indiferença, a ausência de valores públicos, a falta de solidariedade e tantos outros subprodutos desse supermercado que se manifesta em toda a actividade humana, esfacelando as instituições mais sólidas, entre elas a família. As pessoas, passo a passo, vão desaprendendo a conviver. Vão cuidando das próprias vidas e guardando distância das outras, vivendo em tocas. Paradoxalmente, essas pessoas que se sentem sós, procuram o casamento. E levam essas deformações, como uma espécie de bagagem maldita, para dentro do sonho de viver em família, com estabilidade, filhos, ideais, projectos de vida e conforto emocional. Resultado: pobreza, num sentido profundo. Lares desestruturados provêm de lares desestruturados e geram, embora nem sempre, lares desestruturados. E tudo o que a pessoa haverá de ser na sua vida trará as marcas desse ambiente original, ou da falta dele.

Palavras Jogadas ao Vento

Moendo e remoendo os dias dou-me conta da rapidez com que evelhecemos. O tempo implacável, visto no espelho a cada manhã. Sem dó, o reflexo mostra-nos em parte o que somos: rugas, cabelos brancos ou a falta deles - enfim, pó. As ansiedades e preocupações tornam-nos dependentes. Serei um eterno dependente. A liberdade como a entendemos não tem nada a ver com a liberdade de Deus, visto que Deus sempre faz o certo e nós não. Alguém perguntou por que os mortos pesam tanto. A resposta foi, que eles carregam palavras não ditas, silêncios. Quanto a mim eu acho que sou mais pesado vivo e, que morto serei leve. Não adianta fugirmos daquilo que nós somos, mais cedo ou mais tarde nos encontraremos de novo em algum deserto, eu (nós) e o Outro.

22.10.06

Ser ou não Ser

Muitas pessoas acham que ser cristão evangélico é extremamente difícil, por isso decartam completamente essa idéia. Elas vêem os cristãos como seres extra terrestres (e de facto o são), dominados por leis e presos a pactos misteriosos. Para eles os cristãos evangélicos ou são doidos ou interesseiros. Mas também existem aqueles, que tendo alguma educação evangélica, mas por vários motivos se desencantaram, reconhecem que a grande maioria são honestos e sinceros na sua fé e prática cristã.
De facto um cristão aos moldes bíblicos, como todos nós evangélicos ansiamos e procuramos ser, além de ser difícil é raro encontrar nos dias de hoje. Já não são vistos como ET,s, mas espécies em via de extinção. Este século deu a volta na maioria dos cristãos evangélicos, tornando-os fragmentados em milhares de denominações e credos. Cada vez mais a Unidade do Corpo e no Corpo é uma conquista adiada, visto que a cultura desta época não permite. A diversidade e relativismo assume o papel de condutor das massas cinzentas.
Ser cristão é cada vez mais difícil, até porque renunciar a nós mesmos e ao pensamento deste século, implica perder muito do que amamos. "Olhar para Jesus Autor e Consumador da nossa Fé", passa a ser uma miragem. Os alvos a atingir são outros, mais concretos, menos abstractos. Ser cristão não é (como pensam alguns), não beber; não fumar; não participar das rodas; não vestir deste e daquele jeito; usar de vocabulário pesado; ir além no namoro e etc. O não praticar isto e muito mais são sinais evidentes do trabalho do Espirito Santo "Aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus", no entanto, ser cristão, nesta época e em todas as épocas tem haver com compromisso e amor. Um amor mais alto, que nos move não em direção a nós mas em direção a Cristo. Na esperança de não sermos confundidos e alcançarmos a perfeição. A perfeição que é nada menos que o conhecimento sublime de nosso Senhor Jesus Cristo. Sem a visão da cruz, sem o entendimento da ressureição e nossa vocação, ficamos a mercê deste mundo que nos pressiona a desistir, pois ser um cristão verdadeiro é "Amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a nós mesmos", nisto se resume toda a lei e os profetas. E isso é tudo o que temos de ser.

