Diz-se que cada um tem seu deserto para atravessar, e para alguns este é o deserto da fé. Sem falar imediatamente de religião, pode-se depositar a fé, a confiança em uma pessoa que se vai considerar ponto de referência, mestre, guru, autoridade... Mas de repente esta se revela como uma decepção; ela já não corresponde às nossas expectativas, isto é, às nossas projecções e, de modo particular, a esta projecção do Si-mesmo, o Si-mesmo esquecido ou mal integrado em nós e que projectamos inconscientemente sobre um ser finito que passa então a revestir todas as qualidades de uma perfeição que nos falta. Essa retirada das projecções pode ter efeito salutar, e libertar-nos de uma alienação nascente. Jesus neste ponto, era radical: "Por que me chamas de bom? Um só é bom!" " não chamem ninguém de mestre! Não chamem ninguém de pai!" E Àqueles que pretendiam fazer dele o taumaturgo, que os libertaria de todo o mal, recordava que Ele não era a fonte da cura que operava: "A tua fé te curou".
Afirma-se às vezes que Deus se retira, que Ele nos abandona. Mas não é Deus quem nos abandona; são nossas ilusões, nossas projecções. Não se perde a fé; pelo o contrário, começa-se a entrar mais fundo na fé quando se perdem todas as crenças, quando se deixam de lado os apoios das nossas representações. O que nos revela o deserto é que não existe entre nós muitos verdadeiros homens de fé, mas sim muitos idólatras. Foi no deserto que Satã tentou o Mestre com propostas sedutoras. É no deserto que iremos dizer o que somos e juntamente com isso de quem somos.
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