30.6.05

A Necessidade de Reforma no Culto ( Parte IV )

Precisamos ter cuidado nas considerações que fazemos acerca das novas tendências no culto, mas também quanto à natureza do evangelicalismo contemporâneo. Estamos reflectindo sobre essas mudanças no culto, avaliando também os novos evangélicos. É óbvio que muitos enxergam essas novidades sob um prisma positivo. Chamam a isso "renovação" ou "uma nova visão". Seguindo a cultura moderna, poderíamos avaliar as mudanças pragmaticamente. As igrejas têm crescido? As igrejas têm tido êxito em evangelizar muitos? Os crentes têm alcançado novos níveis de fé, devoção, amor e serviço? Se vamos ouvir os casos, a conclusão pode até ser que muitas igrejas têm alcançado sucesso. Há inúmeras histórias entre os evangélicos sobre igrejas que crescem e igrejas plantadas com o uso das novas medidas introduzidas no novo culto. Mas será que esses relatórios dão um retrato fiel da experiência da igreja contemporânea?
Lamentavelmente, com maior frequência essas histórias parecem mostrar o mau costume evangélico de gostar de superlativos em vez de reportagem objectiva. Quase tudo que fazemos é anunciado sendo o melhor de todos os tempos: promessas de encontros evangelísticos e manifestações do poder de Deus jamais experimentados na história do mundo. Os evangélicos parecem estar sempre"em momentos inéditos de oportunidade" que vão ser aproveitados com recursos jamais antes disponíveis. Os superlativos evangélicos são uma manifestação herdada de Charles Finney, que via o entusiasmo como chave ao sucesso evangélico. J.I.Packer chamou a isso de " tecnologia religiosa". Finney declarou: "O objectivo das medidas que tomamos é ganhar a atenção e temos de ter algo novo". O problema é que, uma vez transpostos os casos sobre as realizações novas e empolgantes, a prova do êxito evangélico não aparece; tristemente está em falta. O Brasil não está experimentando um avivamento de fé ou consagração. Os crentes podem estar se deslocando de uma igreja para outra, mas no geral o Cristianismo não parece estar crescendo. A prova mais visível é a corrupção generalizada nas Instituições e confusão denominacional. De facto, o cristianismo evangélico parece estar sendo mais fraco e menos influente. Corre sério risco de fracassar de acordo com seus próprios critérios de sucesso.
A avaliação mais importante do evangelicalismo e do seu culto, entretanto, tem de ser bíblica e teológica. Os únicos critérios da fidelidade que têm importância são os de Deus, e esses critérios só se encontram nas Escrituras. Infelizmente, aqueles que enfatizam a "inovação" e defendem a introdução de novos elementos no culto, pouco ou nada sabem daquilo que a Palavra de Deus diz. Não a lêem simplesmente, não a usam como ponto de apoio, "como regra de fé e prática".( Continua)

28.6.05

A Necessidade de reforma do Culto ( parte III )

A mentalidade evangélica dos dias de hoje é fruto de vários fenómenos que passam despercebidos a muitos. O culto público como central na vida e experiência cristã, perdeu seu papel. Muitos enfatizaram que toda a vida era um culto, e que o culto poderia assumir muitas formas que não essa do culto do povo de Deus reunido. Para muitos, o enfoque verdadeiro de sua vida cristã tornou-se os grupos pequenos para estudo bíblico, oração, confraternização e discipulado. Os grupos pequenos parecem oferecer a oração mais pessoal e sincera, a comunhão mais íntima e significativa, o ensino mais relevante e eficaz. É provável que poucos evangélicos de hoje concordassem com Calvino que ouvir um sermão fosse espiritualmente mais importante do que fazer leitura bíblica em particular. Assim, muitos evangélicos concluiram que seu culto público estava sendo ineficaz, enfadonho e irrelevante.
Segundo, os líderes já introduziram muitas modificações ao culto público em nome do evangelismo. Uma paixão pelo evangelismo vem sendo de longa data um interesse central dos evangélicos. Então torna-se irresistível o argumento de que os novos elementos de culto ( quer sejam drama, dança ou louvorzão - ou mesmo uma ordem de culto planejada especialmente para os interessados) vão cooperar para o evangelismo e crescimento da igreja. As mudanças são feitas, aconteça ou não a verdadeira evangelização.
Terceiro, as mudanças tornaram o culto bem mais interessante e atraente para muitos. Numa cultura em que são poderosas e quase onipresentes as imagens da televisão e do cinema, novos usos dos recursos visuais têm grande apelo. Numa cultura em que são variadas e profissionais as músicas, CD e fitas cassete, os evangélicos da nossa cultura estão acostumados a receber entretenimento. A igreja tradicional - com palavreado, ritmo lento e música antiga - parece entediante e enfadonha. As mudanças parecem trazer a vitalidade de volta ao culto.
Quarto, essas mudanças representam uma aceleração e ampliação de mudanças que vêm ocorrendo no culto evangélico nos últimos duzentos anos. A ascensão do avivalismo, especialmente, como forma dominante do evangelicalismo na Amérca do Norte do século 19, atingiu em cheio o Brasil e Europa, estabelecendo tendências no culto que culminaram naquilo que vemos hoje. - O apelo para ir à frente ficou sendo o novo elemento em muitos cultos. Sermões se tornaram, com frequência, sobretudo evangelísticos. A desconfiança mantida com respeito ao clero profissional e à instrução formal incentivou o aparecimento de pregadores leigos, dos quais Dwight L. Moody foi o mais conhecido. Na música, os Salmos foram substituídos pelos hinos de Watts e Wesley, e estes, por sua vez, deram lugar a cânticos avivalistas, cuja qualidade parece ter declinado cada vez mais em seu conteúdo teológico, forma poética e música. Momentos de música e show, substituíram, por vezes, o culto de adoração. Música especial cantada em play back e corinhos renovados tornaram-se importantes para criar a atmosfera do culto. Bill Sunday, 1914, registra sobre suas reuniões: " A introdução do culto é feita por cerca de meia hora a uma hora dessa música variada. Quando o próprio evangelista está pronto para pregar, a multidão já foi levada a um entusiasmo e fervor que a torna receptiva à sua mensagem".
Quinto, os evangélicos não levaram em consideração quantas mudanças contemporâneas no culto eles tomaram emprestado das igrejas pentecostais ou carismáticas: o estilo espontâneo, a liderança múltipla, a expressão espontânea de pensamentos e sentimentos individuais, o tipo da música e o dramático. Muitas dessas mudanças se apóiam sobre teologias carismáticas de espiritualidade, culto e ministério.
Sexto, a pronta aceitação dessa mudanças mostra o quanto os evangélicos se acomodadram à cultura moderna. As mudanças todas parecem naturais numa cultura que tende a ser democratizada, antiintelectual, pragmática e optimista. Numa cultura democratizada e individualista, parece ser completamente apropriado cada menbro da igreja ser capaz de liderar o culto e cada um encontrar formas de culto e música que o atraiam e satisfaçam. Numa cultura antiintelectual e pragmática, irão parecer mais apropriadas as formas de culto que mais apelam às emoções do que à mente, as que são imediatamente acessíveis e que atraem o povo, e não as que apresentam um desafio ou que são disciplinadas. O entretenimento substitui a edificação. Como D.G.Hart o expressou num artigo chamado "O Culto Evangélico Pós-Moderno":"na verdade, o culto contemporâneo - e a vida da igreja, pode-se dizer - depende cada vez mais dos produtos modernos da cultura popular... Em lugar de ganhar maturidade e adoptar a gama mais ampla de experências que caracteriza a idade adulta, os evangélicos... querem recuperar e perpetuar as experências da adolescência". Numa cultura optimista, as igrejas presumem que muitos já estão buscando a Deus e que a mensagem do peado, juízo e inferno deve ficar em surdina.(Continua)

27.6.05

Armas de fogo no Brasil matam mais que guerras


O número de mortes por armas de fogo registradas no país nos últimos 10 anos superou o número de vítimas de 26 conflitos armados no mundo, entre eles a Guerra do Golfo e a disputa territorial entre Israel e Palestina. Os dados são de um estudo da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A pesquisa "Mortes Matadas por armas de fogo no Brasil de 1979 a 2003" foi divulgada nesta segunda-feira em Brasília.
Segundo a Unesco, morreram no Brasil 325,551 mil pessoas por armas de fogo, uma média de 32,555 mil mortes por ano, nesse período.
"O Brasil, infelizmente, é campeão mundial por homicídios com armas de fogo, e a Unesco, mais um vez, com esta publicação, nos permite atualizar dados, informações, refazer o diagnóstico e sobretudo nos coloca novos argumento para que possamos nessa semana convencer a Câmara dos Deputados a votar o projeto de decreto legislativo que marca o referendo", afirmou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), autor do projeto de decreto legislativo que autoriza a consulta popular sobre armas de fogo.
O estudo, coordenado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, revela que, entre 1979 e 2003, as armas de fogo tiraram a vida de 550 mil pessoas. Em 24 anos, as vítimas de armas de fogo cresceram 461,8%, enquanto a população aumentou apenas 51,8%.
Segundo a pesquisa, em 1979, as mortes por armas de fogo representavam 1% do total de óbitos do país. No ano de 2003, as armas já eram responsáveis por 3,9% do total de mortes. O uso de armas de fogo foi maior nos homicídios, que registraram crescimento de 542,7% no período da pesquisa. Os suicídios por armas de fogo cresceram 75% e as mortes causadas por acidentes com armas de fogo caíram 16,1%.
Do total de mortos por armas de fogo entre 1979 e 2003, 205.722, ou 44,1% foram jovens entre 15 e 24 anos. Nessa faixa etária, a mortalidade por armas de fogo passou de 7,9%, em 1979, para 34,4% em 2003, o que, segundo a pesquisa, significa que um em cada três jovens que morrem no país é ferido por bala.
As armas de fogo também aparecem na pesquisa como a terceira causa de morte entre os brasileiros, atrás somente das doenças do coração e das doenças cerebrovasculares. Entre os jovens, contudo, as armas de fogo aparecem na pesquisa como a principal causa de mortalidade. Em seguida, vêm as mortes no trânsito.
"Essa realidade não pode continuar. Mais do que nunca as pessoas precisam entender que todo país do mundo que tirou as armas de circulação teve como conseqüência disso a diminuição da criminalidade e da violência", afirmou Renan Calheiros.
Agência Brasil

Desabafo de um Brasileiro

Já lá vai o tempo que os ratos viviam nos esgotos. Agora eles vivem em piso de madeira corrida, piso de mármore, paredes decoradas com quadros famosos, pois hoje no Brasil vivemos uma corrupção generalizada em todos os sentidos. Hoje em cada esquina dos “palácios” vimos pessoas se enriquecendo da noite para o dia. É terrível para a situação que foi implantada, e exatamente com os "homens das leis". Nas Manchetes vimos: Homem bomba, Denúncia de esquema, Favorecimento nas licitações, Funcionários do governo envolvidos em escândalos, 150 milhões viraram pó. Em todos os cantos do país. É impossivel aqui citar todos os casos, teríamos que gastar muita tinta. No entanto, vejamos alguns: Em Roraima foram desviados 300 milhões. Em São Paulo a ex-Prefeita envolvida em maracutaias (esquemas escuros) que envolve 500 milhões.Todos eles continuam livres e ricos. No Rio de Janeiro mais milhões, em Minas mais milhões. São tantos milhões, que já viraram b i l h õ e s. Se lembram do Jader Barbalho com a máfia da Sudam?Está livre e hoje é Deputado Federal, no Pará. E a máfia dos vampiros que assaltava o Ministério de Saúde? Todos soltos, leves e ricos. A mais fresquinha das notícias é a dos C o r r e i o s com muita gente do governo envolvidos.Hoje o país caminha na direção de uma crise institucional. São muitas as suspeitas de corrupção e isso deixa o país frágil, amargo , com o povo decepcionado, estagnado, amedrontado diante de tantas e tantas falcatruas sendo impedido de agir, sem forças para reagir. O nosso Presidente, tentando disfarçar sua preocupação, acaba jogando mais problemas (para não dizer outra coisa) nos ventiladores do Congresso. Seu Partido com envolvimento de enriquecimento ilícito que começa desde o Secretário até o mais “humilde faxineiro”(são chamados de laranjas).Os ratos estão soltos, precisamos dar um basta nessa situação. Os ratos começaram nos esgotos, andando de chinelos, camisetas, batendo bumbo e hoje? O dia a dia faz com que esqueçamos toda essa forma nojenta de se dar bem na vida, pois vivemos de momentos, com a mídia ditando “as ordens” fazendo esquecer os acontecimentos do dia anterior, passando borrachas, ficando tudo no esquecimento. Quantas e quantas manchetes que já se foram e ficaram para trás. Hoje nosso país está sem rumo, ficando sempre no desenvolvimento, passa anos e mais anos e continuamos estarrecidos com tantos problemas, que na maioria das vezes criados pelos fazedores de leis, que continuam livres, leves e soltos...De vez em quando a prisão de empregada doméstica, porque foi presa em flagrante quando tentava furtar um xampu; outro tentando furtar uma galinha; outro por um real e outros... milhões, milhões e milhões e aonde estão eles, preparando, instalando as CPI’S para mais uma vez cair no esquecimento. Que Governo é esse que sabia das falcatruas, “um disse e me disse” de ministros, deputados e até do próprio presidente – Ah!eu sabia, o fulano tinha me dito! E as denúncias estão todas as manchetes. O governo atravessa a pior crise. Agora temos mais um novo salário que para eles é o MENSALÃO. Outro dia conversando com um correligionário petista, confidenciou-me que já estava saindo do partido, porque a decepção é enorme, volumosa em reais, dólares, euros,etc. Está na hora do BASTA! É A CARA DO BRASIL! BASTA! ESTAMOS MERGULHANDO NUM ABISMO! A ESCURIDÃO SE FAZ PRESENTE EM NOSSAS VIDAS!
NÓS POVO TEMOS QUE DAR UM BASTA.