17.10.06

Escolhas

"Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura, porque o rejeitei; porque o Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração" (1Sm 16:7).

Tenho pensado nestes últimos dias acerca das nossas escolhas e os critérios que nos levam a decidir por isto ou aquilo. Certamente a maneira como os nossos olhos enxergam podem influenciar as nossas apostas. Mas são os estereótipos que acumulamos ao longo de nossa existência que determina as nossas escolhas. Aparentemente, Davi sequer foi cogitado para confrontar o gigante, mas era ele que morava no coração de Deus, não Eliabe, alguém com características exteriores mais adequadas para o desafio. "A aparência engana", o coração não. Infelizmente hoje não se presta mais atenção ao interior das pessoas, não estamos muito interessados em ouvir as suas históricas dramáticas e felizes. Abrir o coração é dar chances ao outro de me conhecer e magoar. Preferimos a "aparência" as maquilhagens as frases "Ninguém tem nada a ver com isso..." ou "isso é problema meu". É por isso que muitas vezes escolhemos mal porque as nossas apostas são motivadas por um julgamento pré-concebido, onde o coração nunca é avaliado porque ao entrar no íntimo do outro entramos no nosso e não gostamos do que vemos. Preferimos jogar pelo seguro, mantendo um relacionamento à distância, que mais tarde vira frustação, dor ou despesa. Foi isso que aconteceu com o povo de Israel. Buscou na aparência um rei( Saul) e agora cometia o mesmo erro ao iludir-se com perfil de Eliabe. Olhar como Deus olha é ver a verdade das pessoas é ver a capacidade que elas têm de enfrentar gigantes.

14.10.06

Sentido e Direção

O sentimento geral é de uma comunidade superficial que não aprendeu amar porque tem medo. Os caminhos da vida cristã e de espiritualidade são carreiros ( trilhos) de aceitação de auto-negação de amizade profundamente sentida. Quando o Senhor chamou o apóstolo Pedro para o ministério não lhe perguntou o quanto conhecia sobre Deus, nem mesmo sobre as experiências espirituais que tinha tido, mas se ele o amava (Cf Jo21.15-17). Era o afecto de Pedro que interessava a Jesus. Isto não significa que o conhecimento ou a experiência são irrelevantes; mas se estes não são traduzidos em afectos, se não atingem o coração, transformamo-nos em presas fáceis para as apostas do diabo ( ler Jó cap. 1 e 2). "Amar a Deus de todo o coração, alma, e forças, e ao próximo como a si mesmo", constitui nas palavras de Jesus, o cumprimento da lei e dos profetas. É este amor que nasce do coração, que determina os segredos do nosso relacionamento com Deus. A partir do momento que o homem for capaz de adorar e servir a Deus por nada, simplesmente porque Deus é Deus e não porque o cobre de benefícios - ele encontra o sentido maior da sua devoção, o centro de sua espiritualidade, o coração como fonte dos afectos mais puros e genuínos da alma humana

12.10.06

Ao meio-dia

Cada um pensa de si sempre algo mais, ou menos do que é. Cá pra mim, acho que não passo de um sedento. Preciso de abrir o meu coração com Deus todos os dias e cantar canções de nostalgia e de esperança. Os problemas dos outros e minhas ansiedades, ocupam demais os meus pensamentos. Já não sei para onde vou. O deserto é o meu refúgio e a minha solução. Talvez aqui apareça uma fonte, um oásis. Finalmente, debaixo de uma árvore posso olhar o céu como ele é. A corça suspira por correntes e eu por Deus.

