24.6.05

Robert Reid Kalley (Infância e Juventude -1809 a 1838)

Essas circunstâncias históricas minaram e acabaram por destruir o seu ateísmo. Deus era real, não apenas como realidade subjetiva na experiência de cada crente, mas real e poderoso, supremamente operante nos fatos da história do mundo e da natureza que criara. em seu diário, descrevendo as circunstâncias que o haviam levado a libertar-se "das superstições, do fanatismo e da ignorância crass" representados pela "doutrina de qualquer divindade", diz haver na sua mocidade aplicado sua inteligência ao estudo de diversas ciências, investigando com o auxílio do microscópio e do telescópio, algumas das maravilhas da Natureza, decidindo, por esses estudos e pesquisas, " que era impossível a um único Ser existir eternamente e tomar conhecimento de cada objeto na terra". Agora, a vida e a experiência pessoal daquela velhinha e os significados nacionais da vida de todo um povo através dos séculos encontram, para ele uma explicação que se impões: existe, sim, este Ser, que além de toda a capacidade de pesquisa através de microscópios e telescópios e além de toda compreensão lógica e científica da mente humana, governa a vida e os fatos da vida do homem individual e das nações. As profecias bíblicas dão provas disso.
Quando senti, satisfeito - falou ele mais tarde, em 21 de agosto de 1845, perante a Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana Livre da Escócia - quando senti, satisfeito que há um Deus, que este Livro (apontando para a Bíblia) é de Deus, então senti também que cada cristão é chamado a entrar naquele campo de atividade em que melhor possa usar para Deus todos os talentos que ele lhe deu. E, quanto a mim, tenho pensado de que maneira, como médico cristão, posso melhor servir ao Filho de Deus.
Renunciando, pois, ao ateísmo e confessando a Cristo como seu Salvador e Senhor, reconciliou-se com a Igreja e foi admitido a comunhão. Nas visitas médicas e nas consultas em que recebia os clientes, não somente procurava, daí por diante, tratar do corpo e das enfermidades físicas, mas conversar também sobre as necessidades da alma, usando as Escrituras para leitura e meditação. A classe de moços, agora aumentada, passou a reunir-se à noite na Igreja, após o culto divino. Uma outra classe, de adultos, foi iniciada em sua residência e também uma outra, para os clientes mais pobres, que se reunia às quintas-feiras, numa das dependências do templo. Tinha, então 26 anos. A conversão, o estudo meticuloso das Escrituras e a dedicação de seu futuro a Deus deram-lhe o sentido, que há tanto tempo procurara, das razões e do propósito de sua vida. Robert Reid Kalley encontrara, por fim o seu Senhor(20).
Seus pensamentos voltaram-se para o vasto campo missionário. Da Grã-Bretanha, da Escócia, da América, da Morávia e de muitos países pioneiros haviam saído para levar o evangelho ao Oriente e a África, às distantes ilhas da Polinésia, nos mares do Sul. Kalley contemplou a grande necessidade da China, com uma população enorme sem o conhecimento de Cristo. Acompanhava, com vivo interesse, os relatórios dos trabalhos evangelísticos e de assistência médica dos missionários naquele país. Leu em uma revista da Sociedade Missionária de Londres um apelo aos médicos cristãos para dedicarem sua vida e seus talentos ao serviço da humanidade sofredora do oriente, pois era a porta principal por onde a Palavra de Deus poderia alcançar, de modo objetivo, aquelas populações. Entendeu que esse apelo vinha diretamente a ele, de Deus naquelas circunstâncias. Comunicou a Miss Kay os seus propósitos e ela lhe escreveu, em carta de 18 de julho de 1835:
Querido Roberto:
Estou muito alegre por saber que estás tão preocupado na instrução da juventude... O teu contacto com esses casos (as pessoas que buscavam a salvação) será um meio de encorajamento a ti mesmo servirá para firmar-te bem na doutrina da Graça divina.
Quanto à tua idéia de estudar para o ministério, não digo nada contra, pois conheço os teus motivos desinteressados e creio que aquele que é a grande Cabeça da Igreja pode perfeitamente conceder-te os dons necessários e abrir-te a porta, se tiver trabalho dessa natureza para ti.
Falas de ser missionário. Não há dúvida que há muito trabalho nesse campo, especialmente nos bairros pobres. Sem dúvida o salário é pequeno, ou nenhum. Mas visto te haveres dedicado com tudo o que tens no serviço de Cristo, nada do que gastares - ou em tempo ou em dinheiro -será perdido. Deves continuar estudando em bons livros, que melhor de instruam nas doutrinas de Deus.
Papai me pede para dizer-te que está bem impressionado e manda aconselhar-te que tenhas cuidado de não ler os teus sermões.

Em outra carta, pouco depois, Miss Kay o exortava:
Deus deve receber toda a glória, não somente por ter implantado em nosso coração a graça divina, porém também por toda ação conseqüente dessa Graça em nós. Não existe o exercício da fé, ou manifestação do amor, a não ser pela influência imediata do Espírito Santo - tão dependentes que somos de suas ações.

Com esperança de ser enviado à china, o Doutor, em 1836 à Junta Missionária da Igreja da Escócia oferecendo-se para servir como médico-missionário e evangelista em Cantão, naquele país, continuando o trabalho que Robert Morrison deixara interrompido por seu falecimento em 1834. O oferecimento não foi aceito, não só pelos muitos outros compromissos que Junta já possuía como também pelo de não estar a China incluída em seu campo missionário. Não havendo possibilidade de trabalhar no campo estrangeiro ligado à sua própria Igreja, Kalley dirigiu-se, então à Sociedade Missionária de Londres. A princípio, a oferta não foi bem aceita, mas logo depois, em 1837, a Sociedade resolveu enviar um médico-missionário à China. O Doutor alegrou-se com essa oportunidade que lhe aparecia. Entrou mais uma vez em correspondência com a Sociedade, pedindo informações quanto às exigências dela para a aceitação de sua candidatura. Foi enviado um memorandum, onde se salientavam os seguintes pontos:
A Sociedade ainda não havia enviado médicos, como tais, ao campo missionário, mas, agora, estava encarando a necessidade de suprir com essa especialidade, seus trabalhos no oriente.
A teologia é indispensável. Para a China e a ìndia é necessário que o candidato possua também uma preparação em letra clássicas, assim como em artes e ciências.
Para a África e Oceania, além do acima mencionado, um bom treinamento em trabalhos manuais.
As dificuldades são grandes. Mas a grande montanha oferecida por elas, pelo poder da verdade e do Espírito Santos pode tornar-se planície de grandes vitórias no evangelho.
O candidato deveria inscrever-se oficialmente, apresentando algumas cartas de referência(23).
Conseguida a inscrição, com a apresentação das cartas de referência exigidas, e depois de examinado pelo Comitê de recepção na cidade de Londres, no dia 7 de novembro de 1837 foi o Doutor inscrito como candidato ao trabalho na China, com previsões para partir de 1839. Aconselhado pelo Comitê, voltou à Universidade de Glasgow para "desenvolver seus conhecimentos em alguns ramos da ciência médica e em teologia". Começou também um curso das línguas grega e hebraica, para melhor comparar os textos da versão inglesa das Escrituras com os originais. Vendeu sua casa e seu consultório médico em Kilmarnock, procurando desembaraçar-se de seus compromissos locais, para ficar mais livre em seus preparativos de viagem.

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