Josef Gonzalez Fernandez

A Necessidade de Reforma do Culto ( parte II )

Várias experiências no culto, durante os últimos 30 anos, têm alterado significativamente a liturgia evangélica das denominações históricas (Congregacionais, Presbiterianos, Batistas, Metodistas). Primeiro, muitos acrescentaram elementos novos no culto. Segundo, muitos têm mudado a natureza de elementos tradicionais do culto. Terceiro, muitos alteraram a quantidade, o estilo e o papel da música no culto. Quarto, as igrejas têm demonstrado estarem dispostas a envolver muito mais pessoas na direção do culto. Quinto, muitas igrejas têm feito mudanças nos horários de seu culto.
Quando pensamos em novos elementos, estamos nos referindo a dança litúrgica e curtas encenações dramáticas ou até humorísticas. Algumas igrejas usam recursos visuais - de faixas a slides e filmes. Outras acrescentaram variadas actividades pentecostais, incluindo desde ser morto no Espírito, risos santos, sapateado, sopro no microfone ( e as pessoas caem), assim como o paletó ou o casaco do pastor voando sobre as cabeças dos ouvintes trazendo euforia e quedas.
Muitas igrejas mudaram a natureza de elementeos tradicionais do culto. Os dirigentes lêem textos cada vez mais curtos e passam muito menos tempo em oração. Aliás, isso é facilmente comprovado nas reuniões de oração. Em relação aos sermões, eles são cada vez mais psicológicos em lugar de teológicos ou expositivos. O tema principal da agenda dos pregadores é como cuidar do stress, do tempo ou do dinheiro. A Ceia do Senhor pode ser ou eliminada ou enfeitada de novidades cermoniais e simbolismo.
Muitas igrejas viram mudanças grandes na área da música. Dão muito mais tempo à música e fazem uso de maior variedade de instrumentos e mais música especial, notadamente de solistas. O estilo da música também mudou. Música clássica e os hinos tradicionais deram lugar a cânticos de louvor de estilos que variam do rock ou pop ao country e sertanejo cristão. E ainda com erros terriveis de português, heresias e sofismas. Por outro lado, enquanto a música tradicional era parte importante do diálogo entre Deus e seu povo, em muitas igrejas a música tornou-se a alma do culto, até sendo chamada de a parte de "Louvor e Adoração" do culto. A música para alguns parece ter-se tornado um novo sacramento, transmitindo, como intremediária, a presença e experiência de Deus, estabelecendo um elo místico entre Deus e o adorador. Com os olhos fechados e as mãos no ar, os participantes repetem frases simples que se tornam mantras cristãos.
Muitas igrejas abandonaram a prática histórica de ter um ministro ordenado para dirigir o culto. Várias partes da liturgia são agora dirigidas por profissionais ou membros da igreja. Em alguns lugares nenhuma parte do culto - nem sermão, sacramentos, bênção - parece estar reservada para o ministro.
Há igrejas que têm feito mudanças quanto ao horário do culto. Em muitos lugares o culto de domingo à noite morreu. Mas sábado ou domingo de manhã apareceu como novo horário de culto para os ocupados, que guardam o domingo para trabalho ou recreação. A Escola Dominical em algumas igrejas deixou de existir ou passou para um dia da semana. Algumas igrejas dão muito mais atenção aos dias"santos" do ano eclesiástico. O Natal recebe pelo menos um mês de preparação em muitas igrejas( bem como no comércio). Mas, estranhamente, muitas vezes não se fazem cultos no próprio Dia de Natal.
Tudo isso nos mostra a insatisfação com o culto tradicional que prevalecia entre os evangélicos e nos dá uma visão da mente evangélica contemporânea. (Continua)

25.6.05

A Verdade É Somente Uma


Vivemos uma época em que a cultura no geral afirmou um compromisso com a antiverdade. O mundo moderno faz guerra à própria noção da verdade. A visão científica de mundo do naturalismo suplantou a noção do Criador e criação. O surgimento de filosofias críticas atacou a revelação e a inspiração. A ascendência do humanismo varreu para longe as idéias de pecado e limitações. A arrogância humanista da época afastou a providência e o governo divino. A imergência do eu imperial levou à rejeição de todo o temor do juízo e da ira divina. O assalto da modernidade contra a verdade fez o seu estrago - não que a modernidade tenha enfraquecido a verdade, porque a verdade é inviolável. Mas esse assalto e consequente prejuízo pode ser medido na secularização crescente da cultura e das igrejas, no testemunho contemporizado de muitos crentes, nas mensagens acomodadas pregadas em muitos púlpitos e na confusão mortífera da época.
Como podemos lutar pela verdade numa Era de antiverdade? Primeiro, precisamos admitir que muito do que enxergamos é uma espécie de verdade distorcida. Os filósofos gregos começaram por buscar a verdade ou o verdadeiro, diante da falsidade, da ilusão, da aparência, etc. No entanto, a verdade das coisas não é, então, a sua realidade em face da sua aparência, mas a sua fidelidade em face da sua infidelidade. Para o hebreu, verdadeiro é, pois, o que é fiel, o que cumpre ou cumprirá a sua promessa, e por isso Deus é o único verdadeiro, porque é o único realmente fiel. Agostinho diz haver uma fonte para todas as verdades: essa fonte é Deus ou a "Verdade". Mas como compreender? Ou na linguagem filosófica, como capturar essa verdade, que é realmente a "Verdade"? Uns dirão que é a inteligência que a capta, outros a intuição, outros, por fim, que é captada através das sensações. A Bíblia diz que o homem vive em escuridão "Apalpamos as paredes como cegos, como os que não têm olhos, andamos apalpando. Tropeçamos ao meio-dia como nas trevas e nos lugares escuros somos como mortos" (Is 59:10).
A religião secularizada sem coração não passa de uma instituição de condutores cegos de cegos (Mt 15:14). A falsidade e a heresia mostram o evangelho sendo usado como fonte de lucro e vantagens - um evangelho pesado e terrorista "Atam fardos pesados [e díficeis de carregar] e os pôem sobre os ombros dos homens; entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem movê-los" (Mt 23:4). Paulo fala de sentidos "embotados", "obscurecidos" (2Co 3:14).
A verdade que o mundo não quer ver, tem um presente anestesiado pelas emoções passageiras. Em alguns corações existe "bem estar" ilusório, inconstante, medo de conhecer a verdade, por outro lado, em alguns corações existe o descaso a "vulgarização do poder de Deus" (Ec 5:2). A filosofia deste mundo vem travando uma batalha contra Deus, procurando pôr em dúvida a "Verdade", conforme Pilatos o fez. A verdade não é deste reino terreno. A verdade vem de lugares longínquos, inacessíveis, "Nem os olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam" (1Co 2:9).

A Necessidade de Reforma do Culto

A fé envolve a verdade de Deus ( doutrina), encontro com Deus (culto) e servir a Deus (vida). A inseparabilidade desses três elementos é vista repetidas vezes nas Escrituras e na história do povo de Deus.Através dos séculos, os crentes têm observado essa mesma ligação entre doutrina, culto e vida. Agostinho, por exemplo, expressou-a claramente em suas Confissões quando discutia sua conversão. A conversão teve uma dimensão intelectual quando ele aceitou a verdade da doutrina cristã. Teve uma dimensão moral à medida que ele abandonou seus hábitos canais e abraçou a castidade. Teve uma dimensão sacramental quando ele foi batizado e tornou-se parte integrante da comunidade adoradora de Cristo. João Calvino ligava esses três temas ao pensar sobre a alma da reforma: "Há três aspectos sobre os quais a segurança da Igreja se fundamenta, que são, a doutrina, a disciplina e os sacramentos, e a essas acrescenta-se uma quarta - as cerimónias pelas quais se pode exercitar as pessoas em ofícios de piedade". Para Calvino, a doutrina da salvação, o culto com sacramentos puros e a vida da igreja foram essenciais para a reforma do Cristianismo. Essa preocupação da Reforma continuou existindo entre os protestantes ortodoxos. Por exemplo, os puritanos do século 17 produziram, na Confissão de Fé de Westminster, um grande sumário de doutrina. Mas essa assembléia também preparou tanto um saltério para se cantar o louvor de Deus como um directório para servir de guia ao culto público. A Assembléia de Westminster também mostrou seu interesse na vida cristã fiel com sua exposição detalhada dos Dez Mandamentos, que ela pôs como parte do Catecismo Maior. Embora os três elementos de doutrina, culto e vida tenham sempre continuado a afectar um ao outro, por vezes na história da igreja moderna um elemento parece ter-se salientado mais do que os outros. A doutrina foi proeminente na controvérsia entre o liberalismo e o fundamentalismo nas décadas de 20 e 30. O culto foi central nas lutas da Presbiteriana Escocesa no século 17. A vida tem dominado uma variedade de movimentos modernos que reagiram principalmente contra o que perceberam de formalismo e estagnação na igreja. Pietismo, metodismo, reavivalismo, o movimento Holiness e o pentecostalismo, todos frisam o chamado à vida. Nos últimos trinta e cinco anos o movimento evangélico expressou preocupações nas três áreas. Os evangélicos lutaram para preservar a sã doutrina na sua defesa da inerrância das Escrituras. Manifestaram a seu compromisso moral na oposição ao aborto. Também assumiram extensos experimentos no culto público de Deus.(Continua)

150 Anos

Foi a 10 de maio de 1855 que Robert Kally e sua esposa Sarah desembarcaram no Rio de Janeiro. Ponto de partida para o nascimento do congregacionalismo no Brasil, cidade de Petrópolis, 19 de agosto, propriedade "Gerheim"(lar muito amado), o Dr. Kalley e dona Sarah instalaram, nessa tarde, uma Escola Dominical. Foi lida e comentada a história do profeta Jonas, cantaram-se hinos e deram graças ao senhor. Depois em dezembro do mesmo ano a pedido do Dr. Kalley, o jovem inglês Guilherme D. Pitt, chega para trabalhar na Obra, juntando-se os casais portugueses da Madeira, Gama, Jardim, e Fernandes, amigos íntimos do casal Kalley, dando início à aventura missionária no Brasil. Hoje as igrejas congregacionais ligados à UIECB contam aproximadamente de 340.

