28.6.05

A Necessidade de reforma do Culto ( parte III )

A mentalidade evangélica dos dias de hoje é fruto de vários fenómenos que passam despercebidos a muitos. O culto público como central na vida e experiência cristã, perdeu seu papel. Muitos enfatizaram que toda a vida era um culto, e que o culto poderia assumir muitas formas que não essa do culto do povo de Deus reunido. Para muitos, o enfoque verdadeiro de sua vida cristã tornou-se os grupos pequenos para estudo bíblico, oração, confraternização e discipulado. Os grupos pequenos parecem oferecer a oração mais pessoal e sincera, a comunhão mais íntima e significativa, o ensino mais relevante e eficaz. É provável que poucos evangélicos de hoje concordassem com Calvino que ouvir um sermão fosse espiritualmente mais importante do que fazer leitura bíblica em particular. Assim, muitos evangélicos concluiram que seu culto público estava sendo ineficaz, enfadonho e irrelevante.
Segundo, os líderes já introduziram muitas modificações ao culto público em nome do evangelismo. Uma paixão pelo evangelismo vem sendo de longa data um interesse central dos evangélicos. Então torna-se irresistível o argumento de que os novos elementos de culto ( quer sejam drama, dança ou louvorzão - ou mesmo uma ordem de culto planejada especialmente para os interessados) vão cooperar para o evangelismo e crescimento da igreja. As mudanças são feitas, aconteça ou não a verdadeira evangelização.
Terceiro, as mudanças tornaram o culto bem mais interessante e atraente para muitos. Numa cultura em que são poderosas e quase onipresentes as imagens da televisão e do cinema, novos usos dos recursos visuais têm grande apelo. Numa cultura em que são variadas e profissionais as músicas, CD e fitas cassete, os evangélicos da nossa cultura estão acostumados a receber entretenimento. A igreja tradicional - com palavreado, ritmo lento e música antiga - parece entediante e enfadonha. As mudanças parecem trazer a vitalidade de volta ao culto.
Quarto, essas mudanças representam uma aceleração e ampliação de mudanças que vêm ocorrendo no culto evangélico nos últimos duzentos anos. A ascensão do avivalismo, especialmente, como forma dominante do evangelicalismo na Amérca do Norte do século 19, atingiu em cheio o Brasil e Europa, estabelecendo tendências no culto que culminaram naquilo que vemos hoje. - O apelo para ir à frente ficou sendo o novo elemento em muitos cultos. Sermões se tornaram, com frequência, sobretudo evangelísticos. A desconfiança mantida com respeito ao clero profissional e à instrução formal incentivou o aparecimento de pregadores leigos, dos quais Dwight L. Moody foi o mais conhecido. Na música, os Salmos foram substituídos pelos hinos de Watts e Wesley, e estes, por sua vez, deram lugar a cânticos avivalistas, cuja qualidade parece ter declinado cada vez mais em seu conteúdo teológico, forma poética e música. Momentos de música e show, substituíram, por vezes, o culto de adoração. Música especial cantada em play back e corinhos renovados tornaram-se importantes para criar a atmosfera do culto. Bill Sunday, 1914, registra sobre suas reuniões: " A introdução do culto é feita por cerca de meia hora a uma hora dessa música variada. Quando o próprio evangelista está pronto para pregar, a multidão já foi levada a um entusiasmo e fervor que a torna receptiva à sua mensagem".
Quinto, os evangélicos não levaram em consideração quantas mudanças contemporâneas no culto eles tomaram emprestado das igrejas pentecostais ou carismáticas: o estilo espontâneo, a liderança múltipla, a expressão espontânea de pensamentos e sentimentos individuais, o tipo da música e o dramático. Muitas dessas mudanças se apóiam sobre teologias carismáticas de espiritualidade, culto e ministério.
Sexto, a pronta aceitação dessa mudanças mostra o quanto os evangélicos se acomodadram à cultura moderna. As mudanças todas parecem naturais numa cultura que tende a ser democratizada, antiintelectual, pragmática e optimista. Numa cultura democratizada e individualista, parece ser completamente apropriado cada menbro da igreja ser capaz de liderar o culto e cada um encontrar formas de culto e música que o atraiam e satisfaçam. Numa cultura antiintelectual e pragmática, irão parecer mais apropriadas as formas de culto que mais apelam às emoções do que à mente, as que são imediatamente acessíveis e que atraem o povo, e não as que apresentam um desafio ou que são disciplinadas. O entretenimento substitui a edificação. Como D.G.Hart o expressou num artigo chamado "O Culto Evangélico Pós-Moderno":"na verdade, o culto contemporâneo - e a vida da igreja, pode-se dizer - depende cada vez mais dos produtos modernos da cultura popular... Em lugar de ganhar maturidade e adoptar a gama mais ampla de experências que caracteriza a idade adulta, os evangélicos... querem recuperar e perpetuar as experências da adolescência". Numa cultura optimista, as igrejas presumem que muitos já estão buscando a Deus e que a mensagem do peado, juízo e inferno deve ficar em surdina.(Continua)

Um comentário:

Anônimo disse...

subscrevo...
fernanda

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