Contemplação do Belo

Precisamos voltar a reconhecer a harmonia e a grandeza da criação e da obra de Cristo e celebrar a beleza da presença de Deus na vida e na história. Vivemos numa sociedade tecnológica que valoriza mais a ação e a funcionalidade do que a contemplação. Ao reverter estes valores, terminamos por exaltar a produtividade, dando ao homem a prerrogativa de ser ele o agente que fabrica a realidade a partir das ferramentas tecnológicas que possui. O meio e o fim são invertidos e a vida passa a ser medida pelo sucesso, desempenho e eficiência. Somos constantemente desafiados a ter vida, ministério, trabalho, família, lazer ou sexo com propósito – tudo muito pragmático e funcional. A quantidade de livros com as famosas receitas de “como” enchem nossas livrarias: “Como ter uma família saudável”, “Como obter o melhor de Deus” ou “Como desenvolver um ministério eficaz”, reduzindo a vida a esquemas produtivos. É a nova mentalidade tecnológica transformando as complexidades humanas e espirituais em pequenos defeitos que podem ser consertados com o uso correto de um bom manual e das ferramentas que ele sugere. A felicidade e a realização estão no resultado. A beleza está no produto final, e não no que é simplesmente belo. Uma das grandes perdas que temos sofrido com a alta tecnologia da sociedade pós-moderna e a obsessão pelo sucesso é a da percepção da beleza. Valorizamos cada vez mais a eficiência e cada vez menos a arte. Preferimos o fast food, e não mais saborear uma boa refeição. Substituímos o real e o natural pelo virtual e pelo plástico. Vivemos como um turista que leva nas viagens suas câmeras e filmadoras digitais para não perder tempo contemplando a beleza da arte ou da criação. A aparência nos impressiona mais do que a realidade. Dentro de nossas igrejas, o efeito da mentalidade tecnológica é sutil e devastador. Imaginamos que se temos uma boa liturgia, boa música e coreografia, teremos um bom louvor e uma boa adoração. Se temos um programa eficiente, teremos um bom e fiel ministério. Se temos um bom sistema de integração de visitantes, teremos uma boa comunhão. A tecnologia nos afasta do belo e o reduz a um programa que nos ilude e nos leva a pensar que a beleza está na eficiência do produto e não mais no olhar, no gesto de fé e coragem, na criatividade ou num simples sorriso. A incapacidade de perceber a beleza é um dos sinais mais evidentes de que temos perdido nossa relação pessoal com Deus. Falamos mais sobre a utilidade da obra da cruz e menos da beleza do crucificado. Somos mais atraídos pela funcionalidade da igreja e por suas atividades do que pela beleza da comunhão de amor e amizade entre os santos. Somos cada vez mais seduzidos pelos encantos de uma vida bem sucedida do que pela beleza da santidade. No entanto, a alma humana anseia pelo que é belo. Anseia pela harmonia da criação, pela nobreza da vida em comunhão, pela pureza do amor, pela glória da ressurreição, pelas realidades não visíveis. É a beleza que sustenta o coração em meio à dor e ao desespero. Santo Agostinho fez esta pergunta: “Podemos amar outra coisa senão a beleza?” Quando olhamos para a lista que o apóstolo Paulo nos apresenta das obras da carne, vemos ali um conjunto assimétrico, sem harmonia e beleza. São expressões que descrevem as formas mais bizarras de egoísmo, exploração, mutilação e destruição. Mas quando ele abre a lista do fruto do Espírito, vemos uma relação simétrica, harmoniosa e bela que nos atrai para Deus e o próximo. As “bem aventuranças” também são belas pela sua harmonia. A cultura moderna valoriza mais as obras da carne como expressões de realização e liberdade, do que o fruto do Espírito. Isso revela o grau de alienação em que vivemos. O livro do Cântico dos Cânticos é um convite à contemplação da beleza e da harmonia: “Como você é linda, minha querida! Ah, como é linda!”; ou “Como você é belo, meu amado! Ah, como é encantador!” A beleza contemplada em Cantares não é apenas estética. Ali, o belo é a harmonia de tudo o que existe dentro e fora, e de tudo o que envolve Deus e sua criação. O belo existe para ser contemplado. Não é sua utilidade ou propósito que nos atrai, mas sua beleza e harmonia. Ele pode até ser útil, mas não é isso que nos fascina. O belo não precisa ser útil para ser belo. O salmista nos convida para “adorar a Deus na beleza da sua santidade”. O ser Santo de Deus nos atrai porque revela a harmonia de todos os seus atributos (amor, justiça, misericórdia, bondade, poder etc) e a harmonia em toda a sua criação – “Viu Deus que tudo era muito bom”, conforme o Gênesis. Santo Agostinho em suas confissões, diz: “Que amo eu, quando vos amo? Não amo a formosura corporal, nem a glória temporal, nem a claridade da luz, tão meiga destes meus olhos, nem as doces melodias das canções de todo o gênero, nem o suave cheiro das flores, dos perfumes ou dos aromas, nem o maná ou o mel, nem os membros tão flexíveis aos abraços da carne. Nada disso amo, quando amo meu Deus. E contudo, amo uma luz, uma voz, um perfume, um alimento e um abraço, quando amo meu Deus; brilha para a minha alma uma luz que nenhum espaço contém, onde ressoa uma voz que o tempo não arrebata, onde se exala um perfume que o vento não esparge, onde se saboreia uma comida que a sofreguidão não diminui, onde se sente um contato que a saciedade não desfaz. Eis o que amo, quando amo meu Deus”. Para Agostinho, seu encontro com Deus trouxe de volta a harmonia e a beleza. Para ele, amar a Deus envolve, entre outras coisas, romper com o caos, recuperar os sentidos, olhar em volta e perceber a graça e a bondade de Deus na luz do sol, na escuridão da noite, na ingenuidade infantil e nas tribulações da vida. Precisamos recuperar a contemplação e o belo numa cultura pragmática e fortemente determinada pelas forças do mercado. Precisamos resistir à pressão pela produtividade. Precisamos voltar a entrar na igreja simplesmente para adorar a Deus na beleza de sua santidade e reconhecer: “Que magníficas são, Senhor, as tuas obras! Quão profundos são os teus pensamentos!” Precisamos voltar a reconhecer a harmonia e a grandeza da criação e da obra de Cristo e celebrar a beleza da presença de Deus na vida e na história, para que a oração recupere seu significado.
Ricardo Barbosa de Souza é conferencista e pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasilia.