Robert Reid Kalley (Infância e Juventude(1809a 1838)

No dia 5 de dezembro viajou para Paisley, onde pediu a mão de Margarida em casamento. Era a jovem que havia conhecido em 1833. Sobre ela e seu pretendido enlace havia conversado com o secretário da Sociedade. Seria conveniente que ela ficasse por algum tempo em alguma instituição de ensino bíblico e missionário enquanto ele completava seus cursos adicionais no Hospital e na Universidade. A respeito de Margarida, o Doutor escreve:
Ela desejava ardentemente entrar para o serviço de Cristo, ou ensinando ou em qualquer outra atividade em que seus talentos pudessem ser aproveitados. Consente no casamento e sua mãe também.
É uma jovem bem capacitada para o trabalho missionário. Possui fina educação. Tem servido como secretária do pai em seus negócios.
Dotada de gênio muito alegre, é consagrada e tem visão da obra de Missões.
Quanto ao físico, não é muito robusta e não seria capaz, creio eu, de enfrentar as durezas de alguns campos missionários. Foi criada com muito conforto. Espero, porém, que, embora delicada, sua estrutura seja perfeitamente sã e se dê bem em clima suava.
Seus poderes intelectuais a capacitam para os trabalhos de tradução ou qualquer atividade que se relacione com o redigir ou escrever, como também com o ensino, direção de escolas etc
.
O consultório de Kilmarnock, assim com seus clientes, ficaram, após a venda, aos cuidados de um jovem médico, seu amigo, que mais tarde se tornaria também seu cunhado, pois veio a casar-se com Jane Kalley.
A 9 de janeiro de 1838 foi convidado para fazer uma palestra numa das reuniões da Sociedade Missionária da Escócia, onde falou sobre a China e a urgente necessidade da pregação do evangelho no Extremo Oriente da Ásia. Essa palestra constitui-se na chamada divina para um dos seus ouvintes, que resolveu oferecer-se ao Senhor para o trabalho missionário naquele país. Foi o renomado missionário William Chalmers Burns, que realizou uma obra de incalculável valor na abertura de preciosas portas de penetração do evangelho naquele território. É interessante saber que a vida do Dr. Burns, sua grande piedade cristã e a sua amizade muito ajudaram Hudson Taylor em seu abençoado ministério. Taylor, por sua vez, se tornaria grande amigo, mais tarde, de Kalley e de D. Sarah, sua segunda esposa, fazendo o sermão de despedida no dia do enterro do Doutor, em 24 de janeiro de 1888, e estando entre os fundadores, ao lado de D. Sarah, Rev. James Fanstone, Dr. João Gomes da Rocha e mais oito companheiros, de Help for Brazil Mission, que sob inspiração de D. Sarah e do Rev. Fanstone se organizou em Edimburgo, em 1892.
Em uma reunião de despedida a seus amigos e clientes, solicitou encarecidamente suas orações, tanto na Igreja como nos lares, por ele e pela China. Mal supunha, porém, que os desígnios de Deus, que chama seus obreiros e lhes designa os campos, não o levariam para a China, conforme seus projetos pessoais.
Miss Margarida, de seu lado, preparava-se também para os deveres de esposa e auxiliar do missionário. Ela mesma sentia o apelo das Missões. O ministro da Igreja Escocesa, pastor de sua igreja em Paisley, escreveu a seu respeito:
Fora batizada por mim e criada na minha congregação. Assistiu às classes bíblicas para instrução da juventude por vários anos. Assim estava bem versada no conhecimento das Escrituras. É profundamente evangélica e possuidora de uma alma piedosa. Seu coração está fixo na obra missionária, para a qual a considero bem capacitada.
Nessa preparação para a obra ao lado do Doutor, mudou-se para Glasgow, onde pretendia tirar alguns cursos. Hospedou-se em casa de amigos. Era no mês de janeiro, tempo de frio muito intenso naquela região. Uma noite, alguém, por descuido, deixou aberta uma janela. O resultado foi Miss Margarida contrair uma forte pneumonia, que, por sua vez, revelou algo de mais grave: princípio de tuberculose.
Sentindo a gravidade do estado de saúde da noiva e que, por isso não seria aprovada pela Sociedade para o trabalho missionário, o que fatalmente acarretaria o cancelamento de sua própria indicação, o Doutor Kalley procurou imediatamente entrar em contacto com os diretores da Sociedade em Londres. Desobrigou-se de seus compromisso para com ela, propondo-se a indenizá-la de todas as despesas que ela houvesse tido com sua inscrição e com os estudos preparatórios na Universidade. A Sociedade, em 30 de janeiro, em vista dos fatos cancelou seu contrato com ele, admitindo que, "se em qualquer tempo ele sentisse ser de seu dever entregar-se à obra missionária em conexão com ela, seria dispensada a melhor atenção a qualquer pedido que ele julgasse próprio fazer".
No dia 2 de fevereiro foi celebrado o casamento de Roberto e Margarida em Paisley, na residência da genitora da noiva.O Doutor continuou, com recursos próprios, os estudos de Teologia e Medicina necessários no ministério missionário, pois tinha ainda no seu coração os caminhos do Oriente. Na turma de sua formatura, em 1º de maio de 1838, aparece também o nome de William Chalmers Burns, que conquistara a medalha de prata por sua aplicação.
Durante o verão daquele ano, em junho, julho e agosto, ficou evidente que a Srª. Kalley não suportaria os rigores do inverno que se vinha aproximando. Não somente ela, mas também uma de suas irmãs, Annie, precisavam transportar-se para uma região de clima mais ameno.
Lembrando-se da Ilha da Madeira, onde estivera alguns anos antes, e do clima salubérrimo que oferecia, o Doutor resolveu, de acordo com Margarida, que ali residiriam por algum tempo até que estivessem em condições de se transferirem para Cantão. A Srª. Crawford sentiu necessidade de acompanhar as filhas, e a outra filha menor, Elisabeth, também se juntou ao grupo. Tomaram passagem no navio Jane, barco a vela, veloz, de 356 toneladas, que zarpou de Greenock no dia 27 de setembro. A viagem transcorreu sem nenhum contra-tempo. Alguns passageiros assistiam aos cultos matutinos e vespertinos dirigidos pelo Doutor, que não encontrou, embora procurasse nenhum interesse da tripulação em ouvi-lo falar de assuntos religiosos.
No dia 11 de outubro atingiram a ilha. Não sendo possível o desembarque naquele dia, o navio ancorou ao largo e só no dia 12 fundeou na baía de Funchal. A tardinha, o Doutor e a família puderam desembarcar. Por pouco tempo, julgava ele, mas Deus o reteve ali por oito anos, num ministério pioneiro e difícil, a que o Dr. A. Bonar, a ele referindo-se na Assembléia Geral da Igreja Livre da Escócia, chamou de " o maior acontecimento das missões modernas".

24.6.05

Robert Reid Kalley (Infância e Juventude -1809 a 1838)

Essas circunstâncias históricas minaram e acabaram por destruir o seu ateísmo. Deus era real, não apenas como realidade subjetiva na experiência de cada crente, mas real e poderoso, supremamente operante nos fatos da história do mundo e da natureza que criara. em seu diário, descrevendo as circunstâncias que o haviam levado a libertar-se "das superstições, do fanatismo e da ignorância crass" representados pela "doutrina de qualquer divindade", diz haver na sua mocidade aplicado sua inteligência ao estudo de diversas ciências, investigando com o auxílio do microscópio e do telescópio, algumas das maravilhas da Natureza, decidindo, por esses estudos e pesquisas, " que era impossível a um único Ser existir eternamente e tomar conhecimento de cada objeto na terra". Agora, a vida e a experiência pessoal daquela velhinha e os significados nacionais da vida de todo um povo através dos séculos encontram, para ele uma explicação que se impões: existe, sim, este Ser, que além de toda a capacidade de pesquisa através de microscópios e telescópios e além de toda compreensão lógica e científica da mente humana, governa a vida e os fatos da vida do homem individual e das nações. As profecias bíblicas dão provas disso.
Quando senti, satisfeito - falou ele mais tarde, em 21 de agosto de 1845, perante a Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana Livre da Escócia - quando senti, satisfeito que há um Deus, que este Livro (apontando para a Bíblia) é de Deus, então senti também que cada cristão é chamado a entrar naquele campo de atividade em que melhor possa usar para Deus todos os talentos que ele lhe deu. E, quanto a mim, tenho pensado de que maneira, como médico cristão, posso melhor servir ao Filho de Deus.
Renunciando, pois, ao ateísmo e confessando a Cristo como seu Salvador e Senhor, reconciliou-se com a Igreja e foi admitido a comunhão. Nas visitas médicas e nas consultas em que recebia os clientes, não somente procurava, daí por diante, tratar do corpo e das enfermidades físicas, mas conversar também sobre as necessidades da alma, usando as Escrituras para leitura e meditação. A classe de moços, agora aumentada, passou a reunir-se à noite na Igreja, após o culto divino. Uma outra classe, de adultos, foi iniciada em sua residência e também uma outra, para os clientes mais pobres, que se reunia às quintas-feiras, numa das dependências do templo. Tinha, então 26 anos. A conversão, o estudo meticuloso das Escrituras e a dedicação de seu futuro a Deus deram-lhe o sentido, que há tanto tempo procurara, das razões e do propósito de sua vida. Robert Reid Kalley encontrara, por fim o seu Senhor(20).
Seus pensamentos voltaram-se para o vasto campo missionário. Da Grã-Bretanha, da Escócia, da América, da Morávia e de muitos países pioneiros haviam saído para levar o evangelho ao Oriente e a África, às distantes ilhas da Polinésia, nos mares do Sul. Kalley contemplou a grande necessidade da China, com uma população enorme sem o conhecimento de Cristo. Acompanhava, com vivo interesse, os relatórios dos trabalhos evangelísticos e de assistência médica dos missionários naquele país. Leu em uma revista da Sociedade Missionária de Londres um apelo aos médicos cristãos para dedicarem sua vida e seus talentos ao serviço da humanidade sofredora do oriente, pois era a porta principal por onde a Palavra de Deus poderia alcançar, de modo objetivo, aquelas populações. Entendeu que esse apelo vinha diretamente a ele, de Deus naquelas circunstâncias. Comunicou a Miss Kay os seus propósitos e ela lhe escreveu, em carta de 18 de julho de 1835:
Querido Roberto:
Estou muito alegre por saber que estás tão preocupado na instrução da juventude... O teu contacto com esses casos (as pessoas que buscavam a salvação) será um meio de encorajamento a ti mesmo servirá para firmar-te bem na doutrina da Graça divina.
Quanto à tua idéia de estudar para o ministério, não digo nada contra, pois conheço os teus motivos desinteressados e creio que aquele que é a grande Cabeça da Igreja pode perfeitamente conceder-te os dons necessários e abrir-te a porta, se tiver trabalho dessa natureza para ti.
Falas de ser missionário. Não há dúvida que há muito trabalho nesse campo, especialmente nos bairros pobres. Sem dúvida o salário é pequeno, ou nenhum. Mas visto te haveres dedicado com tudo o que tens no serviço de Cristo, nada do que gastares - ou em tempo ou em dinheiro -será perdido. Deves continuar estudando em bons livros, que melhor de instruam nas doutrinas de Deus.
Papai me pede para dizer-te que está bem impressionado e manda aconselhar-te que tenhas cuidado de não ler os teus sermões.

Em outra carta, pouco depois, Miss Kay o exortava:
Deus deve receber toda a glória, não somente por ter implantado em nosso coração a graça divina, porém também por toda ação conseqüente dessa Graça em nós. Não existe o exercício da fé, ou manifestação do amor, a não ser pela influência imediata do Espírito Santo - tão dependentes que somos de suas ações.

Com esperança de ser enviado à china, o Doutor, em 1836 à Junta Missionária da Igreja da Escócia oferecendo-se para servir como médico-missionário e evangelista em Cantão, naquele país, continuando o trabalho que Robert Morrison deixara interrompido por seu falecimento em 1834. O oferecimento não foi aceito, não só pelos muitos outros compromissos que Junta já possuía como também pelo de não estar a China incluída em seu campo missionário. Não havendo possibilidade de trabalhar no campo estrangeiro ligado à sua própria Igreja, Kalley dirigiu-se, então à Sociedade Missionária de Londres. A princípio, a oferta não foi bem aceita, mas logo depois, em 1837, a Sociedade resolveu enviar um médico-missionário à China. O Doutor alegrou-se com essa oportunidade que lhe aparecia. Entrou mais uma vez em correspondência com a Sociedade, pedindo informações quanto às exigências dela para a aceitação de sua candidatura. Foi enviado um memorandum, onde se salientavam os seguintes pontos:
A Sociedade ainda não havia enviado médicos, como tais, ao campo missionário, mas, agora, estava encarando a necessidade de suprir com essa especialidade, seus trabalhos no oriente.
A teologia é indispensável. Para a China e a ìndia é necessário que o candidato possua também uma preparação em letra clássicas, assim como em artes e ciências.
Para a África e Oceania, além do acima mencionado, um bom treinamento em trabalhos manuais.
As dificuldades são grandes. Mas a grande montanha oferecida por elas, pelo poder da verdade e do Espírito Santos pode tornar-se planície de grandes vitórias no evangelho.
O candidato deveria inscrever-se oficialmente, apresentando algumas cartas de referência(23).
Conseguida a inscrição, com a apresentação das cartas de referência exigidas, e depois de examinado pelo Comitê de recepção na cidade de Londres, no dia 7 de novembro de 1837 foi o Doutor inscrito como candidato ao trabalho na China, com previsões para partir de 1839. Aconselhado pelo Comitê, voltou à Universidade de Glasgow para "desenvolver seus conhecimentos em alguns ramos da ciência médica e em teologia". Começou também um curso das línguas grega e hebraica, para melhor comparar os textos da versão inglesa das Escrituras com os originais. Vendeu sua casa e seu consultório médico em Kilmarnock, procurando desembaraçar-se de seus compromissos locais, para ficar mais livre em seus preparativos de viagem.

23.6.05

Amizade entre Crentes

Rubem Alves, um escritor cristão que conta umas histórias que poucos querem ouvir, disse que:"Os verdadeiros amigos são aqueles que mesmo em silêncio, sentem prazer quando estão juntos". Confesso que é dos temas que me dá mais gozo de pregar ou escrever. Infelizmente, noto que, cada vez é mais difícil conquistarmos novas amizades e até preservarmos aquelas que ainda temos. Aelred de Rievaulx parafraseou 1.Jo4.16 - " Deus é amizade e todo aquele que permanece na amizade, permanece em Deus". Nossa sociedade utilitarista dificulta as amizades. Ela nos convida a nos tornarmos( no dizer de Ricardo Barbosa) " prostitutos relacionais", fazemos amigos afim de... Usamos a amizade como fonte relacional - evangelismo por amizade. O problema é o que dizer se o "amigo" não se converte. Na verdade não fazemos uma amizade em troca de nada. O psiquiatra R. D. Laing expressou: " Estamos nos destruindo a nós mesmos de forma eficaz por meio de uma violência que se mascara de amor..., não admira que o homem moderno seja viciado em pessoas; e quanto mais viciado fica, menos satisfeito fica, e mais solitário fica". A conclusão mais importante desta patologia é que os relacionamentos humanos existem somente para servir-nos. Ora, Jesus galgou de uma relação de serviço para uma relação de amizade, (Cf. Jo15.15).

22.6.05

Hinologia e Integração (Um Lamento)

Acabo de receber meu brinde de assinatura da revista Ultimato. Um CD, contendo hinos evangélicos tradicionais, interpretados pelo famoso conjunto Vendedores por Cristo. O que, a princípio, fora motivo de alegria, rapidamente se transformou em consternação. Refiro-me às letras dos hinos. Mais de dois terços delas me são estranhas. Simplesmente não são as mesmas letras que aprendi a cantar na minha infância. É um balde de água fria, quando você vai ouvir um hino antigo e não consegue cantar junto. Não ouso afirmar que a letra que aprendi seja a correta. Não sei. Nenhum agravo ao trabalho dos Vencedores, tampouco. Por sinal, de excelente qualidade. Muito menos à iniciativa da Ultimato. Mas fico triste — não consigo evitar — em não poder cantar junto. Entristeço, também, quando imagino que a hinologia evangélica poderia ser um fator de integração dessa grande família. Como nos filmes americanos, em momentos especiais — sejam dramáticos, sejam de comemoração — alguém puxa um hino e todos cantam juntos. O hino funciona como argamassa cultural a unir pessoas "separadas" por cor, raça, política ou geração. O hino, ao ser cantado — celebrado — em conjunto, funciona como elemento de integração, fornecendo a cada indivíduo participante bases históricas para sua identidade pessoal e coletiva. Imagine, entre nós, num grande evento no Maracanãzinho ou no Morumbi, alguém puxar "Comigo habita, ó Deus! a noite vem" — o tradicional "Comunhão Divina" com tradução de João Gomes da Rocha, falecido em 1947 —; música lenta, solene, quase fúnebre, que fala de final de dia, e de vida, de proximidade das trevas, e coisas assim. Imagine, a cena. O que aconteceria? Uma introdução de bateria pesada, em clima de Rock’n Roll, guitarras estridentes, e o dirigente entrando com "A ti ó Deus, fiel e bom Senhor/Eterno Pai, supremo benfeitor". E ainda “mandam pras cucuias”, junto com "as trevas crescem" o bemol do lá de "e o temor também". Em Castelo Forte, Deus, que era "espada e bom escudo", vira " escudo e boa espada". Pode? Porque alguém resolveu que, em vez de rimar com "em todo transe agudo", era melhor "a sua igreja amada". Ficou melhor? Ficou pior? Não sei. Acho que nem importa. O que lamento é que mais um hino tradicional perca o poder de integrar, pela letra, os evangélicos. Sim, vivemos numa sociedade livre e pluralista, onde todo mundo faz o que quer, louva como quer, canta como quer, a letra que quer — Dá licença?! Acho essa liberdade uma grande conquista da humanidade. Mas ao mesmo tempo percebemos que essa liberdade que nos fez mais ricos, mais coloridos, mais modernos, também nos arranca as raízes e nos faz mais sós. Mas isso não é o pior (pode ser pior?). Tem gente especializada em melhorar corinhos. Adicionam estrofes, mudam a melodia, a harmonia, e o ritmo. Chegam a tornar alguns irreconhecíveis. Normalmente esses irmãos são incapazes de fazer seu próprio corinho. No caso dos hinos, ainda se pode alegar (até procedentemente, admito a possibilidade) que a minha versão é que está errada, considerando a antigüidade, diferença de tradução etc. Um dia encontrei o Pr. Paulinho Brito desarvorado em um congresso. Ele estava com o livreto de corinhos na mão, aberto. Ao me ver, me perguntou de chofre: — Rubem, qual é o certo: "aqui viemos te adorar" ou "aqui nós vimos te adorar"? Macaco velho, eu saí pela tangente: — Não importa, Paulo; o importante é o que o autor fez, o original... — Pois o autor fez "aqui viemos te adorar ó Cristo"! — interrompeu ele, exasperado, naquele seu jeito agitado. — Como você sabe? — perguntei. Ele olhou bem para mim, tomou fôlego e respondeu: — O autor sou eu! Eu compus este corinho na semana passada, e já foi "melhorado". Fico feliz, no entanto, que o cânon da Bíblia já esteja encerrado. Já pensou no que fariam, hoje, com o Salmo 23?

(Rubem Amorese)

Estudo da Bíblia pode ser obrigatório no ensino médio

Agência Câmara
A inclusão da Bíblia como livro didático na disciplina de história nas escolas do ensino médio é o objetivo do Projeto de Lei 5198/05, do professor Irapuan Teixeira (PP-SP). Pela proposta, cada sistema de ensino definiria a Bíblia a ser adotada. O autor do projeto afirma que "a Bíblia é um importante documento de relatos da história antiga da humanidade, rica em fatos e com a descrição minuciosa dos hábitos e costumes de outros povos que, independentemente do credo religioso, podem buscar a comprovação das suas origens". Segundo Teixeira, a Bíblia é chamada de Livro dos Livros, "tal o seu valor histórico, religioso e social" para os cristãos - católicos, protestantes das diversas denominações, espíritas e os diferentes grupos ortodoxos. A Bíblia tem duas partes: o Antigo e o Novo Testamento. O primeiro é a herança da fé judaica, composto por 46 livros redigidos na vigência da Lei Antiga. Já o segundo compreende 27 livros que relatam a vida e a mensagem de Jesus Cristo e dos seus apóstolos. O projeto segue para análise em pelas comissões de Educação e Cultura; e Constituição e Justiça e de Cidadania.

Robert Reid Kalley (Infância e Juventude (1809 1838)

Em 1º de setembro de 1827, depois de um curso brilhante, recebeu atestado de trabalhos práticos no Hospital Real de Glasgow, onde se internara no curso de Farmácia. Em 03 de agosto de 1829, completando o currículo, diplomou-se em Farmácia e Cirurgia. Tendo obtido licença de cirurgião, fez sua primeira grande viagem marítima, como médico de bordo, no navio a vela Upton Castle, que se dirigia a Bombaim, na ìndia. Numa segunda viagem, o navio atracou em Funchal, capital da ilha da Madeira, para onde estavam consignadas algumas cargas. O jovem médico teve oportunidade de visitar a cidade e a ilha, que o impressionaram profundamente tanto pelas belezas naturais como pela situação de pobreza e de ignorância do povo. Isso veio a casar-se com as impressões trazidas diante da miséria e do fanatismo religioso observados em Bombaim e nas cidades costeiras do Oriente por onde passara e contribuiu para aprofundar o grau de agnosticismo a que se deixara levar.
Minha primeira visita à Madeira - escreveu mais tarde - foi em 1831. Pouco antes havia ocorrido em Portugal uma guerra civil, que repercutiu na ilha, onde houve casos de assassinatos, envenenamentos etc. Alguém me mostrou os estragos em certos prédios, ocasionados por balas de canhão. Houve coisas ali que me agradaram à vista e ao paladar. Foi no tempo da colheita das uvas. Lembro-me de passear pelas vinhas no sopé das montanhas. Passei pela Catedral e pela cadeia pública. Se alguém me houvesse dito que doze anos mais tarde eu estaria ali preso pelo crime de ler e explicar as Escrituras, eu teria respondido que isso seria inteiramente impossível.
Porém Deus conseguiu essa transformação, tirando-me da incredulidade.
Convidado a uma terceira viagem pela mesma Companhia, em 1832, lamentou não poder aceitar o convite, pois estava prestes a abrir consultório em Kilmarnock. Pouco depois chegava a notícia de que o navio em que deveria embarcar se incendiara próximo ao cabo da Boa Esperança, no extremo sul do continente africano, e, no naufrágio, haviam perecido todos os passageiros e tripulantes. Essa notícia lhe deve ter causado profunda impressão, mas não foi bastante para libertá-lo da irreligiosidade e do ateísmo que, então, o dominavam.
Em 1832 abriu o consultório em Kilmarnock. Hábil cirurgião, prosperou em seu trabalho atendendo a numerosas famílias da alta sociedade local, que formavam a sua clientela. Cheio de vida e muito espirituoso, temperamento herdado do pai, "cavalheiro de semblante alegre e de natureza extrovertida", amante dos esportes, tornou-se benquisto nas altas rodas sociais e sua presença era sempre requisitada nas festas sociais e familiares. Ganhou o apelido de "o médico dançador de Kilmarnock". Essas diversões e atividades não prejudicavam, porém, seus trabalhos profissionais, pois amava a medicina, e a cirurgia em particular, assim como os exercícios da clínica junto à gente mais pobre, a quem socorria às mais das vezes gratuitamente. Por dois anos tudo lhe corria a gosto e com êxito, quando começou a sentir que nem os prazeres deste mundo nem as vitórias obtidas em sua profissão poderiam satisfazer plenamente aos anseios mais íntimos de sua alma.
Em 1833, o Dr. Kalley, então com 24 anos, veio a conhecer a jovem Margarida Crawford, de Paisley, que exerceria grande influência sobre sua vida, fervorosa cristã que era. Sem dúvida, a amizade entre ambos, que logo evoluiu para sentimentos mais íntimos e pessoais, muito ajudou ao jovem médico que debatia em floresta de dúvidas, procurando às apalpadelas um sentido mais real para a existência. Mary Kay, a irmã querida e sua confidente, também muito o auxiliou. Em carta da época, respondendo à que ele lhe dirigira sobre o assunto, aconselhava-o:
Querido Roberto:
Muito agradecida pela carta que me escreveste e, mais ainda pela franqueza com que me falaste. Ao mesmo tempo, estou bem triste pelo que me dizes a respeito do estado de tua alma. Sinto-me incapaz de poder satisfazer as tuas dúvidas... Se a tua alma se submetesse à autoridade das Escrituras, cessariam as tuas dúvidas todas... Cessariam também todas as tuas vãs especulações acerca de assuntos que sempre ficarão inescrutáveis aos mortais, por mais sábios que sejam.
Rejeitar uma doutrina por esta ser misterioso e além da tua compreensão é o cúmulo da insensatez e demonstra uma mente cheia de preconceitos e fechada para a verdade.
Não é misteriosa a nossa própria existência? Não são misteriosas as operações da natureza? Nada sei a respeito dos motivos por que Deus permitiu a entrada do pecado no mundo, ou por que não criou o homem infalível. O teólogo mais profundo não pode dizer mais que isto: Que assim lhe aprouve para a sua glória..
.
Roberto conhecia a irmã e o grande equilíbrio e sensatez que, sempre, desde criança, encontra em todas as sua palavras e conselhos. E essas palavras assim como as que diretamente ouvia quando a procurava para outras confidências pessoais, não podiam ficar sem efeito sobre ele. Em 35, uma completa mudança espiritual alterou-lhe o curso de toda a vida.
Tinha sido chamado para atender a uma pobre e piedosa velhinha, presa de cruel e incurável enfermidade. Examinando-a, o Doutor ficou impressionado com o espírito de paciência e conforto íntimo com que a enferma suportava os sofrimentos e provações, e a tranqüilidade com que via a morte aproximar-se inexoravelmente. Terminada a visita e prestes a retirar-se, a doente pediu-lhe o favor de abrir o armário que ficava ao pé do leito e entregar-lhe o pão ali guardado e que lhe seria a refeição naquela hora. Ele o fez: encontrou um pedaço de pão seco, que depositou na mão da enferma. Esta, ai receber a migalha tão pobre, fechou os olhos, depois de um breve agradecimento ao Doutor, e deu graças a Deus pela comida. O médico sentiu um profundo abalo emocional: Como podia aquela anciã agradecer a Deus - ao seu Deus - por comida tão escassa e tão seca? Como podia ser tão tranqüila em tais desconfortos, tão serena e confiante em tantos sofrimentos? Procurou saber o motivo dessa atitude, não observada ainda entre os muitos enfermos de que até então cuidara, e ela, respondendo-lhe, declarou, com toda a candura, que toda aquela paciência, resignação e conforto vinha do fato de ser crente em Jesus e de sua leitura piedosa e diária das Santas Escrituras.
O Doutor resolveu, então revisar mais diretamente sua posição de incredulidade e examinar com maior interesse as Escrituras cristãs, cuja leitura e meditação alimentavam de modo tão admirável a tranqüilidade espiritual de sua cliente. Conversou com outro jovem, que sentia os mesmos problemas que ele e resolveram procurar os conselhos de um velho ancião da igreja. Este se dispôs alegremente a ajudá-los e dentro em pouco, com outros jovens que a eles se juntaram, formava-se uma pequena classe de cartoze alunos nas dependências do templo para leitura da Bíblia, orações e meditações.
A atenção de Kalley foi chamada para o livro de Deuteronômio e, neste, para as profecias que o Senhor dirige ao povo hebreu, prometendo guardá-lo nas tribulações que adviriam depois, principalmente no cativeiro a que futuramente seria levado. Grande observador da História, impressionou-o, nessa leitura, o significado bíblico da existência e das tribulações do povo judeu através dos tempos e concluiu que muitas das profecias que encontrara no livro Já haviam tido cabal cumprimento e outras havia que, certamente, aguardavam ainda a consumação. (Continua)