Amizade entre Crentes

Rubem Alves, um escritor cristão que conta umas histórias que poucos querem ouvir, disse que:"Os verdadeiros amigos são aqueles que mesmo em silêncio, sentem prazer quando estão juntos". Confesso que é dos temas que me dá mais gozo de pregar ou escrever. Infelizmente, noto que, cada vez é mais difícil conquistarmos novas amizades e até preservarmos aquelas que ainda temos. Aelred de Rievaulx parafraseou 1.Jo4.16 - " Deus é amizade e todo aquele que permanece na amizade, permanece em Deus". Nossa sociedade utilitarista dificulta as amizades. Ela nos convida a nos tornarmos( no dizer de Ricardo Barbosa) " prostitutos relacionais", fazemos amigos afim de... Usamos a amizade como fonte relacional - evangelismo por amizade. O problema é o que dizer se o "amigo" não se converte. Na verdade não fazemos uma amizade em troca de nada. O psiquiatra R. D. Laing expressou: " Estamos nos destruindo a nós mesmos de forma eficaz por meio de uma violência que se mascara de amor..., não admira que o homem moderno seja viciado em pessoas; e quanto mais viciado fica, menos satisfeito fica, e mais solitário fica". A conclusão mais importante desta patologia é que os relacionamentos humanos existem somente para servir-nos. Ora, Jesus galgou de uma relação de serviço para uma relação de amizade, (Cf. Jo15.15).

8.10.06

Domingo

Hoje acordei nostálgico. Me lembrei das caminhadas para a escola dominical atravessando o "botas" em direção ao Alto Brejo. Me lembrei também dos jogos de futebol do meu Paio Pires e das habituais goleadas. Coisas de quem está longe. É claro, que me lembrei da minha família e dos meus amigos!

7.10.06

Solidão Pós-Moderna

O Século XXI é mutante. Isso não chega a ser novidade, se pensarmos que o homem sempre esteve, digamos, evoluindo. A ciência e a tecnologia estão aí, dando saltos imensos, em frentes que vão da microbiologia e seus transgênicos à busca do deslindamento da história do universo, através das lentes de poderosos telescópios.Somos mutantes, no entanto, no sentido de que nossa humanidade se perde nessas mudanças. Elas são em número e velocidade acima de nossa capacidade de absorção. Alienação passa a ser um antiácido a ser ingerido juntamente com a salada de frutas de informação que temos que deglutir todo dia.Nossa desumanização começa, por exemplo, quando abrimos mão da casa paterna para tentar a vida em uma outra cidade ou país — e nunca mais voltamos. Nossos pais ficam sem netos e nossos filhos sem avós e tios. E nossa história, nossos valores, ideais, referenciais e heróis; nosso patrimônio simbólico, enfim, se perde na distância.Longe da família e da igreja de origem, buscamos formar uma nova família. Uma família plasmada na correria da vida, na superficialidade, na sensualidade e na urgência oriunda de uma crescente carência afetiva. Tentamos reter na memória a nossa velha humanidade, mas já não nos sentimos à vontade abrindo o coração, falando do mundo interior, de sonhos, de ideais, de projetos de vida que, eventualmente, possam ser vividos a dois. "Ficamos" até onde for possível.No ambiente de trabalho, as relações são cordiais o suficiente para esconder a luta encarniçada estabelecida pela competição: somente os mais adaptados sobrevivem. Os encontros, festas, almoços e jantares de negócio são o que resta dos laços cálidos e duradouros dos companheiros da infância.Para sobreviver nesse ambiente hostil e exigente, pai e mãe precisam trabalhar. Para serem alguém, algo mais que simples "mão-de-obra", precisam de toda a energia disponível para tocar uma carreira de sucesso. Precisam vencer na vida. E essa vitória não comporta filhos. Pelo menos não do jeito antigo: filhos para serem amados em um convívio extenso e intenso. Agora eles são "curtidos" nos finais de semana em que não estejamos viajando a serviço. Durante a semana, terão uma boa educação numa creche ou numa escola de tempo integral. Desmamados cedo, eles aprendem a ser independentes.Quando o divórcio vem (a carreira pode exigir), eles passam a viver ora com o pai, ora com a mãe — e com seus meio-irmãos, oriundos do novo casamento do pai e da mãe.Não tenhamos pena desses nossos filhos. Eles se adaptarão. Sobreviverão e serão parecidos conosco. Não, serão melhores. Serão mais fortes e resistentes às distâncias, indiferenças e separações. Serão adaptados a um mundo onde não se olha para dentro, para a alma; aprenderão a ligar a televisão para não ouvir o silêncio; aprenderão a se ligar às pessoas sem chegar perto; aprenderão a confiar desconfiando e a não esperar misericórdia; aprenderão a fazer amor sem amar; aprenderão a viver no Século XXI. São mutantes.Alguns deles, um dia, numa praça, numa esquina, ouvirão dizer que "Cristo salva". E pensarão: "não estou morrendo". Outros, no entanto, compreenderão que nEle lhes é possível uma nova e antiga humanidade — a humanidade original, na qual o colo do pai, da mãe, de tios e avós lhes é restaurado no mistério da igreja; no milagre da regeneração de seu próprio interior. Salvação. Nossos filhos mutantes, perdidos e órfãos ouvirão: "assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus" (Ef 2, 19)— e crerão.
(Rubem Amorese)

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...