21.6.05

Heróis E Celebridades

Não sei se você já notou que os heróis e vilões desapareceram. Um herói era aquele que encarnava o que as pessoas prezavam, que nos atraía ao ponto de querermos imitá-lo. Uma celebridade talvez queira também ser imitada, mas a base da emulação mudou. Uma celebridade em geral não encarna nada e costuma ser conhecida somente por ser conhecida. A fama, em nosso mundo de imagens e manipulação, pode ser manufacturada em cima de pouco ou nenhum respaldo de desempenho, mas não pode ser imitada como pode a virtude que o herói encarna. Daniel Boorstin escreve que:" O herói se distingue pelo seu feitio; a celebridade pela sua imagem ou marca. O herói se criou, a celebridade é criada pelos média. O herói era um grande homem; a celebridade é um grande nome". É a nossa cultura comercial que produz a celebridade, mas era a cultura moral que, na maioria das vezes, elevava o herói. À medida que as celebridades substituem os heróis, a imagem substitui o carácter, a cultura comercial substitui aquilo que é moral, e ficamos com um individualismo que, simplesmente, inflama-se de ilegalidade, porque o carácter moral não é seu interesse central. Para dizer a verdade, não é, em absoluto, um interesse. Ai que saudades do Superman; Homem-Aranha; Capitão-América; Flash Gordon; O Incrível Hulk; Tarzan; Buffalo Bill; e de tantos outros cavaleiros solitários do oeste americano que fizeram o nosso imaginário e em certa medida nos ajudaram a ser melhores, dependendo claro do personagem que encarnávamos: o herói ou vilão.(Adaptado)

20.6.05

Robert Reid Kalley (Infância e Juventude (1809 a 1838)


Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. (Isaías 53:5)

Robert Reid Kalley era escocês, natural de Mount Florida, nos arredores de Glasgow, condato de Lamark, onde nasceu no dia 08 de setembro de 1809. Seus pais foram Robert Kalley, abastado negociante na cidade, e Jane Reid Kalley, que pertenciam à Igreja Presbiteriana da Escócia e o fizeram batizar aos 38 dias de idade, na igreja local(3).
Era o segundo casamento do pai, cuja primeira esposa viveu pouco tempo a seu lado, deixando uma filhinha, de nome Jessie Macredie Kalley, nascida em fevereiro de 1805. Da união de Robert e Jane vieram dois filhos: Jane Dow Kalley, nascida em 24 de abril de 1808, e Roberto, no ano seguinte(2).
Não contava ainda o menino um anos de idade quando lhe morreu o pai, anos mais tarde, Jane, que ficara com as três crianças, contraiu novas núpcias com o Sr. Davi Kay, viúvo também e também negociante em Glasgow, pai de quatro filhos: Mary Kay, nascida em 12 de outubro de 1796, que ajudou a criar os sois menores, Jane e Roberto; James Kay, que emigrou para os Estados Unidos; AnnKay, de quem não se tem notícias, e Macredie Kay, que, com sua irmã Mary, mais tarde prestou valiosos serviços a seu irmão de criação quando missionava na Madeira(3).
Davi Kay era da mesma igreja de Jane e a nova família, com seis crianças, pois Jessie parece ter ido residir com os avós maternos, viveu em perfeita harmonia. Tanto Davi como Jane consideravam os enteados como verdadeiros filhos(4).
A respeito do padrasto, o Dr. Kalley escreveu muitos anos depois:
" Durante minha infância e mocidade, fiquei debaixo da tutela de um homem de valor, com quem minha mãe se casou depois da morte de meu pai. Mesmo depois da morte dela, quando eu era ainda uma criança, ele foi para mim um verdadeiro pai. Ainda que eu desse muito trabalho e lhe fosse causa de muitas preocupações e tristezas, ele perseverou comigo, dando-me educação moral e religiosa por seus exemplos e preceitos, com muita oração a Deus"(5)
ainda depois de seu regresso definitivo do Brasil, escrevendo em 1880 a seu sobrinho, o Dr. Robert Kalley Miller, filho de Jane, lembrava-se da grande dívida de gratidão que unia à memória do padastro e de sua filha, Mary Kay, pela bondade e pelo carinho com que o trataram, orfão de pai e, depois, da mãe(6).
Pouco se sabe a respeito da meninice de Kalley, a não ser o episódio de, aos oito ou nove anos, tomando banho no rio Clyde com outros companheiros , haver-se deixado arrastar pela correnteza e quase haver morrido afogado, não fora o providencial socorro de alguém que, vendo-o em tais apuros, se atirou à água e o salvou de morte quase certa(7).
Depois do curso primário e preparatório na Rennie School e no liceu ou ginásio de Glasgow Grammar School, onde o latim e a oratória se tornaram as disciplinas de sua predileção, matriculou-se em 1825 na Faculdade de Medicina e Cirurgia, tendo apenas dezesseis anos. Tanto o padastro como o avô materno preferiam vê-lo preparar-se para o ministério da Igreja, mas Roberto, já imbuído de idéias materialistas e ateístas, tomou rumo diferente(8).
Sendo ateu - escreveu ele ao Sr. Wilby em 15 de novembro de 1843, explicando a razão por que havia contrariado os desejos de David e do avô e escolhido como carreira a medicina e não o ministério eclesiástico - sendo ateu, ao escolher a carreira, não me vi com coragem de pregar e ensinar aquilo que eu considerava ser uma porção de mentiras. Abandonei, pois, toda idéia de estudar teologia, e escolhi a medicina(9).
Em outra ocasião, o Dr. Kalley expôs seus sentimentos naquela época da seguinte maneira:
Um coração mau e más companhias varreram tudo. As especulações da Filosofia e da Ciência (falsamente chamada) contrariavam todos os esforços de meu padrasto e cegaram o meu entendimento de tal maneira que não me era mais possível crer na existência de Deus. Parecia-me uma coisa nobre ser libertado da superstição e do fanatismo que a crença impunha à alma humana. Aqueles que faziam profissão de religião, eu considerava imbecis, ou, então embusteiros, e desprezava-os a todos. quando moço ainda, estudava várias ciências, admirava as maravilhas dos seres microscópicos, meditava na distância, na magnitude e na velocidade dos orbes. Vendo tudo isso, eu me achava impossibilitado de abraçar a idéia de um Deus, um Ser Supremo. Por muitos anos não cri em sua existência. Parecia-me impossível crer na real existência de um Ser, dotado de vida eterna, cuja ciência compreende tudo no universo e cujo poder impele os astros e, ao mesmo tempo, forma os delicadíssimos membros de um animalículo microscópico(10).
Havia, na verdade, outro motivo agindo secretamente, mas com grande efeito em seu coração e a respeito do qual ele, mais tarde, confessa:
A minha aversão e repugnância às leis do Criador sugeriram-me o desejo ardente - que não haja Deus - tudo isso para que eu desse lugar ao pecado sem temer as conseqüências e penalidades(11).
assim, com tais disposições mentais e espirituais, entrou na carreira escolhida, continuando por muito tempo em seu cetiscismo e em sua oposição declarada contra as Sagradas Escrituras e todas as doutrinas cristãs.(Continua)

Moribundos

A corrupção da cultura de nossos dias não é um problema das elites. De facto ela encontra-se entre os académicos pós-modernos na sua preocupação em derrubar todo sentido e princípio moral, assim como podemos encontrar nas gangues, roqueiros, mercadores de pornografia, nos programas e entrevistas de televisão. O mais marcante é que essa corrupção é generalizada. Não se situa neste ou naquele recanto de depravação, mas se alastra como densa neblina por toda a sociedade. É espalhada até mesmo por aquelas pessoas que são vazias, comuns, maçantes, pouco inteligentes..."Para onde quer que se olhe ", escreve Robert Bork, " as virtudes tradicionais desta cultura estão sendo perdidas, seus vícios multiplicados, seus valores depreciados - em resumo, a própria cultura está se desfazendo". Parece-me que esse diagnóstico não é somente para o povo americano. Todos nós cristãos devemos estar esclarecidos que não só a América, mas o mundo está descambando para o abismo num "declínio moral". Já ninguém tem mais vergonha de nada. As instituições perderam sua autoridade e referência porque dentro delas faz morada o mesmo vírus que habita as ruas e becos desta sociedade. Um mal que pressiona a Igreja de Cristo infiltrando-se nas frestas e brechas de suas paredes e seus corações de carne.
O vírus do individualismo penetra através de conceitos como o deste cego futuro "guia de cegos" - "A liberdade de nossos dias", declarou um orador de turma em Harvard, "é a liberdade de nos devotarmos a quaisquer valores que nos agradem, com a mera condição de não acreditarmos que sejam verdadeiros". O Jogo do Monopólio , criado com sucesso pela Parker Brothers e muito popular em minha adolescência, constitui realmente uma metáfora do Nosso Tempo. Eis aí as leis inexoráveis do mercado, que são, como observa Bellah, "absolutas mas amorais", eis aí a calosidade impiedosa e a imprevisibilidade, porque no final há apenas um sobrevivente.Não existe compaixão pelos que estão prestes a perder tudo, não há espaço para ninguém a não ser a própria pessoa. Não há remorso. É a lei do mercado - é a vida moderna.

17.6.05

Entra no Teu Quarto


Os ensinamentos de Krishnamurti estão em voga. Tenho assistido, pela televisão, a palestras de seus discípulos, expondo seus pensamentos, devotados ao resgate e à propagação de sua doutrina. Escolas teosóficas o citam. Também alguns mestres budistas, da Ioga e da doutrina Zen.
E o que estão a ensinar? Pelo que pude perceber, estão preocupados com uma das enfermidades do homem moderno: a superficialidade. Um homem sem vida interior. Um homem voltado para fora, incapaz de suportar o silêncio, a solitude, o "deserto". Dessa preocupação, surgem escolas voltadas à prática da meditação, caminho para a profundeza interior, envolvendo o silenciar dos pensamentos, do "ego psicológico", silêncio esse que propiciará a harmonização de tudo aquilo que não é caótico e confuso - como o pensamento e o ego -, com o cosmo, entendido esse momento como o encontro com o sagrado, com a religião.
Quedei-me a pensar: têm razão, em sua preocupação. De fato, o homem moderno é voltado para fora, para as coisas, para as ações e realizações, para os bens e seu valor material. Mas esqueceu-se de sua alma. O silêncio já lhe é insuportável, pois teme um encontro com sua alma, sem saber o que lhe dizer. Apressa-se, então, a ligar uma televisão - mesmo que não seja para assistir ao programa -, um rádio, o computador. Isso, se não puder sair rapidamente de casa, ir a um shopping cheio de gente, ou, se for crente piedoso, visitar algum necessitado - tudo, menos ficar sozinho consigo mesmo.
Esses pensamentos me levam ao meu povo. E pensei: como se darão, na vida de um crente, os processos de arrependimento, perdão ou gratidão- para citar apenas alguns fenômenos centrais da vida cristã - sem vida interior, sem uma conversa franca com sua alma? Como seremos convencidos de nosso erro, ou resolveremos nossas dúvidas, sem o diálogo interno entre o"Grilo Falante" e o "Pinóquio"? Reagiremos aos fatos como néscios, para quem o sábio recomenda uma argola no nariz, pela qual seremos conduzidos para todo lado? De onde virão as ações de graça se não dissermos à nossa alma que o livramento não veio de nosso esforço, mas da parte do Senhor?
Comparando Krishnamurti com Davi, percebi uma grande diferença: Davi, acostumado ao "deserto", à solitude do pastor, aprendeu a conversar com sua alma. No entanto, não mantinha conversas "a dois". Sempre incluía um terceiro: Deus. Vi grande vantagem nisso, pois jamais a solidão o levou por caminhos perdidos. A Palavra que ele havia guardado no coração, bem como a presença do próprio Deus, agora lhe seriam guia e companhia nessa conversa com sua alma.
De fato, na dinâmica vida interior desse poeta, ora ele se dirigia à sua alma, ora a Deus. A ela, ele dizia: "por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro em mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei" (Sl 42, 5). A seqüência dessa conversa íntima envolve o Senhor - "...lembro-me, portanto, de ti, nas terras do Jordão..." (Sl 42, 6) -, a quem Davi afirma: "fiz calar e sossegar a minha alma; como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe, como essa criança, assim é a minha alma para comigo" (Sl 131, 2).
Nossa geração, esquecida desse diálogo interno, abre mão de uma das mais ricas disciplinas cristãs: a oração meditativa; e a entrega a quem medita sem orar; a buscar, quase instintivamente, sobreviver em um mundo tecnológico. Sem ela, dificilmente uma experiência, uma exortação, um ensino, serão incorporados à nossa vida, como algo genuinamente nosso, pessoal.
Estou convencido de que Jesus propunha encontros com nossa alma, ao nos exortar a entrar em nosso quarto e, fechada a porta, orar ao Pai que está em secreto (Mt 6:6). Talvez esse encontro a três nos seja, a nós, seres modernos, apressados e superficiais, mais difícil e temível do que o próprio ato de perdoar.
(Rubem Amorese)

Ser ou não Ser

Muitas pessoas acham que ser cristão evangélico é extremamente difícil, por isso decartam completamente essa idéia. Elas vêem os cristãos como seres extra terrestres (e de facto o são), dominados por leis e presos a pactos misteriosos. Para eles os cristãos evangélicos ou são doidos ou interesseiros. Mas também existem aqueles, que tendo alguma educação evangélica, mas por vários motivos se desencantaram, reconhecem que a grande maioria são honestos e sinceros na sua fé e prática cristã.
De facto um cristão aos moldes bíblicos, como todos nós evangélicos ansiamos e procuramos ser, além de ser difícil é raro encontrar nos dias de hoje. Já não são vistos como ET,s, mas espécies em via de extinção. Este século deu a volta na maioria dos cristãos evangélicos, tornando-os fragmentados em milhares de denominações e credos. Cada vez mais a Unidade do Corpo e no Corpo é uma conquista adiada, visto que a cultura desta época não permite. A diversidade e relativismo assume o papel de condutor das massas cinzentas.
Ser cristão é cada vez mais difícil, até porque renunciar a nós mesmos e ao pensamento deste século, implica perder muito do que amamos. "Olhar para Jesus Autor e Consumador da nossa Fé", passa a ser uma miragem. Os alvos a atingir são outros, mais concretos, menos abstractos. Ser cristão não é (como pensam alguns), não beber; não fumar; não participar das rodas; não vestir deste e daquele jeito; usar de vocabulário pesado; ir além no namoro e etc. O não praticar isto e muito mais são sinais evidentes do trabalho do Espirito Santo "Aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus", no entanto, ser cristão, nesta época e em todas as épocas tem haver com compromisso e amor. Um amor mais alto, que nos move não em direção a nós mas em direção a Cristo. Na esperança de não sermos confundidos e alcançarmos a perfeição. A perfeição que é nada menos que o conhecimento sublime de nosso Senhor Jesus Cristo. Sem a visão da cruz, sem o entendimento da ressureição e nossa vocação, ficamos a mercê deste mundo que nos pressiona a desistir, pois ser um cristão verdadeiro é "Amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a nós mesmos", nisto se resume toda a lei e os profetas. E isso é tudo o que temos de ser.

16.6.05

Uma Pergunta Que Não Quer Calar

Como é que nós perdemos duas vezes na Eurocopa para a Grécia? Estes "murcões" não jogam népia, isso ficou claro hoje contra o Brasil. Podia ter sido uns 7 pelo menos. Era Portugal que deveria estar jogando hoje. Mas afinal quem foi incompetente ou competente na final da eurocopa? Os dois foram incompetentes no jogo. Os dois foram competentes na ilusão que nos criaram. Estou sofrendo ainda resquícios da indignação daquele dia...

E não vos Conformeis

Você sabe e eu sei, que o tempo que gastamos é na maioria das vezes mal aproveitado. Você também sabe e eu também sei, que muitas das coisas que armazenamos em nossa memória não nos torna mais saudáveis nem mais sábios. Ao longo da vida reflectimos acerca das cabeçadas e outras torturas que permitimos a nós mesmos. Sempre vem à tona aquilo que poderíamos ser ou ter feito, sempre nos arrependemos de ter destruído ou não construído. Não existe ninguém que não tenha passado por crises de existência, de concepções equivocadas a seu respeito e de outras pessoas. Realidades e dramas difíceis de engolir. Quando aceitamos e percebemos de que tipo de massa somos feitos e para o que fomos criados, recebemos rendidos a oferta graciosa de Deus em nos refazer, moldando-nos do jeito Dele.
O mundo faz uma força terrível em nos conformar a seus ideais e sistemas. Tudo parece ser aceito com naturalidade, até por pessoas que se dizem cristãos. O cavalo de tróia entra em nossas casas e mentes. Jesus Cristo fica quase sempre à porta.Convidá-lo implica exames rigorosos . Sentar-nos com Ele implica desafios e alianças. Participar da ceia e olhar em seus olhos leva-nos a chorar amargamente por causa de nossas negações e traições. Jesus Cristo continua batendo porque Ele não quer que você se perca no remorso, mas seja ganho pelo arrependimento. As estradas modernas de jericó estão aí, repletas de gente despojada, desprezada, agonizando.Nessas estradas passam os indiferentes, os insensíveis, mas também os misericordiosos, aqueles que amam de verdade. O convite e desafio é que olhemos um instante para a nossa vida, façamos perguntas. Como espectáculo para todos os seres existentes nas hostes espirituais, não passamos de fantoches deste século, a não ser que possamos perceber a nossa vocação e missão e fazer a diferença neste mundo atractivo que nos quer moldar do seu jeito. Saber reter e descartar é o maior jogo desta vida, mas às vezes não sabemos guardar o bom," jogamos a criança e água suja junta".

15.6.05

Tarefas de casa

Antigamente "tarefas de casa" eram trabalhos de escola. Hoje passados 30 anos as minhas tarefas mudaram de pequenas redações, para arrumações, limpezas etc. Já algum tempo me venho especializando em faxineiro, no entanto apesar da rapidez, tem faltado qualidade, isto é o que a Renata diz. Existe uma limpeza à Daniel e outra à Renata. As coisas do meu jeito apresentam muitas vezes uma limpeza ilusória, enquanto que a limpeza da Renata quase sempre apresenta um acabamento de qualidade. Eu demoro mais ou menos 1 hora ela demora 3 horas. No mundo do mercado de "limpeza"talvez eu me desse melhor. Hoje o rápido é mais barato e apesar de durar menos vende mais. Neste mercado a qualidade é cara porque é rara e demorada. Ninguém mais gosta de produtos que durem muito tempo, tampouco empregados detalhistas rigorosos no seu trabalho. As prateleiras se renovam diariamente atraindo a cobiça dos olhares, procurando satisfazer o consumismo inato na maioria. As agências de oferta de emprego buscam pessoas rápidas, mudas e de preferência "burras". Uma pessoa muito próxima, diz constantemente que as coisas não se podem limpar muito bem, pois pelo atrito, gastam-se e acabam-se por estragar. Talvez ele tenha razão, em virtude de que certa sujidade pode proteger de piores lixos. Vivemos no meio de cheiros que insistem nos dominar. Os perfumes, desodorizantes, desinfectantes e outros produtos de higiene acabam por nos transformar em "limpodependentes" e destruidores do meio ambiente. Talvez aquele ditado de que "água limpa tudo" esteja fora do contexto actual. Existem certas sujidades que não podem ser removidas, somente camufladas. Este é o mundo que temos que viver.

14.6.05

Ser

"Sei que uma rosa é uma rosa, que o deserto é um lugar de solidão; sei que o mar traz nostalgia e que do céu desceu a salvação" (Myrtes Mathias).

Cada um pensa de si sempre algo mais, ou menos do que é. Cá por mim eu acho que não passo de um sedento. Preciso de abrir o meu coração com Deus todos os dias e cantar canções de nostalgia e de esperança. Os problemas dos outros e minhas ansiedades ocupam demais os meus pensamentos. Já não sei para onde vou. O deserto é o meu refúgio e a minha solução. Talvez aqui apareça uma fonte, um oásis. Finalmente, debaixo de uma árvore posso olhar o céu como ele é. A corça suspira por correntes e eu por Deus.

Ausência de Anita Lascívia é o Teu Nome

E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as. Ef 5:11

"Anita está mexendo com a imaginação de ninfetas e cinqüentões. Homens maduros e meninas adolescentes vão ter seu universo imaginário povoado por novas possibilidades de relacionamento, até aqui jamais admitidas como aceitáveis".

Eu fico tentando fazer uma leitura sensata da crítica acima, espalhada por toda a mídia (com essas palavras ou com esse sentido), e me pergunto se há algum senso crítico nela. Na verdade, acho que há muito eufemismo e... verdade! Afinal, o que significa a expressão "mexer com a imaginação"? Para quem assistiu a algum capítulo, fica claro: a minissérie induz homens adultos, casados e pais de família a sonhar (e, se possível, tornar realidade) com uma aventura parecida com a que ele assiste na telinha. Já as adolescentes são estimuladas a olhar de um modo diferente, "esperançoso", para desconhecidos com idade para ser seus pais. "Está ficando super normal, hoje em dia".
Nesse momento, fica claro que mexer com a imaginação é um eufemismo, no lugar da surrada "tentação". A "Presença de Anita" é uma peça de erotismo até então proibido para a televisão. Com cenas que a mídia mesma chama de "tórridas". Mas o que ela não faz por "ibope"?
Eu não assisti à minissérie. Optei pela ausência de Anita. Mas abri uma exceção: o último capítulo. Por uma razão simples: conhecendo a história, eu sabia que, no final, o autor do livro traria o resultado de toda aquela liscenciosidade. O cinqüentão morreira queimado, na casa da ninfeta.
Pensei assim: quero ver como a TV fará para transformar a punição em vitória. Como ela fará para desfazer a lição maior: o resultado de tanta loucura. Pois conseguiu. Produziram um incêndio físico-erótico-espiritualista, no qual o protagonista arde por fora e por dentro. Por fora, perece no incêndio que reduz o casarão a cinzas; por dentro, morre em plena loucura sexual com uma aparição que o convence que é real, por meio de um beijo de virar do avesso, e o arrasta para cama, num clima tão quente que bastaria para pôr em chamas a cama e a casa em que estavam.
Mas e a esposa do lobo? Ah, tadinha! — Agora, os novelistas estão em apuros. Eles parecem não saber como transpor a idéia original de uma figura digna e discreta, situada em 1948, para os dias de hoje. Pintam uma personagem quase idiota, que não sabe dar o troco com seu personal trainer ou mesmo com o porteiro do prédio. Não está na história original. Fica, então, como bobona, mesmo. Como traduzir, para os dias de hoje, a dignidade de uma mulher traída que se cala, na tentativa de proteger os filhos?
Confesso que, ao participar de rodinhas masculinas, no trabalho, cheguei a ficar com vontade de dar uma olhadinha com um olho só (caso seja pecado, cometo apenas metade). Mas veio-me à mente um verso da Palavra: "bem aventurado é aquele que não se condena nas coisas que aprova" (Rm 14:22b). E pensei: toda a indústria moderna, inclusive a da pedofilia, sobrevive dessa inocente atitude de não dizer não. É só o que o "ibope"quer. Uma aprovação tão sutil que nem molesta nossa consciência cristã. Afinal, "fantasiar não faz mal a ninguém". Não percebemos que já não "detestamos o mal" (Rm 12:9b). Ao contrário, convivemos "democraticamente" com ele, como se não fôssemos do mesmo material inflamável que o cinqüentão e a ninfeta. Preferimos o lusco-fusco dos eufemismos: "somos adultos, e não há nada de mal em nos permitirmos fantasias que temperem nosso casamento". Afinal, é só um filme; são só fantasias. — Afinal, disse alguém, é só uma maçã.
(Rubem Amorese)

A Cada manhã

"Senhor, concede-nos a paz, porque todas as nossas obras tu as fazes por nós." (Is26.12)

O nosso Deus a quem servimos e adoramos tem a cada manhã uma palavra. Ele não nos deixa confusos nem envergonhados. O Pai realiza grandes obras através de nossos esforços. Ele coloca em nós a sabedoria que permite confundir os sábios. Também a humildade para reconhecer a nossa insuficiência e toda a Majestade de Deus. Os nossos medos que constantemente nos assedia, Jesus os transforma em momentos de amizade e paz. A cada manhã podemos ver nosso Pai cuidando de nossa família e nos dando o sustento. "Ou que os homens se apoderem da minha força e façam paz comigo; sim, que façam paz comigo.(27.5)

13.6.05

Dia de folga

Estou completamente exausto. Os dias não param de correr. Já não me aborreço. Já não desespero. Por que haveria eu de desejar o indesejável e querer a posse dos significados? Afinal, quem pode saber que o que sonhamos é sonho ou antes a realidade? Os dias são sempre azuis e que cansaço,sem nuvens, sem esperança, sem silêncio e confortáveis. Lá vamos nós, vagando nas naves em direção à mesmice, de rotinas, agindo, como marionetes e valentes opinadores de mundo pequeno. O mundo é imenso para os outros.

Carta Aberta ao Presidente da República

Senhor Luis Inácio Lula da Silva
São Paulo, 6 de junho de 2005.
Excelentíssimo Senhor,

Permita-me tratar-lhe por você. Não por desrespeito, mas para lembrar-me de suas origens – comuns a mim e a milhões de outros brasileiros.
Também preciso me apresentar. Sou pastor de uma fraternidade de mais de cem igrejas que se espalham por vários estados brasileiros; sou nordestino como você e resido em São Paulo. Meu pai foi preso político na ditadura de 1964.
Militei por sua candidatura para presidente em todas eleições. Como a comunidade evangélica havia aprendido, na ditadura militar, a manter-se submissa e conformada aos descalabros do regime, resolvi, contra toda expectativa de meus pares, filiar-me ao Partido dos Trabalhadores. Sofri alguns preconceitos, mas nunca hesitei em minha decisão. Precisávamos da coragem de lutar contra a ideologia que tentou nos domesticar por quase trinta anos.
Desde que o PT recebeu dinheiro dos banqueiros para financiar sua candidatura, desfiliei-me do partido. Isso aconteceu há mais de seis anos.
Senti, na época, que precisava manter-me livre, para cumprir o meu mandato cristão de ser uma voz profética e denunciar o que julgasse errado.
Presidente, agora rompo, programática e emocionalmente com seu governo e passo a ser um ferrenho opositor seu.
Não estou trocando de amores. Alguns maridos abandonam o casamento por se apaixonarem por outras mulheres. Não cortejo ninguém, pelo contrário, sinto-me só e sem nenhum líder ou partido que cative meu coração.
Como batalhei por sua eleição e fui um entusiasta de seu governo, sinto que lhe devo explicações por esse divórcio tão radical.
Não rompo por achar suas metáforas tolas e, muitas vezes, levianas. Estou decepcionado por notar que seu discurso sobre justiça social foi apenas bravata (você sempre gostou dessa expressão, que pena). Suas ações para reverter o abismo social que envergonha nosso país, não passaram de assistencialismos. Por outro lado, suas iniciativas assistencialistas atolaram na burocracia, nos interesses dos coronéis regionais, nos labirintos da corrupção e na incompetência dos seus liderados.
Não rompo por discordar de suas alianças com as oligarquias políticas já encasteladas no poder há anos. Entendo que há necessidade de se negociar no jogo político. Estou decepcionado por você ter jogado fora seu capital político. Milhões de eleitores acreditaram que seu governo traria mudanças estruturais. Mas você não se esforçou para mudar o DNA social, político e tributário de minha pátria amada. As filas da previdência ainda são um pontapé na dignidade dos inválidos, idosos e doentes. As estradas que deveriam escoar a riqueza nacional continuam destruídas. As escolas públicas, sucateadas, lembram que nosso futuro é uma falência adiada. Poucos países convivem com uma carga tributária tão pesada e com uma contrapartida de tão poucos benefícios. Nossa igreja trabalha em favelas e sei que o problema da miséria não se resolverá distribuindo cestas de alimentação. O lucro dos grandes bancos continua na estratosfera e não há política eficaz de financiamento da moradia popular – casas se amontoam nos ribeiros fétidos, nos viadutos e nas periferias urbanas. Não há política de segurança pública eficaz no seu governo. Os brasileiros vivem assustados com os seqüestros, tiroteios, furtos, roubos e corrupção das polícias.
Não rompo por considerá-lo desonesto. Porém, estou alarmado com a atitude de seu governo em manter a cabeça enterrada na areia. Em nome da governabilidade, você e seus assessores de confiança se esforçam em alianças com políticos da pior espécie, para abafar o pedido generalizado de que se estanque a hemorragia da corrupção. Tanto eu como outros milhões de
admiradores seus, esperávamos mais dignidade ética, mais transparência política e atitudes mais corajosas para que o “custo Brasil” não seja ainda mais onerado pela propina . Lula, você vem agindo exatamente igual a todos os outros que lhe antecederam e não foi para isso que eu e milhões de brasileiros lhe elegemos.
Diante desses poucos argumentos, que me são muito caros, precisava dizer-lhe, antes de tornar notório, que não tenho mais confiança em seu governo nem no seu partido.

Sinceramente,
Ricardo Gondim.
São Paulo - São Paulo

11.6.05

Abba Pai

Com vínculos humanos eu os atraía, com laços de amor
eu era para eles como os que levantam uma criancinha
contra o seu rosto,
eu me inclinava para ele e o alimentava.(Os11.4)
Neste sábado o nosso Pai nos convida a descansar. Repousar de nossas fadigas. Dos fardos, da sobrecarga do dia a dia. Das palavras que nos magoaram; dos gestos impensados. Ele conhece as nossas ansiedades e quer que as partilhemos na Sua intimidade. No Salmo 131 Davi se entrega nos braços de Abba Pai e sossega, reconhece que não adianta andar em busca daquelas coisas que o mundo procura com avidez. Deus está nos laçando a cada instante, procurando nos alcançar, buscando nos saciar. Que neste sábado as canções de nosso coração mostrem a saudade que temos Dele. Que de nossos lábios brotem palavras de louvor e adoração. Celebremos ao Senhor. Grande é Sua Glória. Experimentemos a Sua companhia. Derramemo-nos diante Dele. Alegremo-nos.

10.6.05

Maturidade em Cristo

Amadurecer implica caminhar perseverantemente em direção a Cristo, de tal forma que sua vida gloriosa seja vivida por nós pelo poder do Espírito Santo

O caminho e a forma da maturidade cristã nunca foi muito claro, pelo menos para mim. Durante muito tempo, ser um cristão maduro significava ser uma pessoa moralmente correta e de valores elevados e nobres. Esta forma estóica de compreender a vida cristã teve grande influência nos anos 60 e 70, quando a espiritualidade era associada a um modelo de moral cristã. Naquele tempo,ser um crente maduro significava ser uma pessoa casta, honesta, íntegra, comprometida, responsável com as próprias obrigações e com certo grau de heroísmo em suas ações e renúncias. Reconheço que são valores bons e altruístas e que representam, de alguma forma, o testemunho de um cristão; mas não me parece que ser um cristão maduro seja apenas isso.
Uma outra forma de identificar um crente maduro tem sido pela sua capacidade de articular bem a teologia e a doutrina cristã, principalmente se for de uma corrente mais conservadora. O zelo pela Palavra de Deus, a firmeza das convicções, a segurança na proclamação e defesa da fé evangélica e a lealdade para com confissões históricas sempre foi considerado um sinal de maturidade. E a maturidade cristã passa, de alguma forma, por este caminho; mas não acredito que ela se restrinja somente a isso, nem mesmo numa combinação com o anterior.
Alguns afirmam que a verdadeira maturidade cristã acontece quando tudo se transforma em experiências concretas e pessoais – por meio do poder do Espírito Santo, a moral deixa de ser um simples moralismo para se transformar numa manifestação viva do poder de Deus. Assim, pecadores são transformados em santos e o conhecimento, zelo e defesa da verdade evangélica deixam de ser realidades intelectuais e se transformam em testemunho vivo e poderoso da graça de Deus. Concordo. Mas ainda penso que a questão vai um pouco além.
Uma outra forma de considerar a maturidade cristã é vinculando-a com um tipo de “bem estar” emocional. A influência da psicologia moderna na experiência cristã é um fator importante nessa nova compreensão do processo de amadurecimento cristão. Ser uma pessoa emocionalmente bem resolvida, realizada, que não carrega sentimentos de culpa, que goza de relacionamentos mais “profundos” e superou as limitações dos modelos moralistas das estruturas religiosas opressoras, é sinônimo de maturidade. De certa forma há uma contribuição positiva nisso tudo, mas que apenas tange o propósito divino.
Em sua carta aos filipenses, Paulo nos apresenta um caminho para a maturidade espiritual e cristã. Do ponto de vista moral e legal, Paulo poderia ser considerado uma pessoa madura, pois cumpria os requisitos da lei e andava de acordo com os padrões morais da sua cultura e religião. Era também zeloso, responsável e coerente para com suas convicções e seus compromissos religiosos. Ele mesmo se afirmava “circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu; quanto ao zelo, perseguidor da Igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível”. O que chama a atenção é que, para Paulo, tudo aquilo que temos considerado fundamental para o caminho da santidade e do amadurecimento era considerado como “esterco” diante do que é superior e sublime. Para o apóstolo, o que poderia representar, mesmo que de longe, alguma forma de esforço pessoal que pudesse trazer um certo orgulho moral ou espiritual, era considerado como “perda” por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus. Logo, o caminho da santidade e da maturidade não é o caminho do esforço moral, do legalismo ou mesmo de um zelo que nos proporciona status elevado, colocando-nos numa posição superior, inflando egos frustrados e promovendo uma forma espiritualidade auto-indulgente e auto-suficiente.Neste caminho, Paulo reconhecia duas realidades. Primeiro, precisava deixar para trás tudo aquilo que o impedia de avançar. O autor de Hebreus também nos fala sobre isso quando diz: “Desembaraçando-nos de todo o peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta” (capítulo 12:1).
O passado cria embaraços, laços e amarras que nos impedem de caminhar. Muitos cristãos vivem como se arrastassem bolas de chumbo amarradas aos pés. São memórias de abusos, rejeições, abandonos, decisões malfeitas, escolhas erradas, frustrações, desilusões, mágoas e tantos outros pesos e pecados que permanecem conosco como fantasmas. Paulo não propõe que estas memórias e experiências sejam negadas ou varridas para debaixo do tapete. Ele sugere que sejam deixadas para trás. Ou seja, elas não podem determinar o presente ou o futuro – precisam ser enfrentadas e tratadas pela cruz de Cristo.
A segunda realidade que Paulo reconhece é a necessidade de prosseguir no caminho tendo diante dos olhos “o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” ou simplesmente “o autor e consumador da fé – Jesus”. O crescimento e amadurecimento espiritual não é fruto de algum ajuste psicológico ou sociológico, de uma boa formação teológica ou domínio das doutrinas bíblicas; muito menos um volume de experiências místicas na bagagem espiritual. Amadurecer implica caminhar perseverantemente em direção a Cristo, de tal forma que sua vida gloriosa seja vivida por nós pelo poder do Espírito Santo. Quando Paulo afirma “já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”, ele não está afirmando uma espécie de fusão de vidas ou alguma forma de anulação de sua personalidade. O que ele declara aqui é que, pelo poder do Espírito Santo, a comunhão com o Senhor é possível no sentido de que ele torna nosso tudo aquilo que é dele em sua humanidade encarnada. É por isso que Paulo nos diz que, em seu caminho em direção a santidade e ao amadurecimento cristão, ele busca conformar-se com Cristo em sua vida, sofrimento, missão e ressurreição.
Não resta dúvida que os valores morais, o conhecimento teológico ou a estabilidade emocional sejam marcos importantes no testemunho cristão, mas não devemos confundir isto com a sublimidade do conhecimento de Cristo.
(in Eclésia)
Ricardo Barbosa de Souza é conferencista e pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasilia

9.6.05

Por uma questão de in-Justiça

O salmo 73 fala-nos da prosperidade dos ímpios. O drama do salmista é não entender a razão desta felicidade. O salmista não duvida de que Deus é bom, mas o seu conceito é que essa bondade é tão somente para aqueles que são puros de coração. Verificamos que a mentalidade do homem tem extrema dificuldade em entender os caminhos de Deus e aceitá-los. A não ser que receba a Luz e seus olhos possam enxergar com clareza, caso contrário, ficará tateando, arriscado a cair em algum poço ou abismo desta vida. O salmista quase que resvalou. Os seus passos confusos levam-no a desviar-se do caminho limpo de pedras. No entanto, não pôde evitar a pedra da inveja. Ele invejava os arrogantes. Estes não tinham preocupações, não sofriam de problemas de saúde; não tinham dívidas..., falavam o que lhes vinha à cabeça, não davam satisfação a ninguém, zombavam da miséria dos outros, eram violentos e indiferentes, altivos e não se cansavam de projectar o mal.
Para o salmista, ser um cidadão íntegro, cumprir à risca todas as leis, não tem nenhuma vantagem. Ele é molestado o dia inteiro. De manhã, começa sendo castigado pelo árduo trabalho e a dificuldade em arranjar o sustento para si e seus filhos. Assim, os seus conhecidos ao vê-lo na sua luta, riem dele e questionam a sua fé, a sua devoção, a sua realidade. Tudo isto pertubava o escritor, ao ponto de reconhecer que não tinha condições nem psicológicas nem emocionais para compreender o que estava sucedendo ao seu redor.
O Brasil é um país de dimensões continentais. Demasiado grande, para podermos avaliar toda a sua estrutura e seus complexos sistemas. Contudo, qualquer míope constataria que a corrupção e as injustiças sociais que crescem a cada dia, cansaram a maioria dos brasileiros. Já ninguém parece se importar que se roube descaradamente, ou se mate por nada. Mesmo que os principais ladrões e criminosos sejam os mesmos de sempre. O vírus da inoperância e conformismo das autoridades, associado à falta de confiança nas instituições, tem originado um silêncio aterrador do povo e pior da Igreja Brasileira que muitas das vezes é até cúmplice de esquemas de eleição e apelos demagógicos.
Nisto os crentes perguntam a Deus: - Até quando Senhor? Se olharmos o salmo 73 iremos ter a resposta, isto é, o final, o triste fim, desses que agora não só desonram o nome santo de Deus em seus caminhos, mas também aqueles que aprovam e se tornam cúmplices da vergonhosa e descarada in-justiça que nos quer enredar.

8.6.05

Culto no Lar

Nesta segunda-feira, a "frente de oração" de nossa igreja realizou-se em nossa casa. Eram 40 pessoas enchendo todos os espaços. Nas escadas e varanda, cozinha e sala, estavam abarrotar de irmãos e irmãs. O culto no lar faz parte da tradição das igrejas evangélicas, asssim como o culto doméstico. Hoje essas práticas cairam em desuso, reflectindo um pouco a dispersão do núcleo familiar, acabando por afectar a comunhão nas e das igrejas.Lembro dos cultos realizados na minha casa em Paio Pires e na casa de tantos irmãos. As igrejas nessa altura cresceram e estenderam-se porque havia comunhão, oração e confissão. Tudo era mais simples e mais verdadeiro. Podíamos saber da vida dos outros sem isso criar constrangimento ou algum tipo de indiferença. Partilhavamos as mesmas coisas e sempre queríamos estar juntos. Os cultos e reuniões nas casas sempre fizeram parte da vida da igreja primitiva. A igreja crescia e agradava o povo. A alegria e unidade, era entre muitas outras características dos irmãos do" caminho", a luz que brilhva num século de trevas, insegurança e desespero. Hoje cada vez mais, é preciso voltar a olhar o passado e resgatar algumas práticas e princípios que podem nos ajudar a viver em "abundância".

7.6.05

Em Pauta

Quando o verão se aproxima penso no ABS. É uma relação de mais de 30 anos. Sou saudosista e apaixonado por este lugar seco e agora nu. Os alacraus, outrora a atração principal, deram de frosques. Hoje já ninguém é picado, já ninguém chora, as experiências hoje são mais de nível tecnológico ou virtual. Já ninguém dá de seu tempo para limpar o mato ou plantar uma árvore, já ninguém se esforça para beber água do poço ou tomar banho no tanque. Já ninguém lava pratos, pois isso é perder tempo, afinal pagar para que outros lavem é mais fácil.Também pode impedir de assistir ao culto da noite - tretas. Até a barragem tornou-se imprópria para banhos. Hoje é muito difícil alguém aprender a nadar ou atravessar a barragem como antigamente. Uma forma de exibirmos a coragem e competir uns com os outros. Outros ABS com pessoas menos sofisticadas e mais problemáticas marcaram várias gerações. A mística ruiu, o romantismo que era marca dos campistas e sua irreverência desapareceu com os mais velhos. Afinal, tudo isto é fruto da fragmentação e interesses particulares das igrejas , promovendo as "elites", desvalorizando aqueles que realmente amam o ABS e que sempre deram de si sem interesses ocultos desde o seu nascimento. Só espero é que o ABS não se torne unicamente um clube de fraternidade de irmãos, ou pior, de grupinhos que só pensam em namorar e se divertir. Isso seria um desrespeito com tantos que alimentaram a visão de um lugar de pregação e transformação, um lugar de amizade e testemunho. Bons turnos.

Futura Igreja?

Igreja Evangélica Congregacional em Passa Três, fundada em 1857, 3ª igreja congregacional mais antiga do Brasil.

Eu Gostaria Que Você Me Amasse

e-mail à Igreja do Século XXI

Eu gostaria que você me amasse -- mas você diz que já me ama
Eu gostaria que você quisesse ficar, mas você tem tantos compromissos inadiáveis. Parece que está sempre saindo
Eu gostaria que você fosse mais carinhosa, quando estamos juntos, mas você prefere ser litúrgica -- diz que é para não ser mal interpretada pelos outros
Eu gostaria que tivesse prazer em nossas conversas, e não ficasse olhando o relógio, quando estamos juntos. Você sempre tem compromissos apertados com nossos encontros; tem que sair apressada; acorda tarde e almoça cedo, só no domingo
Eu gostaria que a expectativa de nosso encontro especial do domingo gerasse tanta excitação que você fosse dormir mais cedo no sábado, só pensando em nosso encontro -- e que as festas, bailes, filmes, tudo empalidecesse com a doce espera da nossa reunião
Eu gostaria que você quisesse me levar junto, em suas viagens, em seus negócios, ao cinema, às rodinhas de amigos, ou que me convidasse para assistirmos juntos ao filme da madrugada, mas você diz que é coisa só sua, que minha presença seria inconveniente...
Eu gostaria que você gostasse dos meus filhos (afinal, agora são nossos filhos)
Eu gostaria que você sonhasse comigo, e, nos seus sonhos, eu estivesse olhando para você amorosamente
Eu gostaria que você amasse as coisas, as conversas, os cheiros, as sensações que eu amo -- todas simples, singelas, bonitas --, para que toda vez que você estivesse numa situação dessas, se lembrasse de mim, mas você prefere sensações mais fortes, picantes, sensuais...
Eu gostaria que você tivesse saudade de mim, dos meus lugares, dos meus altares, das minhas coisas, da minha gente -- em especial no domingo -- saudade essa que a levasse a ansiar por me ver
Se você não pode me amar carinhosamente, porque "é feito só de razão", então, quem sabe, você me amasse só com a razão, sendo fiel nas pequenas coisas, que me tivesse presente nos caminhos, nas decisões, nas escolhas, nas palavras, nas reações;
Ah, como eu gostaria de sentir segurança no seu amor -- eu sinto como se você fosse mudar a qualquer momento, e pedir um tempo para pensar...
Eu gostaria de poder sonhar com o futuro, tendo você nele, sem sobressaltos nem dúvidas, nem sombras
Por exemplo:
Eu gostaria que você se indignasse por mim, ao presenciar algo que abomino; ao ver a injustiça, a mentira, a opressão, a pobreza, a vida desregrada, o alcoolismo, as drogas -- uma indignação como a minha, que encarna, que parte para fazer algo a respeito, como a mulher que ungiu os pés do meu Filho, na frente de todos, com a coragem que vence reinos...
Eu gostaria que você se indignasse, quando alguém fala mal de mim -- e saísse em minha defesa, usando do bom-senso que lhe dei, para não atirar pérolas a porcos
Eu gostaria que você não achasse graça de piadas indecentes (que sempre banalizam as coisas boas e santas que criei, como o sexo, o casamento, a fidelidade...), não gostasse de falar palavrões, que não gostasse de filmes pornográficos, que não olhasse lascivamente para incrédulos, que não fizesse aliança com eles, não flertasse com o inimigo, que não invejasse sua vilolência e suas taras
Quando você faz essas coisas, sinto enorme insegurança no seu amor; parece que você mantém um pé fora da nossa relação, e eu choro de ciúmes
Eu gostaria que você amasse aqueles que amo e odiasse meus inimigos -- que tivesse misericórdia das crianças (hoje em dia, quase todas órfãs), do estrangeiro (ou visitante), das viúvas (ou separadas) piedosas, das ovelhas avulsas, perdidas e sem pastor, e resistisse, em meu nome, aos cínicos, presunçosos e soberbos
Eu gostaria de poder lhe falar do meu amor, sem que você olhasse para o relógio ou fosse "obrigada" a ir beber água lá fora
Eu gostaria que você desligasse o celular quando eu estou lhe falando do meu amor ou fazendo planos com você
Eu gostaria que você procurasse nos bolsos e encontrasse os presentes que lhe tenho dado -- meus dons para você -- e que os usasse com orgulho e carinho, como se fossem colares e pingentes de valor sentimental
Eu gostaria que você me servisse sem precisar de cargos ou funções oficiais -- simplesmente usasse, com singeleza, os presentes que pus nos bolsos de sua vida
Eu gostaria que você me servisse sem esperar outra recompensa senão meu olhar de aprovação
***
Esses são os sonhos que tenho sonhado para nós
São sonhos porque não posso transformá-los em realidade por meio de imperativos ou mandamentos. Nem mesmo eu posso obrigá-la a querer. Tenho que esperar. O máximo que posso fazer é sair por aí, à sua procura, na esperança que você, um dia, queira ter um eterno caso de amor comigo
Você ainda é tão menina! Não despertou, inteiramente, para o amor. Não tem olhos para mim. Ainda não pode entender nem corresponder ao meu amor. Só sabe me chamar de pai, pedir e agradecer coisas -- a maioria das quais eu já lhe dei mais de uma vez, e estão empilhadas no seu quarto de brinquedos
Fico triste em perceber que a insegurança do seu amor por mim transforma-se em insegurança sua, a respeito do meu amor; não sabendo amar, você não se deixa amar inteiramente por mim
Mas eu tenho esperado por você. E quando estiver crescida, talvez venha a ter olhos para mim; e, então, quem sabe, queira e possa corresponder a essa forma louca, integral, passional, desmedida, com que você é amada.
Quando isto acontecer, você passará a ver a vida com olhos de uma adolescente apaixonada: sem temores, sem medos, sem inseguranças ou desânimos (porque o amor lança fora o medo). Ao contrário, você terá a energia da alegria, a força e o desassombro da certeza; e os sonhos da esperança -- os sonhos dos meus sonhos. Você será indestrutível, e prevalecerá contra as portas do próprio inferno.
E quando a dor e a adversidade vierem (porque virão), você as enfrentará com os olhos sempre nos meus; sabendo que essa leve e momentânea tribulação não são para comparar com o que temos construído juntos, aqui e no porvir -- e entenderá, finalmente, sobre alegria na tribulação
Quando estiver idosa e vivida, você ainda dará frutos; e poderá dizer que desfrutou, verdadeiramente, da minha boa, perfeita e agradável vontade, e que foi capaz de fruir e usufruir muito do que já lhe tenho reservado nesta vida, e falará aos seus filhos e netos, sobre a minha paz. A paz incompreensível que encontrou no meu amor.
(Rubem Amorese)

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